O seriado Arrow (2012 – 2020) começou a ir ao ar em 2012 com a proposta de ser uma adaptação live action do Arqueiro Verde em formato de série. Em sua segunda temporada no ar, o seriado teve um episódio com a aparição especial do Barry Allen, quem viraria a se tornar o Flash (2014 -) com sua própria série no ano seguinte. As duas séries, estrelando respectivamente Stephen Amell e Grant Gustin, começaram a moldar um universo compartilhado para a telinha com os super heróis da DC Comics.
Em 2015 estreou a série da Supergirl (2015 -), se passando num ‘universo’ diferente mas com quem o Flash compartilhou um crossover em seu primeiro ano. Isso fortificou a ideia de um multiverso de super heróis e a existência de muitas terras diferentes. A série da Moça de Aço era protagonizada por Melissa Benoist teve o seu cancelamento no canal original durante a primeira temporada e então a partir do segundo ano fez parte da mesma emissora das outras séries da DC. Foi na série da Supergirl onde tivemos a primeira super heroína transexual da televisão, Nia Nall, interpretada pela atriz trans Nicole Maines.
Legends of Tomorrow (2016 -) foi a terceira série oficial do universo, mesmo tendo estreado após Supergirl, devido a série da kriptoniana fazer originalmente parte de outro canal. A série envolvia viagens no tempo e personagens não tão explorados pelas outras séries que já teriam aparecido (em ‘Flash’ e em ‘Arrow’).O vilão principal da primeira temporada de ‘Lendas do Amanhã’ – Vandal Savage (Casper Crump) foi inclusive a ameaça do segundo crossover entre as séries ‘Flash’ e ‘Arrow’.
Ao longo dos anos as séries foram amadurecendo seus personagens, trilhando seus próprios caminhos e nem sempre acertando nos mesmos. As séries mantiveram uma tradição de crossovers anuais entre todas, sendo o primeiro envolvendo as quatro séries citadas tendo acontecido em 2016-2017, com a Invasão dos alienígenas chamados Dominadores capazes de controlar as mentes das pessoas. Essa tradição se passou durante os anos, onde nem todas as séries sempre se fizeram presentes nos eventos, até a chegada da Crise.
A Crise é algo de conhecimento da maioria dos fãs dos quadrinhos como um evento onde um ser – o Anti-Monitor – destruiu múltiplas Terras do universo dos quadrinhos e foram necessários todos os heróis juntos para o parar. Nas séries, a Crise é mencionada desde a primeira temporada do Flash, onde foi dito que o velocista escarlate sumia após a mesma. O destino do mesmo desaparecendo após o evento ficou em maior evidência durante sua quinta temporada quando sua filha vinda do futuro revelou nunca ter conhecido o pai pois este havia desaparecido após a Crise.
Um ano antes do catastrófico evento, houve o crossover ‘Elsewords’ onde os papéis foram trocados entre o Arqueiro Verde e o Flash e soubemos da vindoura ameaça da Crise. Além de ter introduzido a personagem da Batwoman (2019 -) (Ruby Rose), que viria a ganhar sua própria série no ano seguinte, soubemos do compromisso de Oliver Queen – o Arqueiro Verde – em tomar o local do Flash e se sacrificar para evitar a Crise. Foi essa aventura que marcou seu último e oitavo ano, ele cumpriu missões para o ser conhecido como Monitor (LaMonica Garret) com intençãode evitar a Crise.
Por ter sido a primeira série desse universo, foi a oitava temporada de Arrow quem mais trilhou os caminhos pré crossover. Além disso, a oitava temporada da série teve forte presença de membros do elenco passado e também a presença dos filhos dos nossos heróis do futuro, um enredo apresentado a partir da sétima temporada. Um dos pontos mais altos da temporada foi poder ver Oliver formar laços com seus filhos, Mia (Kate McNamara) e William (Ben Lewis).
William se fez presente em anos anteriores da série como um jovem, e agora adulto com seu pai ele pode sair do armário como gay em uma cena poderosa e carregada de sentimento. Mia pôde ser treinada pelo seu pai com essa chance dada pelo Monitor de se conhecerem, assim a preparando para eventualmente assumir o manto de Arqueira Verde. Isso deve ser explorado nos episódios seguintes da própria série do Arqueiro, que inclusive inclui um ‘piloto’ para um spin off centrado em Mia Smoak-Queen e as duas Canários Negro (Kate Cassidy e Juliana Harkavy) se passando em 2040.
Outro herói envolvido nesse crossover é Jackson Pierce, o Black Lightning (2018 -) (Cress Williams) cuja série sempre se deu numa Terra mais realista, onde os próprios heróis da DC eram heróis de quadrinho. Embora sua série esteja já na terceira temporada, envolvendo tráfico de metahumanos e a Markóvia (vista também na animação Justiça Jovem). A série Raio Negro não só é a série de maior elenco protagonista negro, mas a série que apresentou a primeira super heroína negra e lésbica da CW (Naffesa Williams). É uma interessante interação vermos o Raio Negro conhecendo seus heróis de infância e lutando ao lado deles.
