Homem-Aranha 3 – O desequilíbrio da responsabilidade

Franquias. Há algo muito interessante e saboroso no seu início, mas, enquanto ainda degustamos, surge o gosto amargo, fazendo o que estava bom se perder. Usemos como exemplo o nicho do terror e seus subgêneros: sobrenatural, found footage, o teen, o trash, mas ficamos, então, com o slasher. O auge se deu na década de 80, e ainda no seu final para os primórdios dos anos 90, já encontrava o desgaste, e grandes sagas surgidas durante a formação dividia com o público sentimentos de fascínio e gastura – como os capítulos de Halloween: A Noite do Terror (Halloween, 1978) e Sexta-Feira 13 (Friday 13th, 1981). O que isso tem a ver com a Marvel é o ponto de declínio em comum que franquias conseguem se estragar. Se no começo, Sam Raimi despontava com carisma na primeira aventura do aracnídeo, na sequência, deitou em flores pela evolução inesquecível da produção do Aranha nos cinemas, em Homem-Aranha 3 (Spider-Man 3, 2007), deu-se o desequilíbrio da responsabilidade.

A história desse duro adeus, já conhecemos. E apesar da alta parcela de rejeição, previam, e até tentaram por tempos, realizar um quarto filme, mas o mesmo peso que confundiu um bom desenvolvimento na terceira sequela, investiu até a desistência, e da desistência – no silencioso papo na mesa dos executivos – nascer um reboot – que já é outra conversa complicada. Quando digo que o Aranha Humana 3 foi vencido pelo desequilíbrio da responsabilidade, me refiro ao excesso de querer fazer tantas coisas, sem ponderar sobre uma trama mais contida, que coubesse na concepção e fizesse jus ao domínio excepcional do segundo longa.

Com acertos e erros, ao menos, nos dois primeiros filmes, a construção de Peter (Tobey Maguire)  e vilões da trama, foram pontos que mais destacaram, por se ter ali uma visão bastante clara para se conceber seus contrastes. Na produção de 2002, a montagem foi um fator inegável de problemas, mas ainda assim, Norman Osborn (Willem Dafoe) e Parker exalavam característica e carisma, e as falas do Duende Verde, roubavam a cena. Já Alfred Molina se superou na pele do Dr. Octopus. Então, chegar em 2007 com tantas expectativas a partir de onde o enredo tinha nos deixado e ser nocauteado pela apresentação de três vilões em menos de vinte minutos de filme, apontava, ali, o tiro no pé e a principal inconsistência que definiria a película.

Harry (James Franco) abraçando a vingança e vilania, Marko (Thomas Haden Church) se tornando o Homem-Areia e a chegada da simbiose. Tantos para enfrentar, enquanto estava seguro do romance esperado que vivia com Mary Jane (Kirsten Dunst). A derrapada não está na questão de trazer tais aspectos para serem trabalhados, e sim na forma que foi executado – nem a montagem de Homem-Aranha foi tão infeliz nessa função. Aqui, ao tempo que não encontrou um ponto certo para desembolar com ritmo a sua proposta, a abordagem do enredo se perde no surgimento da vilania e em construir a decadência do herói ao parecer tão caricato no caminho. 

E é isso que o excesso das emoções fazem. Peter estava tão feliz pelos holofotes que não percebeu o passo em falso que deu contra o relacionamento que demorou a conquistar ao lado de MJ, e nisso, a envergonhou e desfez de maneira imatura e egoísta dos momentos chaves que marcaram o florescer do que nutriam. Engatinhando ainda mais para sua decadência, o ódio, motivado por uma nova informação do caso do seu tio Ben. Colapsando tudo, a simbiose surgiu expulsando toda essa exaltação numa persona emo, ainda mais desengonçada, de Tobey e seu Peter – relembre aí a cena icônica  dele dançando de terno preto -, atitudes mesquinhas, escrotas e flertes cafonas. O resultado foi cômico, mas coerente com o estilo apresentado do personagem nas telonas.

Porém, a simbiose não tinha acabado, e ainda restava o arco que intensificaria a Eddie Brock (Topher Grace). Tudo estava lá, mas novamente, a execução e o péssimo desenvolvimento desperdiçou o que poderia ter sido melhor trabalhado. Assim, os incríveis efeitos visuais aplicados nas sequências de ação, e de forma encantadora no Homem-Areia – a união dele e Venom só pioraram o caso -, não conseguiram compensar o que um roteiro pobre tinha a dizer aos mancos. 

No fim, as consequências do ego e a lição de redenção do herói não pôde salvar o filme de receber um misto de aceitação e negação. Não sabíamos no momento, mas foi no melancólico último frame que Sam Raimi e seu Homem-Aranha não iria mais se consolidar.


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