Cada vez mais próximo do fim, a pergunta volta a surgir: com o que estamos lidando? Para uma série que tem durado seis anos, é consequência lógica dos seus méritos, mas é inegável como a sétima temporada de The 100 (2014-) tem sido estranha – não tão inconsistente como a quarta – pelo rumo narrativo optado. Etherea não foi um episódio ruim, mas irregular, contudo, com outra amostra do que o show consegue explorar através da criatividade, e também, a safra de discussões que a história levanta. Porém, ainda deixa a sensação duvidosa de “para onde estamos indo?”. Como tudo fará sentido sem atropelar o próprio desenvolvimento, e por fim eliminar o sabor agridoce do fim?
Pelos passos do pastor. É essa atribuição definitiva que o décimo primeiro episódio pôde transmitir. De tantos enredos e sacadas, o cânone aqui foi uma dos mais diferenciados do show, e não só em termos narrativos, mas também a respeito da fotografia, ambientação e ritmo encontrado sem parecer suprimir o texto em prol do tempo curto que a emissora permite. Nomeando a empreitada, Etherea corresponde ao planeta ao qual Bellamy (Bob Morley) teria sido jogado com o bardano Condutor,v por Jonathan Scarfe. Bem mais do que agarrar na cena final e rejeitar todo o processo trabalhado, o roteiro de Jeff Vlaming foi ótimo para o histórico exercido da série em debater questões.
Aos longo das temporadas, sem dúvidas, acompanhamos a transformação da sociedade num mundo pós-apocalíptico, e em tal espaço, foi posto como a guerra e as crenças ainda faziam parte e caracterizavam os diferentes povos de diversas formas. O maior exemplo disso é como, para cada povo, a Chama significou algo, contudo, atrelada aos dinamismos da fé e reverência, marcando gerações culturalmente. Um ponto interessante, é como The 100 sempre tratou desses e muitos tópicos de maneira neutra, sem sinalizar nenhuma seta de modo a determinar um entendimento.
Assim, podemos adentrar a jornada de conversão tratada no episódio. Desde o 7×05, Bell não deu as caras, e para compensar, tivemos um arco dedicado para ele. Ao cair em um planeta novo, aparentemente vazio e se deparar com um Condutor (nome dado ao discípulo capacitado para administrar as tecnologias em Bardo) foi um desafio. De um lado, alguém condicionado aos ideais de guerra da Terra, já o bardano, moldado pelos princípios convictos ao pastor que salvou seu povo do fogo e os guiou através das estrelas. A representação aqui não equivale a ateu x cristão (sim, de tantas temáticas discutidas, chegou a vez de nos aproximarmos desses grupos), mas sobre duas pessoas adversas em experiências.
Bellamy, a contar do tempo na Arca, sempre lidou com um regime que forçava sacrifícios em nome da sobrevivência, e na sua evolução, foi traçando guerra para proteger os seus, que encontrou um norte: o laço afetivo é a força que precisam. Nesse estilo, não há nova ameaça que impeçam de estar ali um pelo outro. No pouco da estadia em Bardo, em busca de sua irmã, Bell se deparou com outra cultura a qual foi diretamente envolvido na trajetória em Etherea. O que o Condutor tinha a oferecer era só a credulidade a Bill, enquanto o Blake, apegar-se no elo emocional com seu povo. Desse modo, não foi difícil a exposição das divergências, mas a zona vulnerável era bem onde se encontravam: nos passos do pastor.
Ainda faltam mais informações, mas graças ao desdobramento aqui, entendemos que Bill fez das suas descobertas (de planeta a planeta), um forte que designaria as concepções desse homem salvador que diz não se sentir deus, mas um escolhido. As influências que levaram cada bardano a crer são desconhecidas, mas certamente, foi bolado Bellamy ter sido levado para um planeta onde a croncrugêngia era chegar no topo de uma montanha para acessar a pedra. Foi submeter alguém num teste de transformação deixando o próprio ambiente agir (a Caverna da Ascensão) – e com as palavras do Condutor, claro. Em outras colocações, Bell não tinha por perto quem o confortaria, e a soma do local onde Bill passou mais um crente persistente ao lado, colaborou a mudança de pensamento.
Quando a bomba foi jogada por um discípulo, o Condutor poderia ter escolhido qualquer outro planeta para entrar com Bellamy (um mais fácil de achar a pedra), mas Etherea foi a opção. Ele selecionaria um lugar que o faria subir uma montanha, e no caminho, as chances de sobreviver seriam 50%? Talvez, mas, ou nos acomodamos com a conveniência, ou também lembremos de que Gaia foi levada por um discípulo para a pedra. Seria essa a forma alternativa de recrutamento? Só sei que depois desses acontecimentos, fortalece mais as dúvidas sobre Bill: ele não é alguém melhor coisa nenhuma. Meu palpite é que nas passagens pelos planetas, foi perdendo os seguidores e arranjou outro jeito de ter aliados por perto (com a crença do homem salvador) e por fim, os levar ao apocalipse.
A representação de convicções destoantes estava lindo, mas a marmelada veio no final. Certo que Bellamy se apegou a um meio diferente como bússola, mas foi gratuito e genérico ele informar a Bill as palavras de Clarke. Pela nova fé, se torna inimigo de quem se conviveu e dizia amar há dois meses? Oi? Essa ilustração foi tosca demais.
Com uma aura simbólica e peculiar para a série, Etherea estava consistente no seu retrato, mas derrapou na montanha ao querer impactar demais.
Últimos comentários:
100: bacana mesmo depois de aprendermos a gostar do Bellamy, virem com essa papagaiada. A série já foi melhor que isso. É primeira temporada de novo?
99: quer deixar ainda mais feia a situação, é colocar Gaia como nova discípula – isso depois da mesma revelar em Sanctum que não havia mais Comandante. Dela não duvido cair nessa incoerência, mas dos roteiristas…
98: então Bill disse que a luz que sai da pedra representa sua luz… descarado, já achou a pedra assim.
97: vamos somar de novo. O Condutor para não explodir com Bellamy, escolheu Etherea, sendo que já tinha o código de acesso a ponte para Bardo – olha que fácil, sabia ir e voltar para casa. Imagino, na vez que Bob Morley pediu o afastamento das filmagens, o inseriram nesse plot desperdiçado.
96: os Condutores vestem branco por saberem manejar as tecnologia, já os outros membros, se vestem com a roupa cinza e capacete para combinar com a função de “guardas bardanos”.
95: muita vergonha alheia começar o episódio com Levitt “descobrindo” que Bellamy não estava morto. “Vamos emocionar o público”, pensaram os roteiristas.
94: vi uma imagem de Clarke no m-cap. Falta pouco para Bill tirar a máscara, isso quando descobrir que Madi foi a última a usar a Chama. É agora que Sanctum engrena!
Ama ouvir músicas, e especialmente, não cansa de ouvir Unkle Bob. Por mais que critique, é sempre atraído por filmes de terror massacrados. Sua capacidade de assistir a tanto conteúdo aleatório surpreende a ele mesmo, e ainda que tenha a procrastinação sempre por perto, talvez escrevendo seja o seu momento que mais se arrisca.