7500 – Turbulência passageira

Parte do que nos encanta no cinema está atrelado às histórias. E além disso, a magia se faz mais forte quando a maneira que ela é contada se renova. Logo, aquela velha premissa genérica ganha uma camada atraente graças à visão partilhada pelo diretor. Assim, muitos filmes se tornam uma boa experiência por compor uma construção narrativa que se desafia a fazer diferente. No caso de 7500 (2019), é como uma turbulência passageira: a tensão não vai muito além do breve susto.

Enquanto seguia uma rotina comum de Berlim para Paris, um avião é sequestrado por terroristas que tentam a todo custo invadir a cabine da aeronave. Fazendo, então, o piloto Tobias Ellis (Joseph Gordon-Levitt) apelar pros recursos possíveis a fim de negociar em nome da segurança dos passageiros.

Dentro da ótica do que “pode ser feito, mas ainda não foi”, é tentador quando se trata de propor novas ideias. Junto a isso, o gênero do terror e suspense oferecem um espaço versátil de se explorar, graças a identificação do público ao perigo e ao apavorante – talvez isso explique a pergunta estúpida “se tem alguém no recinto” em temáticas sobrenaturais. Poder decolar num avião é sinônimo de medo para alguns e algo tranquilo de encarar para outros. O que poderia dar errado como quando um jovem anunciou a explosão do aeroplano? Ou da vez que um assassino liberou serpentes durante um voo? Também, se uma simples turbulência se tornou uma metáfora para a pós-morte? E até quando um psicopata decide recrutar a funcionária de um hotel para ajudá-lo em seu trabalho sujo? 

Em todas essas tramas, Premonição (Final Destination, 2000), Serpentes a Bordo (Snakes on a Plane, 2006), Voo 7500 (Flight 7500, 2016) e Voo Noturno (Red Eye, 2005) exploraram, e em 7500 (referente ao código que sinaliza quando um avião está sendo sequestrado), o primeiro longa-metragem de Patrick Vollrath, o terror foi abordado através de um ato terrorista. Partindo de uma introdução sugestiva para o que está para acontecer, a narrativa prepara o terreno de tensão com o espectador, ao mesmo tempo que entendemos a sacada do cineasta em aproximar o horror e suspense numa única ambientação: a cabine de pilotagem.

O terror do piloto Tobias será o nosso. A incapacidade de agir contra os terroristas enquanto precisa manter o voo estável e comunicar as autoridades, transita sobre a sufocante realidade de ter que assistir de dentro da cabine o desenrolar de violência e tumulto da pequena tela que transmite as imagens da câmera externa. Por um momento, a ideia de destrinchar todo o pânico sem mudar de cenário, lançava uma atmosfera intensa que envolvia a audiência de perto, ainda mais por perceber a ação de sequestro que viria.

Com isso, o efeito de claustrofobia era instaurado junto a inevitável violência que iria se afunilar na cabine de pilotagem. Porém, o cálculo de levar tal abordagem e findar por um mote dramático acabou se perdendo antes do esperado. A impressão era de que a proposta do texto de Vollrath, co-escrito por Senad Halilbadic, ficou reprimido naquele espaço: a criatividade não passava da porta trancada da cabine. Desta maneira, o gás do terror e tensão foi se esgotando e permanecendo em avanços evidentes que a situação poderia causar.

A consequência de não conseguir mais explorar com a mesma exatidão e firmeza que começou, insinua a simples confiança de abordar o enredo num ambiente atípico. Contudo, ainda que a tensão esperada tenha perdido o impulso, a atuação de Gordon-Levitt era o que mantinha algum propósito naquele espaço. A entrega consistente do desespero e sufoco de Tobias era nítido e despertava uma coerência da trama, e prendendo a atenção para o desfecho notório.

No geral, ter uma boa ideia e não saber muito bem como reter a qualidade, acabou levando para um tedioso voo de coordenadas óbvias, que se arrastava sobre um plano dramático sem muita substância. De fato, Joseph Gordon-Levitt pilotou este avião.