Se tem um gênero que consegue explorar diversas temáticas de maneira louca no cinema é o terror. E talvez, o que melhor explica o fascínio do público e dos fãs é a curiosidade de ver seu medo, fobia, dúvidas, tabus refletidos e questionados de forma aterradora, se tornando um desafio ao espectador – como o crítico literário Noël Carroll difundiu em seu livro A Filosofia do Horror ou Paradoxos do Coração nossa relação estranha com o gênero. A liberdade com que a categoria se aventurou ao longo dos anos é notada quando contamos os muitos subgêneros derivados: trash, gore, sci-fi, thriller, e apesar do terror psicológico e sobrenatural estarem mais em alta ultimamente, há um que a audiência sempre vai se sentir atraída: o slasher.
Michael Myers retornou para uma nova franquia, A Morte Te Dá Parabéns (Happy Death Day, 2017) uniu o slasher ao sci-fi com pitadas de comédia com uma sacada genial para entreter o público, mas o comeback estrondoso para o subgênero ainda não eclodiu. Porém, quando se fala do slasher, são aos clássicos que nos remetemos, tanto que um dia antes do Dia das Mães, uma das sagas mais memoráveis do terror completou 40 anos: Sexta-Feira 13 (Friday the 13th, 1980).
Depois do estouro que Halloween: Noite do Terror (Halloween, 1978) causou no final da década de 70 ao trazer a figura de Michael Myers aterrorizando a fictícia cidade de Haddonfield, dois anos depois, em 1980 foi a vez de Jason Voorhees receber os holofotes. Em si, só o título anunciando um filme de terror centrado no dia do azar foi o suficiente para chamar atenção ao que trazia um acampamento de verão antes mesmo de ser aberto, reduzido ao massacre dos voluntários a monitores do local. Inspiradíssimo, o misterioso killer tinha um código que rapidamente ceifava os jovens presentes: suas drogas, o sexo, a bebida, e todo tipo de futilidade que os tornassem irresponsáveis no que deveria ser levado a sério.
Mais tarde, o tal código foi desvelado através da subversiva revelação por trás do temido nome de Jason: não era ele, e sim sua mãe Pamela Voorhees (Betsy Palmer) se vingando pela morte do filho ocorrida há anos no acampamento pela maneira banal que os monitores tocavam o local, o que levou ao afogamento do garoto Jason e um apuramento raso da polícia em investigar o caso. A atriz Betsy achava o roteiro uma droga, a crítica pouco abraçou a premissa também, mas o público amou, o que rendeu uma excelente bilheteria para um orçamento modesto. E o mais vantajoso foi por Sexta-Feira 13 ter sido o primeiro filme slasher a ser lançado por um estúdio grande.
Como de praxe, se deu lucro, o jeito é fazer mais. Mas foi nessa mesma escalada que Friday the 13th deu início aos seus problemas, uma vez que o filme dirigido por Sean S. Cunningham encerrou de maneira fechada a história. O que fez o segundo longa, Sexta-Feira 13, Parte 2 (Friday the 13th Part 2, 1981) pular a coerência e tornar Jason o real vilão da coisa. Sim, morto desde criança, o carinha voltou adulto para terminar o que sua mãe começou! A partir daí, a produção caiu no gosto de apresentar a imagem que garantiria o sucesso, além de que, dava o que mais o público queria: nudez, sexo, bebedice, drogas e mortes caprichadas, e assim rendeu o boca a boca de cenas fortes e memoráveis.
Com o vilão decretado, era só mantê-lo por perto para mais filmes e boa bilheteria. Só que com mais lamento da crítica e murmúrios do público, Sexta-Feira 13 passou a se tornar cada vez mais repetitivo em suas sequências: era só colocar jovens estúpidos fazendo o que Jason detestava no Crystal Lake que rolava a matança reciclando cenas que outrora foram pontuadas positivamente pela criatividade – lembra o casal ceifados juntos enquanto se pegavam na cama? Sem falar que em todo novo capítulo o marketing dizia que seria o último filme, o adeus a Jason, e no seguinte, o desgraçado estava de volta. Nisso, a indecisão dos produtores foi mais um fator famoso para franquia: como Jason voltaria desta vez?
As loucuras eram tantas que o assassino acabou se tornando um morto-vivo no sexto filme, e consequentemente mais imbatível. Dessa fama de duro na queda Jason foi para Nova York (1989), foi para o inferno (1993) na façanha mais trash da franquia, foi um ogro de Power Rangers no desastroso futurístico Jason X (2001) até chegar no que os estúdios mais queria: realizar o crossover entre ele e Freddy Krueger, quando nasceu o embate dos ícones slasher em 2003 com Freddy X Jason. Ali foi a última vez que podemos vê-los dá sinal de seus legados, com promessa de que retornariam. Por fim, Sexta-Feira 13 ganhou um remake em 2009 tentando resumir os momentos mais emblemáticos que oficializou a figura de Jason Voorhees, só que foi pobre na história e envolto numa fotografia escura demais para ser apreciada. Desde então, rolam conversas nos corredores para o killer de Crystal Lake voltar para as telonas, mas parece que dessa vez não há ressurreição que poupe de um fiasco.
Ama ouvir músicas, e especialmente, não cansa de ouvir Unkle Bob. Por mais que critique, é sempre atraído por filmes de terror massacrados. Sua capacidade de assistir a tanto conteúdo aleatório surpreende a ele mesmo, e ainda que tenha a procrastinação sempre por perto, talvez escrevendo seja o seu momento que mais se arrisca.