Os protagonistas das outras séries como Flash (Grant Gustin), Canário Branco (Caity Lotz), Supergirl (Melissa Benoits), Batwoman (Ruby Rose) e alguns surpreendentes personagens fazem parte de um seleto grupo chamado de Paradigmas. Eles são a única chance do universo sobreviver contra a ameaça apresentada pelo Anti Monitor (também interpretado por LaMonica Garret). Seus arcos como Paradigmas são as vezes bem explorados e as vezes bem jogados, mas por fim interação de cada um dos sete Paradigmas como um grupo termina sendo bem divertido de se assistir.
A Crise consegue em si ser um dos mais épicos eventos da televisão quando se trata de adaptação de quadrinhos, tendo usado personagens de várias séries diferentes como Lucifer (2015 -), Birds of Prey (2002 – 2003), Smallville (2001 – 2011), The Flash (1990 – 1990), Batman – A Série Animada (Batman: The Animated Series, 1992 – 1995), entre outras, para criar a atmosfera necessária para essa crise realmente afetar as Infinitas Terras. O evento trouxe a vida também o Superman do filme Superman: O Retorno (Superman Returns, 2006), como uma parte importante para a narrativa. Mesmo com as múltiplas aparições e personagens, o evento se sustentou como algo próprio e trouxe grandes consequências para todas as séries.
Não apenas consequências, o evento se fez ao longo das atuais temporadas das três séries mais antigas do canal (Arrow, Flash e Supergirl). Isso o tornou um dos eventos mais sérios, pois não foi um caso de um evento que só serviu para unir os personagens e então cada um seguiria seu caminho individual. A forma como o evento se deu, cruzando as múltiplas Terras da televisão da DC, com aparições surpreendentes e trazendo a vida personagens a muito esquecidos, foi única.
Se houve um grave defeito nesse crossover foi ter se dividido em dois, com três episódios em Dezembro e os últimos dois em Janeiro. Houve uma grande quebra de expectativa, especialmente considerando o último episódio tendo sido apenas um epílogo do que se tornou o universo uma vez a batalha estando vencida. Caso o canal tivesse feito a exibição de todos os episódios de uma vez teria sido uma estratégia mais inteligente para manter o público envolvido no enredo.
O uso de sementes e enredos plantados em séries como Flash e Supergirl se fizeram extremamente essenciais para o acontecimento desse evento. Em especial, o antagonista de Supergirl interpretado por John Cryer – Lex Luthor – tem uma importante relevância para o crossover e também para o mundo após o evento da Crise. O ator faz parte da tradição contínua da série da Menina de Aço, por ter feito parte do filme Superman IV: Em Busca da Paz (Superman IV: The Quest for Peace, 1987) como o jovem Lenny Luthor. Outro importante personagem para a batalha contra o Anti Monitor foi Nash Wells, mais um personagem interpretado por Tom Cavanaugh, que teve um papel para o começo e para o final do evento.
Quando se trata de química de tela, um grupo muito interessante de se assistir interagindo ao longo do multiverso foi Lois (Bitsie Tulloch), Iris (Candice Patton) e Clark (Tyler Hoechlin). Enquanto buscam por um dos Paradigmas os três tem interessantes trocas, mostrando o quão interessante seria ter mais do casal Lois e Clark nas telinhas. Não é a toa que após esse crossover, o piloto para uma série dos dois recebeu um encomenda e a história deles foi severamente afetada pelas consequências da Crise. Se mais esse crossover for transformado em série, a CW vai ganhar duas séries a mais em contrapartida ao final de ‘Arrow’.
Ao final do evento são feitas importantes revelações sobre o novo mundo criado a partir do sacrifício do Arqueiro Verde e como os personagens tem todos suas vidas alteradas por isso. Em primeiro lugar, todas as séries da CW agora se passam numa mesma Terra agora chamada de Terra Prime e como super heróis ele formam uma espécie de Liga da Justiça ou de Super Amigos. Lex Luthor agora não é apenas o presidente dos Estados Unidos mas também um herói muito admirado e não um super vilão conhecido. O casal Lois e Clark, tendo tido um filho e se mudado pra Argo previamente, agora tem dois meninos e não só John.
Isso apenas considerando os efeitos mencionados durante o próprio crossover, porque ao longos do retorno das séries é possível ver como cada uma foi afetada pelo sacrifício de Oliver Queen. Em sua própria série podemos ver como ele conseguiu corrigir todas as mortes acontecidas às suas pessoas amadas ao longo dos últimos oito anos, exceto por uma Canário em particular. O adeus dado ao personagem mais frequente do ‘Arrowverso’ e o primeiro herói dessa atual era de heróis da CW foi bem digno e é interessante imaginar como os demais vão seguir agora.
Cineasta graduade em Cinema e Audiovisual, produtore do coletivo artístico independente Vesic Pis.
Não-binarie, fã de super heróis, de artistas trans, não-bináries e de ver essas pessoas conquistando cada vez mais o espaço. Pisciano com a meta de fazer alguma diferença no mundo.