A temática “apocalipse zumbi”, que tem fãs em diversas partes do mundo, ganha através da Netflix, sua versão brasileira, com a série Reality Z (2020 -). A obra é uma adaptação da série britânica Dead Set (2008), criada por Charlie Brooker, responsável por outro sucesso do gênero na Netflix, Black Mirror (2011 -).
Reality Z apresenta em seu enredo uma forte similaridade com Dead Set, que basicamente se resume em: Zumbis que surgem de uma origem desconhecida e se proliferam pelo mundo, enquanto alguns participantes estão confinados em um reality show. A trama apresenta essa realidade acontecendo no Brasil, com o foco na cidade do Rio de Janeiro. A nossa “versão” de Dead Set se estende um pouco mais, com mais números de episódios, e se propõe a abraçar os fãs de trash e os entusiastas da temática zumbis.
Tomar a decisão por uma narrativa e propor seu desenvolvimento para que tudo siga dentro de um gênero tão conhecido como a temática apocalíptica dos zumbis, por si só, já pode ser uma escolha arriscada, que, por excesso ou escassez de qualquer elemento, pode beirar o ridículo, o pastelão ou até mesmo ao fracasso. Adicione a esse risco, a comparação com a série original a qual lhe serviu de base a adaptação. Esses foram os riscos, assumidos pela produtora Conspiração Filmes e o diretor Cláudio Torres.
A trama mescla na sua adaptação algumas ideias de críticas a realidade nacional, como por exemplo apresentar o tal reality show em questão como o “ Monte Olimpo” e referenciar os seus participantes como “Deuses e Deusas”, algo que pode parecer risível, entretanto ainda somos o único país que ainda emplaca o Big Brother a um nível tão espetacular que recentemente atingimos a vigésima edição nacional. Tornando-se algo tão relevante, que era comum vermos a mídia se dividindo em divulgar dados mortais da Pandemia do Corona Vírus, e ao mesmo tempo, informações sobre os participantes do BBB20.
O aprofundamento dos personagens e suas relações diante da situação na busca de suas sobrevivências se dedicam a levar a série a um viés mais interessante, mesmo correndo o risco de serem caricatos. O Reality Z, pede ao expectador que ultrapasse seu cliché inicial ao apresentar seus personagens iniciais no “Olimpo”: O bonitão machista, a gostosona, um membro da comunidade LGBTQIA+, o tiozão, a mais velha do grupo, componentes recorrentes em um programa no estilo de reality. Outro forte momento de risco para a produção, pois essas caricaturas tendem a cansar a trama, antes que ela possa ter a oportunidade de decolar.
O ponto forte em seu elenco não está com os nomes conhecidos como Sabrina Sato, ou como o DJ Jesus Luz, nomes esses que na verdade tendem a desestabilizar a credibilidade na história, mas sim com a atriz estreante Ana Hartmann, com a personagem Nina, que encabeça o primeiro arco narrativo da adaptação.
Outros pontos que podemos tratar como relevantes cabem ao segundo arco da série, com a chegada de novos personagens. Como se na mesma temporada pudéssemos dizer que vimos algo como: Parte 1 e Parte 2. Algo curioso, pois mesmo após a experiência de assistir a série, não sei dizer se isso agrada ou desagrada ao expectador.
Sobre os novos sobreviventes, somos levados a reconhecer as imagens de relações sociais do cotidiano brasileiro, um político sem escrúpulo, uma assessora bajuladora, um policial corrupto e viciado em cocaína, uma jovem manifestante de uma comunidade, a mulher que projetou o estúdio e seu filho. Eis que a trama tenta enveredar em revelações de caráter e provações de cunho moral, acerca de o que se é passível de fazer para salvar a própria pele, com o surgimento de novas personagens.
Classificar uma adaptação pode parecer uma tarefa fácil, devido à similaridade com a obra original. Todavia, criticar se uma produção é válida ou não cabe apenas ao expectador e sua experiência final. Para essa que vos escreve, posso dizer que após anos consumindo obras em diferentes tipos de expressões sobre a temática de apocalipse zumbi, a série não traz grandes ou inovadores efeitos visuais, e muito menos acrescenta uma ideia geral para a origem do surgimento dessa invasão, mas tenta encaixar, de forma caricata ou até previsível, os padrões de nossa realidade atual e corriqueira no Brasil. Fica a informação e o convite ao leitor, conhecer e classificar os nossos próprios zumbis. Eu fico no aguardo de vossas avaliações sobre Reality Z e nossos mortos-vivos nacionais.
Pisciana, web-jornalista, filósofa, social media, editora, aspirante à mochileira, dramaturga, maquiadora de efeitos especiais e viciada em fazer monografias. Sabe fazer malabares com objetos, mas joga bem melhor com as palavras. Detesta vestir roupa, filmes redublados e não pode comer abacaxi, mas adoraria.