Décimo quarto episódio, a antepenúltima etapa antes do fim. Obviamente, o público sabe disso, mas será que os roteiristas de The 100 se davam conta enquanto escreviam para última temporada da série? Parece que não. Comparando os pontos questionáveis no 7×13, A Sort of Homecoming melhorou bastante, mas ainda manteve um pouco dos incômodos vistos anteriormente. E antes de partimos para nossa análise, farei outra pergunta: The 100 tem avançando de alguma forma? Pois o sentimento aqui, no 7×14, é de que permanecemos andando em círculos.
Retomando a cena de Clarke (Eliza Taylor) em lágrimas ao entrar na ponte da pedra após matar Bellamy (Bob Morley), é assim que começamos esse episódio, para em seguida ela perceber para onde foi levada: para Terra, ao bunker do Second Dawn, e o mesmo cenário marcado pela liderança de Blodreina. Mas como? Como a Terra estálestá e habitável novamente? Talvez a resposta venha semana que vem ou, sem pressa nenhuma, no capítulo final (ou nem vamos ter explicação visto que a temporada está aos mancos) contudo, o roteiro assinado por Sean Crouch não estava focado nesse detalhe, e sim, em refletir a trajetória dos personagens, o momento de calmaria antes da guerra. Na teoria, tudo belo, na prática, mais mesmice para uma temporada que tem surpreendido em decepcionar.
Uma espécie de volta ao lar é o que se resume a lógica por trás do título, visto que, apesar da chance de voltarem a Terra, o lugar onde uma nova jornada se iniciou, não é mais a mesma coisa. Estão quebrados, desesperados, lutando e perdendo cada mais a guerra que é sobreviver. Junto disso, as lembranças são inevitáveis, principalmente para Octavia (Marie Avgeropoulos), que encontra dificuldades para adentrar ao bunker. E foi bem poético os personagens ensaiarem tal calmaria, mas a paz tem seu preço.
Minha aposta (e acredito que de muitos também) foi de uma reação raivosa de Echo (Tasya Teles) e da sister Blake quando Clarke contasse sobre seus últimos segundos com Bellamy, mas para minha surpresa, ela relatou tudo abertamente para todos os que estavam presentes. Certo. O clima foi de consolo, porém, cadê a coerência na forma que a ex-espiã de Azgeda aceitou a morte do seu amado? Para Bloidrena, cabe aqui uma compreensão pela busca de redenção que vem sido desenvolvida desde a temporada passada, mas ainda assim, a sua frase “o antigo Bellamy entenderia” não compensa já que todos passaram pela fase de ter seus vacilos perdoados. Com Echo, a coisa se mostrou pior, haja visto os momentos de ódio e revolta onde quis vingança pela suposta morte de Bellamy, e depois, o descontentamento por quem Bell se transformara. Entretanto, aceitar com um “o perdemos há muito tempo” soou mais comodismo, uma vez que a m**rd* foi feita. Então, esqueceram de lutar um pelo outro?
Ao menos a direção de Jessica Harmon (nossa Niylah) foi primorosa na cena, ao escolher um plano aberto, abrangendo a sensação de desconforto de Clarke ao assumir o que fez, assim como seu medo do julgamento, capturando todos presentes e suas reações contidas e emocionadas, e, aparentemente, Wanheda foi absolvida da culpa. Mas foi com Clarke tomando outra decisão ao quebrar o capacete que os ruídos de emoções começaram a se revelar: nem todos estavam bem pela perda de Bellamy, e por ela se desfazer da forma de viajarem para outro planeta, e nisso, deixando para trás as pessoas em Sanctum. O que foi ótimo. Murphy nessa excelente fase de empatia pedindo a Raven (Lindsey Morgan) para consertar o capacete; Miller (com duas ou três frases) murmurando com Jackson sobre não conseguir conversar com Bell; e o ponto alto, Madi (Lola Flanery) indo contra Clarke sacrificar tanto para protegê-la de Bill.
Mas como disse, The 100 está andando em círculos. Jessica conseguiu criar uma atmosfera eficiente alternando o suspense, drama e ação na transição entre a chegada de Clarke até quando Sheidheda (JR Bourne) passeou invisível pelos níveis do bunker caçando Madi. Contudo, depois de tanto os Discípulos usarem essa tática no episódio passado, ou na vez que Raven matou mais gente do que achava ser capaz (no 7×03) ou quando a amizade de Gabriel, Octavia e Diyoza começou a ser a construída na temporada passada (quando enfrentaram os Discípulos pela primeira vez), ninguém pensou que entraram no bunker, se ocultando com o traje, após a ponte da pedra ser fechada? Nem mesmo na fala de Indra (Adina Porter), afirmando sentir que alguém entrou, seguiram o raciocínio!
A consequência foi mais outra boapboa de JR Bourne, somando a despedida perversa de mais um personagem querido, e depois o fim na volta no círculo: quantas vezes Indra já disse que a luta de Sheidheda acabou? A cena dela e de Gaia (Tati Gabrielle) lutando contra o Dark Commander foi ótima, mais repetitiva. E foi só com Madi se entregando para Bill que o desenho ficou claro aqui: enrolaram demasiadamente em Sanctum para poupar Sheidheda para a guerra final, tudo isso porque há mistério no seu conflito com Madi. Ou, o suspense é porque ela não é chave e ele omitiu tal essa informação para negociar com Bill?
A Sort of Homecoming teve uma direção equilibrada de Jessica, repleto de momentos pontuais, mas também, ora e outra retornando para bater na mesma tecla com o principal problema desta temporada: conveniência, incoerência e enrolação.
Últimos comentários:
100: então, finalmente Gaia deu as caras. Mas depois de tanto mistério, a explicação foi simples: quando não se direciona um destino, a pedra assemelha o DNA do seu viajante e o lança para o local de origem. Nesse caso, a Terra.
99: como em The Queen’s Gambit, os personagens foram divididos para terem seus momentos dramáticos em pauta. Indra e Octavia soou bem mais coerente na conversa, mas Gaia e Indra precisavam mesmo da conversa vaga das expectativas que a mãe tinha sobre a filha?
98: é, Jason Rothenberg quer brincar mesmo de matar Emori e Murphy com aquela cena final.
96: zero surpresas. Bellamy foi morto por causa do caderno, os Discípulos que ficaram em Sanctum o levaram para Bardo e Bill poupou Sheidheda para saber do que se tratava. Ponto para a falta de coerência, para a previsibilidade e facilitação do roteiro.
96: conseguirá The 100 ter um final digno ou só prometer uma guerra que não vai dar em nada?
Ama ouvir músicas, e especialmente, não cansa de ouvir Unkle Bob. Por mais que critique, é sempre atraído por filmes de terror massacrados. Sua capacidade de assistir a tanto conteúdo aleatório surpreende a ele mesmo, e ainda que tenha a procrastinação sempre por perto, talvez escrevendo seja o seu momento que mais se arrisca.