Batwoman – A heroína que Gotham e a Cultura Pop precisavam

Ainda em 2018, surgiram notícias sobre a introdução da super heroína Batwoman no universo televisivo da DC (o chamado Arrowverso). Por ser um marco para a comunidade LGBTQ+ nos quadrinhos como uma heroína abertamente lésbica, o canal buscou por uma atriz LGBTQ+. Foi Ruby Rose quem terminou sendo escolhida para interpretar a personagem, inicialmente no crossover ocorrido no ano de 2018. Kate Kane, como em sua versão mais recente dos quadrinhos, é a prima de Bruce Wayne – o milionário e homem morcego se encontrava desaparecido desde o crossover.

Foi em 2019 que estreou a série da heroína, com Ruby Rose interpretando Kate Kane e a história inicialmente sendo sobre a cidade de Gotham necessitar de um(a) morcego(a). Daí surge a Batwoman (2019 -), partindo de uma ideia muito semelhante ao abordado da série do mesmo canal, Supergirl (2015 -). Afinal, nos quadrinhos, a história da personagem não é sobre ser uma substituta do Batman, ou sua sucessora. Mas a série trabalha em cima disso, a nível de um conceito primário, pois no final a narrativa vai para bem além disso.

Se escorando em ótimos personagens de apoio, mesmo seguindo um núcleo muito parecido com todas as outras séries de herói, o seriado consegue manter sua temporada inicial num nível agradável. A razão da série se sustentar não obrigatoriamente se deve a sua personagem principal, mas por como o conceito dos demais personagens funcionam muito bem. 

Uma das suas melhores particularidades se deve ao fato da série ter um núcleo bem pequeno, o tornando mais centrado. Pode-se dizer que a história da primeira temporada de Batwoman é uma história sobre uma família quebrada. Kate Kane assume o manto de Batwoman e passa a combater o crime e proteger a cidade de Gotham, dever dos ‘Corvos’ – uma organização de segurança liderada pelo pai dela, Jacob Kane (Dougray Scott). Como parte do resto da família temos a esposa de Jacob, Catherine Hamilton-Kane (Elizabeth Anweis), e sua filha Mary Hamilton (Nicole Kang).

Esse é o lado familiar da protagonista, cujo enredo termina envolvendo de forma bem direta com a vida dela como vigilante. Para complicar ainda mais sua relação com a família, a protegida do seu pai, e parte dos ‘Corvos’, é sua ex namorada Sophie Moore (Meagan Tandy). Como dita o enredo de quase toda obra americana – as de super heróis héteros inclusive – as duas tem sentimentos mal resolvidos uma pela outra. O nada chocante aqui é o fato de Sophie ser hétero e ter um noivo, então isso nos permite uma história sobre aceitar sua sexualidade.

A série é um programa de ação, focado em um mundo super heróico e, mesmo assim, apresenta não apenas uma protagonista abertamente lésbica, mas vários enredos sobre isso. Mesmo no universo ficcional da série é valorizado a importância de uma heroína lésbica. É uma das séries da DC com maior número de personagens regulares LGBTQ+ e também os racializados, porque fora a família Kane os demais personagens regulares são asiáticos ou negros. Mesmo assim é uma injustiça e extremamente problemático o embranquecimento feito com a personagem de Julia Pennyworth (Christina Wolfe), personagem originalmente não branca nos quadrinhos. 

Ao lado de Kate trabalhando como Batwoman existe o personagem vindo dos quadrinhos, Luke Fox – interpretado por Camrus Johnson. O personagem é filho do personagem Lucius Fox, responsável pela criação de toda a tecnologia do Batman. A relação de amizade e companheirismo entre ele e Kate, assim como a motivação do personagem para ajudar Kate e ter sua própria trama, o torna um dos melhores ‘nerd da cadeira’ do Arrowverso.

Por não ser sobre heróis super poderosos, a série conta com muitas cenas de combate corpo a corpo. As mesmas não são difíceis de se assistir, inclusive para um orçamento e um tempo de produção de série de televisão a obra tem boas cenas de luta. Sempre capaz de associar bem a narrativa pessoal e mais humana de Kate Kane com a sua persona vigilante. As histórias do seriado não seguem exatamente uma ideia de vilão da semana mas não tem um enredo expandido ao longo da sua temporada inteira, como Raio Negro (2018 -).

É um meio termo, capaz de uma trama principal se alongando ao longo de toda uma temporada e trazendo tramas episódicas sendo capaz de dar um respiro nisso. Um dos maiores pontos positivos da temporada  é a construção da personagem Alice (Rachel Skarsten) e sua relação de gato e rato com a protagonista. Sem dar spoilers sobre a relação cheia de camadas entre as mesmas e a capacidade incrível de Skarsten de interpretar uma personagem cheia de facetas diferentes. 

Mesmo com muitos pontos positivos, o seriado ainda tem uma primeira temporada com 20 episódios e série nenhuma precisa desse tanto de episódios. Ou seja, termina se tornando cansativo em algum momento e isso é um desgaste facilmente evitado caso houvesse um pensamento de não fazer muitos episódios. A trama funcionaria muito bem com menos episódios. Mesmo assim a série se encerrou de forma agradável, especialmente considerando o encerramento com dois episódios a menos que o planejado devido a pandemia de COVID-19. 

Com o final da temporada foi anunciada a saída de Ruby Rose, e também sobre a saída de sua personagem da série, levantando a curiosidade sobre como essa série ‘familiar’ vai lidar com uma nova personagem (também lésbica) atuando como Batwoman. 

 

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