The Legend of Zelda: Breath of the Wild e o pertencimento

Lançado no dia 3 de março de 2017, The Legend of Zelda: Breath of the Wild foi o jogo de despedida do Wii U e o de lançamento do Nintendo Switch. Além disso, marcava o retorno da franquia desde seu último grande jogo, The Legend of Zelda: Skyward Sword, lançado ainda para o Nintendo Wii em 2011. Portanto, a expectativa para Breath of the Wild era altíssima e para grande alegria dos fãs, essa expectativa foi alcançada.

Devo confessar que sou fã da franquia The Legend of Zelda. O primeiro jogo que tive a oportunidade de me deliciar foi o The Legend of Zelda: A Link to the Past (1991) para o poderoso Super Nintendo, lembro da sensação da época em que jogava e do entusiasmo ao entrar em um mundo pautado na aventura e na descoberta. Contudo, foi em The Legend of Zelda: Ocarina of Time (1998) que tive a experiência definitiva com Zelda e na minha cabeça nada que fosse feito a partir dali em diante superaria o sentimento que tive ao jogar aquele jogo no Nintendo 64. Até então , pois em 2017, Breath of the Wild chega com o hype suficientemente grande para me fazer querer comprar um Nintendo Switch. Sim, foram longos dois anos de espera até poder colocar as minhas mãos no console em 2019 (saudades dólar mais baixo).

A franquia Zelda para mim sempre foi muito mais sobre a aventura de um novo mundo do que necessariamente uma história batida de resgate de princesa, o clichê da donzela em perigo, já tão explorado em diversas mídias. Muitas das vezes, esse lugar-comum era deixado de lado em nome da aventura e do descobrimento, do desdobrar da narrativa e conclusão da sua história. Breath of the Wild subverte esse conceito. Nele, já acordamos em um mundo o qual não pudemos salvá-lo há 100 anos. O personagem Link, tem que lidar com as consequências de seu fracasso de um século. Inclusive, no texto anterior do site,escrito pelo Miguel, ele aborda bem essas questões do fracasso e de como isso, de certo modo, é inerente a nós e humaniza o protagonista, que sempre teve ares de herói escolhido e imbatível.

Lidar com as consequências de uma derrota que praticamente destruiu o mundo e condenou a princesa Zelda a ficar refém de seu maior dom, apenas ela era capaz de segurar Calamity Ganon, o mal que assombra as terras de Hyrule e que foi capaz de derrotar nosso herói há 100 anos. A falta de memória do protagonista serve como subterfúgio narrativo para que o jogo apresente a nós jogadores essa terra devastada e sem esperança, assim temos início a maior aventura já contada em um jogo da franquia Zelda e certamente o jogo mais ambicioso já feito pela Nintendo. Ela praticamente valida o gênero de jogo de mundo aberto, mostrando ao jogador toda e qualquer possibilidade. É um mundo rico em fauna, flora, minério, civilizações, perigos e aventuras. Literalmente, desde que assumimos o controle do protagonista e passamos dos tutoriais iniciais do jogo, basicamente as primeiras duas horas, temos a liberdade de escolha para onde ir e desbravar no mapa. Literalmente você pode ir em qualquer lugar que você veja e isso não é um exagero, eu realmente fiz testes e realmente é possível. 

As dungeons, tão conhecidas dentro da franquia Zelda, são menores aqui, falo em termos de quantidade mesmo, ao total são 4 apenas e mais o Castelo de Hyrule no final, mas essa escassez é compensada pelos 120 santuários, no qual pelo menos uns 80 contém diversos quebra-cabeças para serem feitos, e pela liberdade total do mapa. Eu joguei por quase 80 horas até terminar o jogo e digo com toda a certeza que não fiz nem 70% de tudo que pode ser feito e explorado. Todo esse mundo é composto por um estilo artístico único, bem mais cartunesco que o comum, e com elementos aquarelados. As cores são bem vivas e contagiantes, é comum por exemplo, quando você tem que esperar determinada hora ou alguma ação específica para concluir um objetivo ou descobrir um santuário, observar a paisagem, ver o sol se pôr ou até mesmo as águas dos oceanos e dos rios. Acompanhando esse deleite visual, o aspecto sonoro mantém o mesmo nível entregando uma das trilhas mais bonitas e encantadoras de toda a franquia (e da história dos videogames).

Contudo, o aspecto principal do jogo sem dúvida é sua narrativa. A medida que vamos avançando e recuperando as memórias de Link e descobrimos o que aconteceu há 100 anos, a narrativa se mostra como sendo uma das mais complexas e adultas de toda a franquia. Lidar com seus fracassos e derrotas é o tema principal do jogo, mas também pode ser compreendido como uma nova oportunidade ou até mesmo como o destino. Toda a desgraça do passado precisava acontecer para que finalmente o mal fosse derrotado ou pelo menos comprimido. No final, todas as veredas se convergem e todos que encontramos em nossa jornada tem papel fundamental para a concretização do destino.

Jogar Breath of the Wild foi um alento, principalmente em um mundo no qual mais e mais jogos são lançados, alguns sem o afinco e esmero necessários, apenas talvez para suprir uma necessidade imediata de um mundo imediato. Esse último Zelda vai na contramão disso, ao passearmos pelos campos de Hyrule ou em diálogos com NPCs conhecidos a sensação que passa aos fãs é de pertencimento: fazemos parte da história e estamos ali pois somos peças fundamentais nesse mundo. Tudo nos é familiar, embora seja tudo novo e diferente. Em meu coração, Ocarina of Time ainda é meu Zelda favorito, mas sem dúvidas agora eu pertenço a Breath of the Wild e meu coração estará lá, seja para ver o tempo passar em Hyrule ou para caminhar em direção a uma nova aventura.

 

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