A Barraca do Beijo 2 – Estende a mesmice boba, porém sem o charme de antes

Faz dois anos desde o primeiro beijo… quer dizer, que o pioneiro das comédias românticas teens da Netflix liderou a onda de lançamentos para o subgênero. Com um clichê assumido, A Barraca do Beijo (The Kissing Booth, 2018) surpreendeu ao divertir em meio a mesmice boba e manjada ao qual se lançou. Baseado no livro Amor à Distância (continuação da obra que inspirou o primeiro filme, A Barraca do Beijo), de Beth Reekles, a sequência chega ampliando a tal mesmice, contudo, faltou o efeito chave de conseguir envolver com a mesma pretensão.

Se passando vinte e sete dias depois que seu mozão Noah (Jacob Elordi) foi cursar a faculdade, Elle (Joey King) se vê em um novo dilema no seu último ano do Ensino Médio: o relacionamento a distância. Além desse choque, e a problemática amizade que nutre com Lee (Joel Courtney) – que pesa nas decisões individuais de ambos -, um triângulo – ou quadrado – amoroso surge para chacoalhar ainda mais a trama.

Parte da força do que Kissing Booth concebe se deve ao seu apelo sem compromisso. Quem resolve assistir, sabe que irá embarcar numa premissa batida, vista inúmeras vezes em outros títulos. É o velho diálogo sobre o florescer unido à proposta do verdadeiro amor espelhada na comédia romântica. Mas, claro, se o intuito aqui é não se comprometer, a prosa é tocada numa vibe leve, caricata e superficial de fazer humor. A sorte é poder contar com um elenco dedicado, que se diverte em viver os personagens. O melhor exemplo disso ressoa nos amigos Elle e Lee: dançando ou relembrando a lista interminável de regras (que parece funcionar de maneira justa apenas com Lee) que norteiam a cumplicidade que carregam, a dupla entrega carisma ao protagonizar tanta breguisse e infantilidade – às vezes parecem crianças brincando de ser adolescentes. Embora a vergonha alheia apareça, tudo isso faz parte do pacote que A Barraca do Beijo 2 (The Kissing Booth 2, 2020) almeja esbanjar.

Apesar desses aspectos, o roteiro também assinado pelo diretor Vince Marcello, intenta alcançar notas de maturidade através da trama. Para isso, em conjunto dos já conhecidos rostos do predecessor, dois novos nomes surgem para contrapor o estado de relacionamento embaraçoso de Elle e Noah: Chloe (Maisie Richardson-Sellers) e Marco (Taylor Zakhar Perez). Em suma, ambos servem para testar a intensidade da paixão dos pombinhos da barraca. Noah, já experiente pelos privilégios de ser galã, e Elle, a derrocada da felicidade que sentia vivendo o seu primeiro amor, mas tem lá as pistas para duvidar se tudo é para valer – mesmo sendo zero surpresa para o espectador o que o texto arrisca incrementar, não obtendo êxito além do óbvio. Seria, de fato, Noah o garoto prometido, ou, nessas idas e vindas de hesitações, Marco, o novato, muito parecido com o outro galã, o amor perdido que Elle não sabia? Das duas opções, ou um, ou os dois, ou a jovem chuta o pau da barraca.

O lenga, lenga é esse. Personagens trazidos para postos específicos, mais paixões nascidas de figuras que se odeiam (uau, comédia romântica!) enquanto busca dar mais desenvolvimento para o grande número de personagens que compõem a barraca. Nisso, o longa vai abraçando ainda mais a superficialidade, graças a uma montagem imediata demais para o excesso de acontecimentos, e como impacto, cenas que deveriam exercer o ápice ou dominar com tons dramáticos, acabam soando apenas supérfluas até para um filme que brinca o tempo todo – deixo o exemplo da  péssima cena do jantar em que os podres dos personagem explodem.

Aprova que A Barraca do Beijo 2 se estende tanto – além da longa duração – é por perder muito tempo dando voltas em situações evidentes, que não superam os desfechos esperados. E nas linhas finais sobre amadurecimento, casar as mensagens acerca da autodescoberta, do autodesafio, e de encarar as fases que emanam a transição para a vida adulta. Mesmo com esse modelo envolto em clichês, Elle lida com o primeiro amor e o turbilhão de sensações entre dar um grande passo para o futuro, no relacionamento (o que entra o desenvolvimento para seu poder de liberdade e autodomínio)  e não magoar as pessoas importantes no caminho.

Sem a mesma força que antes, a obra transparece tudo o que uma sequência quer: ser maior que o original, efeito árduo de conseguir. Explorando os limites da própria fórmula, entreter não deve ser difícil e para quem ainda deseja ver mais beijos, a próxima barraca está logo ali, para o ano que vem – e a peruca da Joey King também. Xo xo


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