Parte da escolha de encomendar mais episódios numa série vem pela resposta positiva que o canal recebe através da audiência. A CW é mestra nisso. Vide o histórico com The Vampire Diaries (2009 – 2017), Supergirl (2015 -): para arriscar, só precisavam de um sinal do público, e eles davam. O outro lado da moeda é porque não se negam o luxo de investir mais, já que está dando tão certo. Bem, com Riverdale (2017 – ), a tal decisão pesou logo na segunda temporada, com The 100 (2014 -), a leva de 16 capítulos se mostra a somatória ideal para compensar o que querem contar, porém, é necessário o cuidado de não descer a mão no momento mais decisivo do show: o ano final.
A boa notícia de ter isso nas mãos dos roteiristas de The 100 é a possibilidade de trabalharem como mais calma os arcos sobre personagens tão ricos e importantes que a compõe, mas ao mesmo tempo, pode ser o vilão da própria ideia: se perder no desenvolvimento. O terceiro episódio deste último ciclo é o exemplo perigoso de apelar para a fórmula, a qual acerta, mas aponta a velha saída do roteiro quando não quer ir com tudo e prefere brincar com o que tem no estoque.
De volta a Sanctum, a narrativa cola nos personagens que ainda não sabem sobre Skyring e para driblar com o tema da trama, The 100 usou o que sabe fazer de melhor: criar conflitos. Lá no primeiro episódio, em um ponto impulsivo de Clarke (Eliza Taylor), ela tomou a decisão de executar Russell (JR Bourne), mas aqui vemos que a alternativa não refletiu como o esperado, ainda mais para o que os estão tentando ser: pessoas melhores. Sentenciar à morte o homem que matou sua mãe, Abby (Paige Turco) não a deixou mais leve, não fez o luto ir embora mais rápido, apenas deixou a ferida aberta enquanto o clima se complicou no lugar onde está. Apesar de Eliza Taylor transpor tão bem o estado de lamento da jovem, a frase proferida quando queimou a casa de Russell foi o precursor dos eventos aqui no 7×03: “somos os últimos da raça humana, todos cometemos erros e Russell vai pagar pelos seus”.
Por mais que esteja perante quatro grupos, Sanctum é um ambiente marcado pela fé do povo da eternidade, assim como os Wonkru no poder de liderança por meio da Chama e sua Comandante. De maneira pontual, o roteiro de Kim Shumway movimentou o episódio com toda a bagagem remanescente: a mentira e as decisões difíceis. Russell (agora tendo a mente dominada pelo Sheidheda) mentiu acerca da eternidade que pregava, quando na verdade era a forma de manter a si e a seus ideais conscientes vivos no corpo de outras pessoas. De forma parecida, aos Wonkru foram omitidos de que Madi (Lola Flanery) não era mais Comandante. A diferença entre eles é que Russell foi exposto e ainda assim um número de fiéis não se apostataram da crença, e ao tentar se desfazer das expectativas ilusórias do povo em Madi, Gaia (Tati Gabrielle) percebeu a dissimetria entre fé e lealdade: um guia é necessário.
O ponto relevante da questão é sobre a dificuldade de nos separarmos de um vínculo. Para os Wonkru, a Comandante. Para os Prime, qualquer representante que conduza à eternidade. Já com Gaia, o desligamento do que aprendeu desde quando era jovem: ser guardiã da Chama, ponte devota entre o povo e a Comandante, e pela primeira vez, a moça viu que essa missão não tinha mais como ser feita por não restar mais a mesma reverência. A sacada do roteiro para manter Russell Sheidheda como ameaça foi coerente, afinal, como um povo fanático responderia sem seu deus?
Além da escolha difícil de Gaia, foi a vez de Raven (Lindsey Morgan) carregar o fardo de uma decisão, posição essa que ela sempre esteve para julgar quando os amigos decidiam. Parecia só mais um problema comum que ela resolveria quando souberam do superaquecimento de um reator nuclear (área de contenção de radiação), mas foi um acerto enorme trazer para a personagem o reflexo de mentir para conseguir consertar a câmara. Para isso, ela contou com Emori (Luisa D’Oliveira) e quatro membros de Eligius III, omitindo para os voluntários acerca dos efeitos colaterais de se expor ao local. Foram momentos intensos que culminaram com Raven sendo socada por Nikki (Alaina Huffman). De fato, o roteiro de Shumway não se acovardou em gerar consequências para a engenheira.
Mesmo que com um episódio fraco de ritmo e para um público ansioso por mais informações sobre Skyring, False Gods foi fundamental por tratar de algumas resoluções e discussões necessárias colocando personagens secundários mais próximos de conflitos.
Últimos comentários:
100: tem sido interessante ver Gaia e Clarke em diálogos honestos acerca do que estão lidando. Que isso não signifique a morte de Gaia.
99: com certeza veremos Raven ficar na defensiva depois do que fez.
98: “a fé pode ser cega, mas a lealdade não é.” Indra resumiu muito bem o conflito de fé dos Wonkru e os Prime.
97: Jordan (Shannon Kook) continua sem inspiração como personagem. Se continuar dividido tentando compensar os dois lados (os Prime ou Skaikru) morrerá em alguma escolha estúpida e fatal.
96: se Nikki (Alaina Huffman) não for usada para gerar combate com frases de efeito, será intrigante vê-la se opondo aos Skaikru, e, principalmente, a Raven.
95: finalmente no próximo episódio os personagens em Sanctum vão saber sobre a Anomalia. Queima chama verde e até semana que vem!
Ama ouvir músicas, e especialmente, não cansa de ouvir Unkle Bob. Por mais que critique, é sempre atraído por filmes de terror massacrados. Sua capacidade de assistir a tanto conteúdo aleatório surpreende a ele mesmo, e ainda que tenha a procrastinação sempre por perto, talvez escrevendo seja o seu momento que mais se arrisca.