Hamilton é um musical norte americano que estreou na Broadway em 2015. Com composições de Lin-Manuel Miranda, o musical conta a história de Alexander Hamilton, um imigrante que logo viria a se tornar um dos pais fundadores dos Estados Unidos e secretário do tesouro. Recentemente a Disney anunciou que comprou os direitos de uma gravação profissional, por 75 milhões de dólares, do musical que, originalmente, seria exibido nos cinemas, mas por conta da atual situação pandêmica do mundo, decidiram adiantar a estreia para o dia 3 de julho de 2020, entrando oficialmente no catálogo do serviço de streaming Disney+.
Mas o que “Hamilton” tem de tão especial que quebrou as barreiras do teatro e despertou interesse no mundo inteiro? A resposta é simples: representatividade. Escrito por um homem latino com músicas que variam entre os gêneros de Hip Hop, Rap e pop, Hamilton exige, em todas as suas montagens, um elenco composto, majoritariamente, por latinos, negros e asiáticos, desde o ensemble até o elenco principal, por mais que o musical seja a narrativa de figuras históricas reais. Como dito por Lin-Manuel Miranda “Hamilton é a história da América de antes contada pela América de hoje”.
O proshot disponível no Disney+ foi gravado em 2016 no curso de três dias de apresentações e não deixa a desejar perto de grandes produções cinematográficas e teve o uso de equipamentos como steadicam, guindaste e dolly favorecendo assim o uso de diversos planos e movimentos de câmera que fazem os 160 minutos de performance passarem rapidamente. A qualidade técnica se equipara a uma experiência no teatro e cumpre o papel de uma obra de arte: tocar, de alguma forma, o espectador.
Os números musicais são de tirar o fôlego. Provavelmente uma das performances favoritas dos fãs de Hamilton é o duo Helpless e Satisfied. Nessa primeira música vemos o momento em que Hamilton conhece Eliza Schuyler, a sua futura esposa (interpretada por Phillipa Soo, uma atriz de ascendência asiática), seguida por Satisfied, onde vemos uma verdadeira viagem no tempo graças a um palco giratório e uma coreografia impecável, e então somos apresentados a mesma história, mas, dessa vez, do ponto de vista de Angelica Schuyler, irmã de Eliza (interpretada por Renee Elise Goldsberry, que viria a ganhar um Tony pelo papel). Mas, com a estreia de Hamilton nos serviços de streaming, Leslie Odom Jr., que interpreta Aaron Burr, confessou que um de seus números favoritos é The story of tonight, pois ele nunca tinha visto quatro homens de cor – como são chamadas pessoas negras e latinas nos Estados Unidos, em tradução livre – cantando sobre amizade e revolução em cima de um palco da Broadway.
Outro ponto brilhante em Hamilton são suas personagens femininas. Mesmo sendo poucas e com a história girando em torno de Alexander Hamilton, Lin-Manuel Miranda teve o cuidado para dar destaque e voz para essas mulheres que foram vistas pela História como coadjuvantes. Eliza pode ser vista como apenas uma mulher apaixonada, mas é ela quem encerra o musical com um número emocionante e que expõe os seus feitos sem o seu marido, como falar abertamente contra a escravidão e fundar o primeiro orfanato privado da cidade de Nova York (que funciona até hoje, por sinal). Outra personagem forte é Angelica, que na música The Schuyler Sisters se mostra deslumbrada com a revolução chegando em Manhattan, mas, ao mesmo tempo diz que vai conhecer Thomas Jefferson e convencê-lo a incluir mulheres como iguais. Angelica também abre mão da sua felicidade pela felicidade de sua irmã e diz que faria isso sempre, acima de qualquer homem.
Além de revolucionar a Broadway abrindo o debate sobre a importância da representatividade no meio teatral, Hamilton também é sucesso de crítica e levou os mais diversos prêmios. Foi indicado a 16 Tonys, o equivalente ao Oscar para o Teatro, onde conquistou 11 estatuetas, incluindo “Melhor Musical”, “Melhor Ator de Musical” para Leslie Odom Jr., “Melhor Ator Coadjuvante de Musical” para Daveed Diggs e “Melhor Atriz Coadjuvante de Musical” para Renee Elise Goldsberry. Hamilton também ganhou o Grammy de “Melhor Álbum de Teatro Musical” e o Pulitzer de Drama. Atualmente se discute também a possibilidade do proshot de Hamilton ser elegível para o Emmy, a premiação para produções televisivas.
É importante ressaltar que Hamilton não é uma aula de história, mas sim é a construção de um enredo sobre modernismo e revolução. Como dito repetidamente no musical, é sobre jovens, deslocados e famintos e que fala para a juventude atualmente que se preocupa com movimentos raciais, igualdade e outras diversas questões políticas. Antes de serem grandes líderes, políticos e revolucionários, os personagens de Hamilton eram também rebeldes em busca de fundar uma nação que fosse perdurar e o musical torna fácil para o público se identificar e se sentir inspirado com a história contada pelas músicas e por essas figuras históricas, homens e mulheres, que foram reimaginadas por Lin-Manuel Miranda, tornando Hamilton um dos maiores sucessos da Broadway moderna.
Estudante de Cinema e Audiovisual e extremamente taurina com ascendente em peixes. Apaixonada por musicais, Harry Potter e filmes de terror. Talvez um pouco perdida, mas tentando encontrar o seu lugar no mundo.