Desde o lançamento do primeiro The Last of Us, em 2013, sua continuação já passou a ser aguardada e querida pelos fãs e críticas. A continuação do tão aclamado e premiado jogo da Naughty Dog era uma questão de tempo. Seus rumores, trailers, gameplays e personagens foram surgindo ao longo dos sete anos que separam o primeiro e o segundo jogo, lançado em 2020, a pergunta que fica é: o novo jogo é tão bom quanto o antigo? Vamos pensar sobre e responder a pergunta ao final.
A adição de novos personagens, principalmente na cidade de Jackson, onde vivem os protagonistas do primeiro jogo, é super bem-vinda. Todos os personagens novos são interessantes, Jesse (Stephen A. Chang), Dina (Shannon Woodward) e mais para frente Owen (Patrick Fugit), Alice etc. A Naughty Dog acerta ao trazer mais diversidade ao jogo, não só pelo fato da protagonista ser lésbica, mas por ela namorar uma personagem no jogo e fazer com que vivamos com elas duas em diversos momentos e situações. É muito corajoso por parte de uma companhia tão grande quanto a ND abordar isso, principalmente no mundo machista e tóxico da comunidade gamer. Esse fato inclusive fez com que diversas reviews negativas fossem atrelados ao site metacritics, então se você se incomoda com o fato da protagonista ser lésbica e namorar outra menina durante o jogo, por favor, retire-se daqui.
Agora, um dos fatos que realmente pode incomodar os jogadores é o excesso de violência, o jogo apresenta cenas completamente vis, cruéis, extremamente visuais e violentas. Muitas das vezes, esses momentos ultrapassam a linha do bom senso e caminham em direção a um sadismo. Logo no começo do jogo (por volta das primeiras duas horas em média) já temos indícios do que virá ao longo das quase 30h de campanha (explorando bem os ambientes).Então se você tem um coração fraco para cenas violentas ou simplesmente não está em um momento muito bom, minha sugestão é que você espere um pouco para jogar ou vá com calma. Sério mesmo, eu tive problemas para dormir depois de algumas coisas que vi no jogo. Principalmente quando elas vinham sem você estar esperando ou querendo.
Os gráficos do jogo são lindíssimos, não há como negar, talvez seja o exclusivo mais bonito do PlayStation nessa atual geração de consoles, os detalhamentos dos ambientes, as personagens, o sombreamento, tudo é impecável e muito bonito. Para acompanhar esses gráficos o jogo conta com um casting muito afinado, todos os atores são bons e entregam uma experiência interpretativa próximo a um filme, aliás, The Last of Us: Parte II pode gerar um debate muito grande sobre o quanto essas duas mídias podem dialogar. Eu gostei muito da atuação sobretudo das personagens Ellie (Ashley Johnson) e Abby (Laura Bailey). Para finalizar, a trilha sonora é espetacular e muito envolvente e emocionante.
O grande problema do jogo, em minha opinião, é a escolha narrativa que a Naughty Dog opta por fazer. Eu confesso que não é problemática em si, tudo é muito bem feito e faz sentido, nesse caminho não há, por exemplo, inconsistência no roteiro ou furos. A sensação que fica é que o jogo se preocupa demais em explicar tudo e deixar à cargo do jogador a escolha moral em um pós-game. O jogo simplesmente se propõe a contar dois lados de uma mesma história e deixa a decisão a terceiros, isso não seria um problema se o primeiro jogo não existisse. Então, não há como você escolher um lado, o lado já existe. Quem jogou o primeiro jogo e se apaixonou pelos personagens de lá, já está com tendência a gostar de um certo grupo de personagens. Nesse sentido, quando o jogo passa para o jogador a necessidade de um pensamento moral sobre as ações de determinadas personagens, ele na verdade está brincando com os sentimentos e manipulando as ações. Apelando, em certa parte depois da primeira metade do jogo, para um sentimentalismo nostálgico do primeiro jogo, que sinceramente não me pegou, pois naquele momento eu estava completamente alheio a história daquela personagem. Para finalizar, o problema de querer contar a história de tudo e mostrar todos os pontos de vista possíveis é que o jogo torna-se vazio no sentido de um posicionamento a ser tomado.
The Last of Us: Parte II é um bom jogo, com boas personagens e momentos certamente marcantes, mas que falha ao abusar da violência e da isenção moral da história que se pretende contar. Respondendo a pergunta feita no início, o jogo é tão bom quanto o antigo? Para mim a resposta é não, mas a avaliação é feita de modo bastante pessoal. Como falei, o enredo não possui falhas de roteiro, mas a história contada poderia ser melhor trabalhada e ter um posicionamento mais claro em relação a seu conteúdo. Coragem não é apenas fazer um jogo violento, com várias mortes e com cenas marcantes, mas sim ter que saber que escolhas precisam ser feitas e que cada história, mesmo que tenham dois lados, sempre são contadas sobre um ponto de vista, no caso, escolhido pelo tema e tom do jogo de 2013.
Atual Vice-presidente da Aceccine e sócio da Abraccine. Mestrando em Comunicação. Bacharel em Cinema e formado em Letras Apaixonado por cinema, literatura, histórias em quadrinhos, doramas e animes. Ama os filmes do Bruce Lee, do Martin Scorsese e do Sergio Leone e gosta de cinema latino-americano e asiático. Escreve sobre jogos, cinema, quadrinhos e animes. Considera The Last of Us e Ocarina of Time os melhores jogos já feitos e acredita que a vida seria muito melhor ao som de uma trilha musical de Ennio Morricone ou de Nobuo Uematsu.