Este cantinho da Marvel onde habita Marvel’s Agents of SHILD (2013 – 2020) se chama felicidade, cantinho esse que ficará guardado no coração dos fãs para sempre. Foram sete anos das aventuras lideradas por Coulson (Clark Gregg) e Daisy (Chloe Bennet) que agora termina de forma definitiva depois de quase ser cancelada no final da quinta temporada. Esta série que era o spin off direto de Vingadores (The Avengers, 2012) não só conseguiu sair debaixo da sombra do Universo Cinematográfico da Marvel, como também conseguiu construir ao longo de anos uma mitologia rica e complexa, não só respeitando o que foi estabelecido, mas conseguindo criar algo único, próprio e assim surpreender os expectadores fiéis com ótimas reviravoltas, lutas bacanas, efeitos visuais impecáveis (ainda mais para uma série de TV) e personagens inesquecíveis.
A sétima temporada de Agents of SHIELD estabeleceu que essa seria a última missão de Coulson (agora numa versão mais robótica por assim dizer), Daisy Johnson, May (Ming-Na Wen), Mack (Henry Simmons), Yo Yo (Natalia Cordova-Buckley), Deke (Jeff Ward), Simmons (Elizabeth Henstridge) e Fitz (Iain De Caestecker), então teríamos treze episódios finais para aproveitarmos nossos personagens favoritos uma última vez. Falando de uma forma geral, esta sétima temporada manteve a aura da série e nos proporcionou bons episódios cheios de aventura e ação. Após os eventos do final da sexta temporada, foi estabelecido que a história iria se passar no passado, uma vez que a equipe teve que deslocar até a década de 30 para perseguir os alienígenas denominados Chronnicons, que estão na missão de destruir a SHIELD que conhecemos a qualquer custo.
Ao longo dos episódios, viajamos por várias décadas com a equipe tentando deter esses inimigos que tentavam a todo custo matar algum personagem ligado a história da SHIELD para mudar o curso dos eventos e assim evitar que ela fosse formada no futuro. Sem entrar em muitos detalhes para não estragar surpresas, chegamos ao desfecho desta trama nos episódios The End Is At Hand (7×12) e What We’re Fighting For (7×13) que tinham como missão finalizar a história da temporada e ainda dar um fim digno para os membros da equipe.
Toda a trama de perseguição através do tempo percorrendo décadas e mais décadas agora estava no seu ponto definitivo, em resumo Agents of SHIELD estabeleceu as regras numa linha do tempo diferente daquela que conhecemos no Universo Cinematográfico da Marvel, criando a sua própria linha do tempo que foi se separando cada vez mais ao longo de suas temporadas até chegar neste ponto aqui. Então a trama dos dois últimos episódios se resumia em deter os vilões Nathaniel Mallick (Thomas E. Sullivan) e os robóticos Chronnicons, além de restabelecer os personagens que até aquele ponto estavam deslocado no tempo numa realidade paralela, para a realidade que conheciam antes dos eventos do final da sexta temporada.
Uma série como “SHIELD”, requer paciência e atenção, ainda mais nesta última temporada que tem mais em comum com a trama de Vingadores: Ultimato (Avengers: Endgame, 2019) do que a gente imagina. Toda esta trama de linha do tempo paralela parece confusa, mas não é, e isto fica mais claro no penúltimo episódio da temporada, quando o grupo descobre que os chronnicons destruíram todas as sedes da SHIELD (incluindo o Triskelion em Washington visto em Capitão América: O Soldado Invernal) graças a ajuda do detestável Nathaniel Mallick.
O plano dos chronnicons era achar o paradeiro de Fitz, que era o único link desaparecido do grupo capaz de destruí-los no passado. Toda a trama montada ao longo da temporada, começa a fazer sentido aqui, enquanto Mack, Sousa (Enver Gjokaj) (aquele mesmo da série Agent Carter) e Daisy partem para uma missão para resgatar Deke e Simmons capturados por Mallick na nave roubada da SHIELD, May, Coulson e Yo Yo permanecem na instalação “Lighthouse” dando um suporte interno. O roteiro escrito por Jeffrey Bell começa a focar na relação dos personagens, deixando um elo emocional mais evidente ao mesmo tempo que prepara o terreno para o último episódio.
A direção de Chris Cheramie consegue equilibrar bem a ação e os momentos mais calmos de forma a explicar melhor a trama, usando a personagem Simmons como peça fundamental para que isso aconteça com uma contribuição importante de um personagem que havia morrido alguns episódios atrás. A reviravolta no final deste episódio trás consigo a euforia da chegada de Fitz (o personagem ficou fora da série praticamente a temporada inteira) e as perguntas que precisavam ser respondidas de modo a dar um desfecho digno para a equipe SHIELD.
