His Dark Materials: Fronteiras do Universo – 2×01: The City of Magpies

Acho que para todos os fãs da trilogia Fronteiras do Universo é incrível poder ver finalmente o segundo livro, A Faca Sutil ser adaptado. Eu estou relendo os livros conforme a série é lançada, de muita coisa eu não lembrava, mas lembro que na época em que li, este tinha sido o meu livro favorito, e agora, na sua releitura, isso tem se mostrado verdade. Sim, eu sou a chata que compara o livro com a série, mas vou separar um momento no final desses textos semanais para entrar nisso, assim, quem não quiser esse tipo de comparação pode fugir dela.

Relembrando para os mais esquecides, no final da primeira temporada de His Dark Materials (2019 – ) nossa protagonista Lyra (Dafne Keen) e seu daemon Pantalaimon (Kit Connor) atravessaram uma porta para outro mundo que foi aberta por seu pai, Lorde Asriel (James McAvoy), mas que custou a vida de seu melhor amigo Roger (Lewin Lloyd) e sua daemon Salcília. Enquanto nosso misterioso Will (Amir Wilson) atravessa uma janela também para outro mundo.

O episódio, escrito por Jack Thorne e dirigido por Jamie Childs, que trabalharam na primeira temporada, é um começo bom e que mostra que a série pode corrigir alguns defeitos da primeira. Se mantém fiel ao livro, mas não acerta em tudo. De um modo geral o capítulo é um clássico episódio de set up. São estabelecidos onde estão nossas personagens já conhecidas, apresentadas as novas, o que pretendem fazer nessa temporada e por onde vão começar.

Todo o elenco se sai muito bem, Dafne Keen continua muito bem em sua Lyra, que é diferente da dos livros de diversos modos, é muito bom finalmente ver o Will de Amir Wilson interagir com a outra protagonista, assim como rever o Lee de Lin-Manuel Miranda e Jade Anouka surpreende com sua arrebatadora Ruta Skadi. E claro que a Sra. Coulter de Ruth Wilson dispensa apresentações. Além de Anouka, quem também se destaca nesse início é a Angélica de Bella Ramsey, que eu sinto que vai ter um papel maior do que nos livros.

Um aviso para os que assistem a série dublada, é que algumas vozes mudaram, por exemplo, João Victor Granja, que foi substituído por Yan Gesteira como Pan, um dublador igualmente competente, assim como as outras vozes substituídas. Não sei ao certo o motivo disso, mas alguns dubladores comentaram em suas redes sociais que a HBO não estava aceitando dublagens em homestudio, feitas em casa, e nem todes estavam aceitando sair de casa por conta da pandemia. TALVEZ essa seja a razão, mas não posso afirmar com certeza.

Tecnicamente o episódio é incrível, assim como toda a temporada anterior, especialmente na direção de arte. O visual de Citagazze ficou igualmente parecido e diferente, tanto com o mundo de Will/o nosso, quanto com o de Lyra e Pan, mas ainda mantendo um visual de cidade litorânea no interior da Europa.

A construção da amizade de Lyra e Pan com Will é o maior foco do episódio. Os dois começam desconfiados e incertos, afinal, ambos estão fugindo de pessoas perigosas e passaram por experiências traumáticas, mas constroem uma relação ao longo dos minutos, inclusive com Will se ligando mais facilmente com Pan do que com Lyra, maravilhoso demais de se observar, já que o garoto se liga mais fácil com a alma da garota do que com ela mesma.

Lyra fica com um papel de protagonista mais forte e Will de coadjuvante, mas seria bom para todo o andamento da temporada se isso se equilibrasse com o tempo e até mesmo se invertesse às vezes, já que as diferenças entre os dois estão mais do que claras em poucos minutos. Lyra é impulsiva e inconsequente enquanto Will é racional e certinho.

As crianças cumprem bem seu papel de nos apresentar Citagazze e de cara somos introduzides aos Espectros e até mesmo o que eles fazem com as pessoas, algo até pior do que ser separade de seu daemon, sua vida inteira é sugada e você se torna uma espécie de zumbi, que nada quer e nada busca, mas só se você for adulto. E ao que parece Will está bem perto de se tornar. No núcleo das feiticeiras descobrimos pouco sobre o que elas pretendem fazer, mas somos apresentades a Ruta Skadi, uma rainha, assim como Serafina Pekkala, mas muito mais combatente e militar, encarando até mesmo uma nave cheia de membros do Magisterium sozinha para acabar com o sofrimento de um companheira.

