Todos sabemos que final de ano é a época de assistirmos a um tipo específico de filme: os natalinos. E a Netflix, sabendo disso, não ficou para trás e escolheu esse momento para lançar o seu primeiro longa de animação original, que segue essa temática. Estou falando de Klaus (2019), animação espanhola escrita e dirigida por Sérgio Pablos, conhecido por ser o criador da franquia “Meu Malvado Favorito”.
A animação, lançada no dia 15 de novembro de 2019, conta a história de Jesper, o filho do dono de uma grande empresa de correios. Percebendo que Jesper não quer nada da vida além de mordomia, o pai decide mandá-lo trabalhar como carteiro em Smeerensburg, uma ilha muito distante no Círculo Ártico. Jesper tem o prazo de um ano para bater uma meta de cartas enviadas para poder voltar para casa. O problema é que Smeerensburg é povoada por duas famílias rivais, os Krum e os Ellingboe. A única preocupação dessas famílias é atacar uns aos outros diariamente, mantendo viva a tradição de séculos. Dessa forma, ninguém daquela ilha tem o menor interesse em mandar cartas.
Preocupado com a possibilidade de não cumprir sua meta, Jesper se desespera procurando soluções e acaba encontrando uma ao conhecer Klaus, um marceneiro de poucas palavras que vive isolado em uma casa no ponto mais alto e distante da ilha. Uma das habilidades desse marceneiro é fazer brinquedos. Em sua jornada, Jesper também se aproxima de Alva, uma professora frustrada que passou a vender peixes e pretende tentar a vida fora da ilha, pois as famílias de lá não mandam as crianças para a escola. No desenrolar da história, Alva também contribui com o plano de Jesper para que ele consiga entregar todas as cartas.
Através desses personagens e desse enredo, Klaus reinterpreta a origem da figura mais emblemática do natal: o Papai Noel. A narrativa se constrói com a intenção de mostrar que o objetivo de Jesper é o elemento essencial para o surgimento dessa lenda. É muito interessante ver como as dificuldades e as soluções encontradas pelo protagonista do longa vão, pouco a pouco, provocando o surgimento de cada elemento que compõe a história do Papai Noel: a entrega dos presentes; a descida pela chaminé; as renas que voam; a roupa vermelha; os duendes e até mesmo o fato de que as crianças que se comportam mal não ganham presentes.
Mas essa animação não se limita a falar apenas da origem do maior símbolo natalino. É possível perceber algumas temáticas bem interessantes que são trabalhadas dentro da trama. A maior delas talvez seja a questão do altruísmo. O filme mostra como um ato bondoso é capaz de despertar a bondade nas pessoas, gerando mais atitudes positivas e provocando grandes mudanças.
Outro ponto interessante trazido pela narrativa é a educação como agente de transformação. Naquela cidade cheia de ódio e ignorância, as crianças que buscaram aprender foram essenciais para provocar uma mudança de cenário. Acho que é um ponto muito válido de ser mostrado em um filme de animação onde grande parte do público é infantil, mas não deixa de ser importante também para o público adulto. Afinal, será que o mundo estaria desse jeito se todos soubessem a importância da educação?
Com relação ao visual, Klaus segue uma linha estética que lembra muito as animações dos anos 90, dando aquela sensação aconchegante e nostálgica. Os cenários são bem ricos nos detalhes e o uso das cores e texturas é belíssimo. A produtora de Sérgio Pablos, The Spa Studios, desenvolveu uma técnica exclusiva para o filme através do uso de luz e sombra, conseguindo quebrar os limites do 2D, incrementando alguns aspectos do 3D.
Assim como qualquer filme, existem alguns aspectos que não foram tão bem trabalhados. Um deles é o desenvolvimento do protagonista. Dentre os personagens que mais aparecem na história, ele é o que tem menos profundidade, até porque sua personalidade é formada basicamente por clichês. Outro ponto diz respeito ao ritmo do filme, que falha em alguns momentos. Determinados problemas na história se resolvem de maneira muito simples e rápida.
De maneira geral, o filme agrada bastante e é divertido. Klaus trabalha a temática natalina de maneira exemplar e além disso traz outros assuntos que provocam reflexões importantes. Já podemos considerar que está nascendo um novo clássico natalino. Obrigada pelo presente, Netflix.
Formada em Cinema e Audiovisual Carlini, ou “Carolcol” para os íntimos, é animadora, roteirista e dona das melhores tiradas no site Twitter. Por fora parece a Docinho mas por dentro é a Lindinha das Meninas Super Poderosas, inclusive no tamanho. Carol é a única pessoa do mundo que nunca viu Dragon Ball e não entende quem não acha graça no Último Programa do Mundo.