A história de um homem nordestino que há tempos se afasta de suas origens pela necessidade do emprego, encontrando seu (sub) sustento numa fábrica de leite localizada numa colônia austríaca no sul do Brasil. Entre preconceitos e descasos, objetos brotam numa casa abandonada que remetem a lembranças de suas raízes.
Os atributos técnicos do filme merecem aplausos, pois demonstram uma ótima direção de arte nos cenários apresentados (indústria, campo, bar), seguram boas cenas, deixam as imagens respirarem seu ar dramático (mesmo com seus exaustos zooms-dentro). São esses elementos técnicos que ajudam a enaltecer a opulenta atuação de Antônio Pitanga e seu trágico Cristovam.
Faltou o roteiro também cumprir essa função.
Entre os claros discursos contra o fascismo, o racismo, o eurocentrismo racionalista colonizador refletidas dentro do cenário do filme que conversam com a realidade, o filme não se faz crescer como linguagem. Não acompanha a grandeza que Cristovam pode ser dentro de sua melancolia e o poder que reside em sua negritude. Quando o protagonista começa a ter acesso aos objetos da casa abandonada, falta o gosto do ponto de virada que uma boa história tem. Para isso, carece em abraçar seus signos, ser mais audacioso no cerne dos símbolos mesmo que ladeasse a fantasia.
Em muitos momentos, o filme grita por respirar mais dos signos presentes (como o famoso boi negro de estrela na testa, tão rica na tradição bumbá do Maranhão, símbolo Sebastianista Nordestino e mais famoso por parecer o Boi Caprichoso de Parintins. Este último, sendo o boi mais antigo do festival e originado dos irmãos Cid, do Crato/CE).
Toda essa escassez ou escolhas infelizes nos dão a impressão que todos os atos do Cristovam são justificados, deixando escoar causas e efeitos dentro de temas importantes que o filme se propõe de início.
Casa de Antiguidades (2020) é um filme que não deixa suas antiguidades exclamarem por si ou através do protagonista. E quando nem o silêncio conversa como poderia, é o ponto de partida pra mensagem tresandar.
(O filme participa da 44ª Mostra Internacional de Cinema São Paulo: https://44.mostra.org Também disponível ingressos para exibição on-line no site: https://www.belasartesalacarte.com.br )
VEJA TAMBÉM
Sertânia – Aproveita o farelo e não desperdiça o fubá
Bacurau – O Brasil de ontem, de hoje, de sempre
Passolargo é um nordestino armorial. Escritor, produtor de conteúdo, anticoach fuleragem profissional. É o rei dos memes, não pode ver uma rede que já quer deitar, um brega funk que já quer dançar e é o maior fã de Harry Potter que você vai conhecer (embora ele não assuma). O cinéfilo local mais arengueiro da internet.