Amor e Sorte – Episódio 2: Linha de Raciocínio – A efetividade das escolhas

 

No segundo episódio da minissérie da Rede Globo Amor e Sorte (2020 -), onde acompanhamos as aventuras e desventuras de pessoas comuns neste período de confinamento que estamos vivendo, pudemos ver algo completamente diferente do que havíamos assistido em seu episódio de estreia, e, mesmo que a série já houvesse se vendido como uma antologia, com personagens e histórias diferentes em cada um dos quatro capítulos que terá, foi estranho se adaptar à mudança brusca de formato neste segundo. Com apenas 20 minutos de duração (diferente dos 45 do primeiro episódio), Linha de Raciocínio nos entrega uma esquete de humor ligeiramente simples, quase um episódio de uma sitcom, ambientada em um único cenário fechado, com diálogos teatralizados entre apenas dois personagens.

Desta vez assistimos um dia no relacionamento do casal Cadú (Lázaro Ramos) e Tabata (Taís Araújo), o primeiro desejoso de exercer sua obrigação cível de lutar pelo país participando de um dos tradicionais panelaços que pipocaram nos primeiros meses da pandemia, enquanto a segunda já se encontra de saco cheio de tudo aquilo e não vê motivo para perder seu tempo num ato que acredita não trará nenhuma mudança minimamente significativa que seja. Logo Cadú se vê indignado pela recusa de sua companheira em participar de tamanho movimento e daí se inicia a discussão que permeará todo o episódio.

A premissa de trazer um debate efetivamente político para a série, diferente de seu antecessor muito mais pautado em relações afetivas pessoais, parecia ótima e poderia gerar um capítulo que além de bem humorado traria uma certa reflexão para quem assiste. Afinal, o quanto bater panela pode fazer alguma diferença na conjuntura política caótica que nosso país está passando? É algo que certamente já nos perguntamos nos últimos meses, e é uma dúvida que tem um bom potencial de autocrítica quanto a nossa participação como cidadãos em qualquer eventual mudança que desejamos (e como desejamos). Entretanto – e infelizmente -, os diálogos acabam se perdendo em um humor pseudointelectual que, de fato, até convém àquele casal, aparentemente de uma classe média alta de algum bairro mais ou menos nobre de sei lá onde pelo Brasil. E não ajuda o fato de ambos serem personagens chatos, o que não deveria, necessariamente ser algo ruim, podendo até mesmo ser um ótimo recurso para o andamento do humor no episódio, mas acabamos perdendo completamente o interesse naquela debate infundado e nem mesmo a graça nas tentativas de um convencer ao outro ou não da importância ou não daquele ato perdem o significado, já que a conversa poderia ser sobre, sei lá, se o melhor sabor de miojo é galinha caipira ou tomate.

Pode parecer que eu mesmo esteja me esforçando para ser chato demais com o episódio, mas não dá pra não ficar triste com o desperdício de carisma que um casal como Lázaro Ramos e Taís Araújo já emanam quase que naturalmente. Tudo bem que pode ser ótimo o desafio de sair do que esperamos do casal de atores, mas filmar sozinhos em casa, com a ajuda apenas de uma equipe a distância e contando apenas com o espaço da própria residência já não é desafio o bastante? Imagino a dificuldade que não foi transformar Lázaro no sujeito metido a progressista mais insuportável da face da Terra, e o pior de tudo, fazer o casal perder a química de quando sempre os vemos juntos na “vida real”. Talvez eu só esteja decepcionado com a expectativa que eu mesmo criei, mas esses personagens e esse roteiro realmente não me convenceram.

E quando percebi que o roteiro era de Alexandre Machado muita coisa começou a se encaixar e comecei a pensar se ele não era apenas uma tentativa de emular e modernizar o casal Rui (Luiz Fernando Guimarães) e Vani (Fernanda Torres) da série Os Normais (2001 – 2003), onde também foi roteirista. Pra completar a direção, que manualmente foi do próprio Lázaro, sem nenhuma experiência anterior na área, foi feita com auxílio remoto de uma equipe técnica veterana e experiente, de modo que a falta de prática do ator não justifica as escolhas esdrúxulas e sem motivo que esta equipe fez em alguns planos do episódio, especialmente os de câmera na mão. Isso não estraga o episódio como um todo, mas foi algo que a todo momento me tirou da história para pensar no processo da produção.  Os minutos finais do episódio, onde rapidamente vemos os bastidores, além daquele carisma inerente do casal Lázaro e Taís que mencionei acima, acabam sendo o melhor que o episódio conseguiu entregar.

Claro que Linha de Raciocínio se apequenou frente à qualidade fenomenal de seu antecessor Lúcia e Gilda, que elevou imensamente a régua do que esperamos para os outros capítulos da série, mas espero (já correndo o risco de novamente ser vítima da famigerada expectativa) que os outros dois seguintes consigam chegar ao menos próximos da sensibilidade do episódio de estreia.