Não venha procurando o melhor filme da Pixar, ele não é. Mas ele é mais um filme único que a Pixar fez, com um universo novo e bem pensado, mas seguindo o padrão de protagonistas. Já comecei tirando logo isso da frente porque o foco aqui é outro. Dois Irmãos: Uma Jornada Fantástica (Onward, 2020) se passa em um mundo em que tudo era feito através de magia, a magia era a força principal do mundo, mas para ser realizada da forma correta, exigia muito esforço e talento de um bom mago, o que fez com que a sociedade criasse a tecnologia, para que fique tudo mais fácil né?
E como diz o título, nós acompanhamos dois irmãos, Barley (Chris Pratt) e Ian (Tom Holland) Lightfoot, que no aniversário de 16 anos do último, recebem um presente do já falecido pai, um cajado com uma feitiço de aparição que permite com que o pai volte a vida por um dia inteiro. Obviamente isso da só meio certo e eles tem que resolver esse problema.
A oportunidade mágica de trazer um ente querido que já se foi é uma premissa que ganha um pouco todo mundo. Quem de nós não desejaria trazer de volta aquela pessoa pelo menos por um dia, todos faríamos o necessário e enfrentaríamos todos os perigos só por alguns momentos a mais. O tipo de situação que, tanto o objetivo quanto a jornada, vale a pena. Um objetivo nobre que influencia na vida de outras pessoas, como a Manticora (Octavia Spencer), a antiga guardiã da Taverna e a mãe, Laurel (Julia Louis-Dreyfus), a enfrentarem suas próprias aventuras por consequência dos que está acontecendo. Que é uma pedaço ótimo da história porque a química entre os personagens é do tamanho de dragão, sempre que o filme corta pra elas, da uma alegria no coração.
Pegando o clichê corretíssimo do “Aproveite a jornada” e colocando ele numa nova e bonita perspectiva, é um filme que conseguiu me pegar em cheio, ao falar desse tema tão comum e tão complexo que é família, ao falar desse tema que é crescer sem o pai, que, para um garoto pequeno, significa muito, e por tratar também da força que existe na relação de irmãos, que apesar de completamente diferentes, aqui se encontram juntos, sendo obrigados a viver esse pedaço da sua vida juntos, e valorizar as relações que já se tem e de momentos especiais proporcionados pela grande aventura que acaba que acontece as vezes. E essa jornada só é fantástica, como diz o título, por causa da rica construção de mundo feita pelos realizadores, um mundo com referências para todos os lados, vindo das mais diversas fontes mas sempre se mantendo fiel a sua própria mitologia, o fato de eles tratarem livros de RPG como material histórico, com fatos e dicas sobre o mundo antigo, dá o tom da abordagem realismágica (inventei agora a palavra) para a grande aventura dos irmãos Lightfoot.
A trilha sonora dos também irmãos, Mychael e Jeff Dana, te ambienta perfeitamente nesse mundo, com uma trilha voltada pro épico em muito momentos, com instrumentos melódicos e temas grandiosos, mas que se abre para receber instrumentos modernos, usando de seus motivos para nos deixar sempre familiarizados com a música em questão, independente do instrumentos que a tocam. A trilha é usada para mostrar a dualidade que existe nesse mundo entre magia e tecnologia, uma das mensagens centrais do filme, como devemos sim, abraçar o novo, porque ele sempre trará avanços e evolução, mas nunca esquecer o antigo, porque sem ele não chegaríamos aonde chegamos. Característica essa que é pontuada de diversas formas ao longo da obra. A direção de arte do filme é um outro elemento que merece ser comentado à parte, a construção visual desse mundo conta a sua história e sua evolução de forma silenciosa no fundo de tudo o que aconteceu, a forma como o mundo evoluiu e sua cultura. Eu queria muito passar horas olhando as artes conceituais e entendendo de onde vieram as referências para cada lugar.
A única coisa que peca é em ser a tradicional história Pixar de personagens tendo que pegar objeto X e evoluem como pessoas no caminho, mas é algo que não me incomoda.
Eu não consegui passar o que me tocou nesse filme, porque foi algo que eu não esperava, o motivo pelo qual eu estava chorando quando a sessão acabou é algo que fica reservado para o filme, mas que foi onde eu fui capturado de fato, porque essa foi uma história que me atraiu pela aparência, me ganhou na conversa, mas me conquistou quando chegou no meu coração, e foi ali que eu vi que toda essa história não valeria nada sem uma coisa especial, e era ali que ela estava, e esse filme tem muito disso, por mais que não seja o melhor e mais memorável da Pixar, ele é memorável e fantástico, principalmente quando resolve deixar a parte emocional fluir através do universo criado, e te levar para um mundo completamente novo mas com uma pitadinha de “Eu vivi isso aí, obrigado por me entender”.
Estudante de Publicidade na Universidade de Fortaleza, Miguel é o Sonserina mais Lufa-Lufa que se tem notícia. Esse grande apreciador de açaí passa a maior parte do seu tempo tentando ser o mais legal possível. E quase sempre consegue. Legalzão é cheio de surpresas, chora fácil, ri mais fácil ainda. Gosta de cozinhar, toca um monte de instrumentos, ama correr, assistir filmes de ação, joga videogame como quem respira e venera animes de esportes, quase tudo na mesma medida (a medida do exagero).