Uma jovem pobre (Lily James) que, durante uma viagem na companhia de sua patroa, conhece um viúvo rico. Os dois vivem uma paixão intensa durante algumas semanas. Ao final desse período, sua patroa retorna e deve levá-la junto. Triste por ter que se despedir de Maxim (Armie Hammer) e nunca mais vê-lo, ela o procura e conta sobre sua partida. Os dois, muito apaixonados, decidem se casar. Tudo parece um sonho! O amor que sentem um pelo outro, a vida próspera que espera por ela, uma casa grande e bonita para viver esse romance. Tudo é muito empolgante nesses primeiros minutos de narrativa. As coisas começam a mudar a partir da chegada dos recém-casados à mansão em Manderley.
Tudo é grandioso e muito bonito: muitos cômodos, muitos empregados. Bem diferente do que a jovem moça, então esposa, estava acostumada. Logo percebemos a dificuldade da Sra. de Winter para adaptar-se à nova realidade. E junto dela experimentamos esse desconforto. Há muito mistério em torno da esposa morta de Maxim. Todos os empregados falam muito bem dela, especialmente a governanta da casa, Sra. Danvers (Kristin Scott Thomas). Há vários objetos marcados com suas iniciais, o quarto permanece arrumado como ela gostava. Assim, apesar de não estar viva, Rebecca está presente na casa. Isso contribui para a sensação de deslocamento experimentada pela nova Sra. de Winter, cujo nome sequer é revelado, aumentando ainda mais sua pouca importância frente à Rebecca.
Ao mesmo tempo, Maxim parece ficar mais distante. Assim, é perceptível a mudança de personalidade desse homem, quando começou o romance com a nova esposa enquanto ainda viajavam e após se mudarem para a mansão. A mansão representa a vida antiga de Maxim e Rebecca. Carrega vários objetos seus, apesar de sua morte. E tudo segue as mesmas ordens, especialmente orientadas pela Sra. Danvers, uma vez que Maxim não para em casa. Manderley é quase outro personagem. É de um tamanho sem propósito e muita suntuosidade. Fica evidente que representa muito mais à esposa falecida, Rebecca, apaixonada pela vida abastada e extravagante que possuía, que a Maxim. E a nova Sra. de Winter igualmente não se identifica.
O filme produzido pela Netflix, com direção de Ben Wheatley, é uma regravação do filme então dirigido por Alfred Hitchcock de 1940, adaptado do livro de mesmo nome, de Daphne du Maurier. O remake é, na maior parte, fiel à obra anterior. A duração é quase a mesma, há muitas cenas e diálogos exatamente iguais. Mas no filme de 2020, há cenas que não entraram. Cenas que no primeiro filme, mostravam um pouco mais da relação de Maxim e a nova esposa. Assim, sua mudança não parecia tão brusca. O Maxim do filme de Hitchcock, interpretado por Laurence Olivier era até um pouco mais simpático se comparado ao interpretado por Armie Hammer. E a Sra. de Winter era mais ingênua na interpretação de Joan Fontaine. Lily James interpreta uma esposa, eu diria, mais moderna. Ela parece mais intrigada com o mistério em torno de Rebecca e mais ativa em relação à busca por informações. Aparentemente o diretor fez aqui uma opção por torná-la mais proativa em relação à trama. Ela é curiosa, questiona, investiga. E quando acreditamos que se dará por vencida devido às circunstâncias de seu casamento, se mostra ainda mais próxima de seu marido. Wheatley também opta por encerrar o filme com um final mais tradicional, diferente daquele de 1940.
Em relação ao gênero suspense, o primeiro filme tem muito mais força. Com Hitchcock não poderia ser diferente! Não à toa ganhou o Oscar de melhor fotografia em preto e branco. É ela a maior responsável pela sensação de apreensão no espectador. Os ambientes pouco iluminados, à luz de velas, espaços com profundidade e vazios, características que contribuem diretamente para a construção do medo. Além da trilha sonora, claro! A combinação desses dois aspectos é fundamental para nos fazer imergir nessa trama de mistério. E estar o tempo todo com a Sra. de Winter, desejando saber o que aconteceu nessa casa, o que houve entre esse casal e se Maxim não é nada daquilo que ela conheceu e por quem se apaixonou. Aspectos não tão fortes no filme de 2020. O que não se pode negar é que em ambos os filmes, a protagonista feminina (Sra de Winter) faz bem o papel da segunda esposa, sempre comparada à primeira, vista como inferior e insuficiente. Tanto Joan Fontaine, quanto Lily James trazem credibilidade em suas atuações.
Para quem assistiu à primeira obra, é inevitável comparar. Rebecca – A Mulher Inesquecível (2020) de Ben Wheatley, é completo, não deixa a desejar, os atores que interpretam os protagonistas funcionam bem juntos, é esteticamente bonito e tem um bom roteiro. Mas é preciso que o público goste desse gênero que une romance e suspense psicológico, pois se esperar apenas romance ou apenas suspense, de fato irá se frustrar. E se você viu esse filme, gostando ou não, indico que assista ao filme original. Porque Hitchcock é sempre muito bom!
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Bacharela em Cinema e audiovisual, adora maratonar séries e salvar vários filmes na lista da Netflix. Ama filmes clássicos e estórias com reflexões profundas. Às vezes escreve sobre audiovisual!