Estou aqui com um contive em minhas mãos, e esse convite é para você, leitor dessa resenha. Vamos conversar não só sobre um tempo diferente, como também usando um tempo diferente? O tempo que te convido a experimentar pede um pouco mais de calma, um pouco mais de sensibilidade e muito de sua autoanalise.
Se você já estiver aqui, nesse segundo parágrafo, eu sei que aceitou e podemos continuar e agradeço por isso. Os Contos de Loop (Tales From the Loop, 2020 -), é uma série que conta, em oito episódios, histórias de um futuro, com uma realidade onde máquinas, robôs e aparelhos integram diferentes possibilidades para a vida das pessoas. No entanto, qualquer possibilidade que seja viável nesse futuro, só e unicamente dependem de uma questão simples: A escolha do indivíduo e as consequências que isso trás consigo.
O título “Os Contos de Loop” foram inspirados num livro de fotografias homônomas, do Fotografo sueco Simon Stålenhag, que exibe uma mistura de relacionamento pacifico entre a ficção cientifica e os seres humanos. Stâlenhag, participa do roteiro e da produção da série, juntamente com o criador Nathaniel Halpern, e antes de se tornar uma produção audiovisual na Amazona Prime, as mesmas fotografias serviram de inspiração para um jogo de RPG de mesa, com o mesmo nome.
A primeira temporada possui oito episódios, e cuidadosamente cada um deles tem um diretor ou uma diretora diferente, prezando pela sensibilidade que cada núcleo é retratado nele, sendo o oitavo e último, “A casa”, dirigido por Jodie Foster. A ficção científica, é a base elementar dos episódios, porém, o verdadeiro encantamento se vê nas construções das relações em mosaico dos personagens. Cada episódio foca num núcleo especifico, porém crucial para o entendimento do todo.
Logo de início, a narração nos revela a verdade sobre o que virá, e somos apresentados a uma cidade em Ohio (E.U.A), chamada Mercer, onde em seu subsolo foi construído um laboratório chamado de “Loop”, e a interação com os habitantes e esse local, são relativamente cotidianas. Porém, são as possibilidades do que o Loop pode produzir na vida dos mesmos que merecem ser sempre levada em consideração. E é o que revela o caráter existencialista da série. Em certo momento, o personagem que construiu o Loop, interpretado por Jonathan Pryce, diz “O Loop, transforma o impossível em possível” e isso é o que nos transporta a pergunta: Mas o que vem a ser esse existencialismo?
Diferentes filósofos como Kierkegaard, Camus, Sartre e Nietzsche trouxeram ao mundo essa corrente de pensamentos, que de forma resumida defende que a essência humana é construída durante sua vivência, a partir de suas escolhas, uma vez que possui liberdade incondicional. E é exatamente essa a chave que nos atinge diretamente a emoção.
Diferentes possibilidades de realidades, são confrontados pelos personagens e, assim, os expectadores também se reconhecem em diferentes sentimentos. Amizade, medo, luto. Enfim, tudo a partir das escolhas individuais, e as consequências que elas acarretam. O tempo do desenvolvimento dos episódios pede o mesmo carinho com que essa escritora lhe pediu para a leitura dessa resenha. Portanto, caso você chegue aos Contos de Loop, com uma invariável sede de consumir apenas um Sci-fi, ver máquinas e uma tecnologia futurística, vai acabar se decepcionando e deixando escapar por entre os dedos a coisa mais delicada que se pode captar, que é a nossa própria essência.
Pisciana, web-jornalista, filósofa, social media, editora, aspirante à mochileira, dramaturga, maquiadora de efeitos especiais e viciada em fazer monografias. Sabe fazer malabares com objetos, mas joga bem melhor com as palavras. Detesta vestir roupa, filmes redublados e não pode comer abacaxi, mas adoraria.