No episódio derradeiro da série, havia muitas perguntas para serem respondidas e a trama não teria mais tempo de enrolar. Em What We’re Fighting For (7×13), o roteiro escrito por Jed Whedon é expositivo o suficiente para mostrar de forma rápida onde Fitz estava, como ele fez para chegar até os agentes no passado e o que precisavam fazer para derrotar os chronnicons e restabelecer a linha temporal original. São tantas informações, que pode até confundir um pouco quem assiste, mas basta ver com atenção que esta tudo lá, como Fitz, Simmons e Enoch (Joel Stoffer) usaram o Reino Quântico (sim aquele mesmo que apareceu nos filmes do Homem Formiga) para deslocarem através do tempo, construírem o mecanismo de deslocamento temporal chamado “time string” e conseguirem voltar para o presente, se deslocar ao passado e ainda ajudar Coulson e companhia a salvarem o dia.
No meio desta trama complexa, o roteiro ainda encontra tempo para reforçar os laços, vemos aqui uma equipe comprometida e mais unida do que nunca lutando para combater uma ameaça maior. O mais interessante deste seriado é a capacidade dele de fazer até o personagem mais comum sem poderes, ter uma importância fundamental na trama, é isso que faz “Agents Of SHIELD” tão especial e é isso que manteve uma base de fãs que se mostra fiel e apaixonado por personagens muito bem construídos, sejam eles com poderes inumanos como Daisy Johnson e Yo Yo, ou com uma inteligência fora do normal como Simmons, Fitz e Deke, ou com peculiaridades como Enoch, ou até mesmo aqueles líderes e combatentes implacáveis como Mack e a inesquecível May, ou com a personalidade e “imortalidade incansável” de um dos melhores personagens da Marvel, como Phil Coulson.
Este final de série trouxe o melhor do seriado e ainda conseguiu resolver tudo muito rápido, o sentimento de pontas soltas foram quase inexistentes, tudo isso devido a direção esperta de Kevin Tancharoen que é ótimo em estabelecer uma ação empolgante que não se perde em meio a quantidade de sequências acontecendo em tela, sendo muito boas de assistir. O episódio por um lado responde tudo aquilo se pede dele, mas não trás grandes surpresas no desfecho da história dos vilões, por exemplo, seguindo a velha cartilha do desfecho clichê, porém isso não diminui de forma alguma os méritos da obra.
Toda a sequência final após a batalha no espaço foi algo recheado de nostalgia e focado exatamente naquilo que importa: a equipe. A cena da reunião desse grupo é bonita e melancólica, a narrativa desacelera dando espaço para cada personagem se despedir antes que a cena seguinte revele o destino de cada um, finalizando com Coulson, numa sequência final que não só funciona como fechamento de ciclo (que remete uma de suas primeiras cenas no piloto da série, diga-se de passagem), mas como um fechamento impecável de uma série que deixa um legado dentro do universo criado pela Marvel.
De uma forma mais geral, os dois últimos episódios foram bem conduzidos, ainda que pouco surpreendentes, foram bastante eficientes em entregar ação, boas reviravoltas e respostas satisfatórias para o público. Foi quase uma hora e meia do melhor que a série pode oferecer mostrando um roteiro bastante consistente que fecha uma temporada ótima que, se não é a melhor da série, ao menos entrega aquilo que se espera dela. O melhor é saber que “Agents of SHIELD” conseguiu convergir todas as suas tramas num desfecho apoteótico, que abraça a nostalgia, que emociona nos momentos certos e mostra que é um modelo bem sucedido que deve ser copiado futuramente por outras séries Marvel. São poucas séries que duram sete temporadas e conseguem se reinventar a cada novo ano e “Agents of SHIELD” conseguiu isso de forma primorosa, respeitando o público alvo, sabendo trazer grandes reviravoltas narrativas e ainda conseguindo fechar a jornada de cada personagem de uma forma respeitosa e que celebra um legado que ficará marcado eternamente na memória de todos nós.
Engenheiro Eletricista de profissão, amante de cinema e séries em tempo integral, escrevendo criticas e resenhas por gosto. Fã de Star Wars, Senhor dos Anéis, Homem Aranha, Pantera Negra e tudo que seja bom envolvendo cultura pop. As vezes positivista demais, isso pode irritar iniciantes os que não o conhecem.