Foi explicado também algo que eu tinha ficado na dúvida, ou esqueci, que era a questão dos galhos de pinheiro das feiticeiras, que elas usam para voar. Na casa do cônsul, sabemos que eles existem e é pedido que Lyra até mesmo descobrisse qual era o de Serafina, mas quando as feiticeiras aparecem estão de mãos vazias e isso não parecia fazer sentido, mas agora sabemos que os galhos estão no corpo delas, abaixo da pele, mudança que achei muito bem pensada.

Sra. Coulter está manipulando o Magisterium a seu bel prazer, para quê, ainda não é certo, apesar de ela querer encontrar a filha, será esse seu único objetivo? Porém esse núcleo parece se apoiar apenas na personagem, perto de todo o resto que está acontecendo sua trama parece sem graça. 

Quanto aos daemons, que não foram tão explorados como deveriam na primeira temporada, parecem estar seguindo um caminho melhor. Eles ainda somem algumas vezes, mas muito do episódio foi investido em Pan funcionando como os pensamentos ou a consciência de Lyra e com uma instigante conversa entre os daemons de Serafina e Ruta, algo que não havia acontecido muito até agora.

Agora, com Will sendo nossa voz na série, várias dúvidas sobre os daemons são tiradas e esclarecidas, coisa que não é necessária nos livros, pois passamos muito tempo na cabeça de Lyra e ela nos explica tudo, mas isso fazia falta na série e não tinha como ser encaixado até então.

Mas como em Citagazze não existem daemons, Pan precisa ficar escondido e aí o episódio cai em algumas coisas mal pensadas. Em uma cena Pan aparece em cima de uma casa, bem longe de Lyra, mas está tudo bem, enquanto na primeira temporada a Sra. Coulter, afastada de seu macaco por um corredor, já era motivo de espanto, qual o critério da distância afinal? Ele também diz que não vai se esconder, mas vai precisar. Então não faz sentido ele se esconder afastado da garota, em cima de prédios e etc, e se não houver lugar para se esconder? Não seria mais fácil assumir a forma de um animal pequeno e ficar junto de Lyra, como a daemon de Boreal faz?

Momento comparação com o livro!

A maior parte das mudanças é bem-vinda, faz sentido com o que a série vem construindo e serve muito bem para agregar a narrativa.

No livro, conhecemos a história de Will apenas agora, mas sua vida antes de ir para Citagazze já foi mostrada na primeira temporada, o que pessoalmente acho interessante, mas não foi dado o devido destaque para ela, fica difícil de lembrar até porque ele estava fugindo. Também é Will quem encontra Lyra há três dias em Citagazze, a situação é invertida para dar um ar maior de protagonista para Lyra, que também depende excessivamente do aletiômetro, a única coisa em que ela confia, mas a Lyra da série além de mais velha é mais desconfiada e depois de ser traída por ambos os pais, não confia mais em ninguém, ao contrário da do livro que continua inocente e aberta a confiar em qualquer um.

Originalmente quem acaba com o sofrimento da feiticeira sequestrada é Serafina, em um capítulo longo e lento onde vemos Sra. Coulter e os membros do Magisterium discutindo, porque não a acompanhamos na leitura. A mudança desse momento para ser protagonizado por Ruta, apesar de ter sido rápido, ficou muito empolgante e bom para a construção da personagem.

A mudança que mais me agradou foi o amadurecimento dos diálogos, pois os personagens são alguns anos mais velhos do que suas contrapartes nos livros e aqueles diálogos infantis não fariam muito sentido.

Fora isso, Paola na verdade era Paolo, o que não muda nada, mas a falta de explicação das crianças do porque não gostam de gatos e terem mudado Pan, se transformado em um grande felino para assustá-las para uma outro animal (um carcaju talvez?), fez falta, tira inclusive o impacto do susto delas. 

De modo geral o episódio é bom e fiel ao material original, dando mais dinamismo e ainda nos deixando curioses, algo difícil que precisa ser bem dosado, já que, desde e a primeira temporada, o roteiro tenta já dar pistas do plot principal, sendo inclusive um dos maiores segredos que é Stanilaus Grumman ser John Parry, revelado já no começo da série. O roteiro precisa ser cuidadoso para não nos perder, mas, por enquanto, fica uma curiosidade para saber como vai ser a visita de Lyra ao nosso mundo.


VEJA TAMBÉM

His Dark Materials – Uma promessa bonita demais