Após o relativo sucesso de público de Angry Birds: O Filme (Angry Birds, 2016), baseado no famoso game para mobile dos passarinhos raivosos contra os terríveis porcos verdes, a Sony Pictures Animation naturalmente tinha em seus planos uma continuação para as aventuras de Red e sua turma na Ilha dos Pássaros. No novo filme, com uma equipe de produção completamente diferente a de seu antecessor, a Ilha dos Pássaros vive intercalando entre momentos de paz e de “tretas” com seus vizinhos suínos da Ilha dos Porcos. Red vive a glória de ser o herói da ilha, após os eventos do resgate dos ovos do primeiro filme, e assegura este posto mantendo o lugar a salvo dos planos de Leonard, rei dos porcos. Mas logo surge uma nova ameaça que coloca em perigo as duas ilhas rivais, forçando os eternos inimigos a unirem forças para combater esse novo e terrível mal.
O acertado elenco de vozes, em sua maioria formado por atores de comédia, encabeçado por Jason Sudeikis, Josh Gad, Danny McBride, Bill Hader e a voz forte de Peter Dinklage, retorna para seus personagens, então foi uma pena ter visto o filme dublado, mesmo sabendo que animações tradicionalmente chegam por aqui com suas versões em português. Mas posso afirmar que a dublagem em nossa língua ficou bastante satisfatória, como têm sido com várias outras animações distribuídas no Brasil ultimamente. O filme, assim como o primeiro, é quase totalmente baseado em gags e piadas rápidas, no entanto esta continuação deixa muito a desejar em relação ao anterior, com um humor muitas vezes forçado demais, além de um plot inacreditavelmente batido e, sendo assim, previsível.
Entretanto é possível encontrar alguns poucos pontos positivos no filme, como por exemplo o subplot dos filhotes e sua tentativa de resgate, que é realmente hilário, algo que me fez lembrar a epopeia do esquilo Scrat da franquia A Era do Gelo. Mas também, algo que o primeiro filme deixa passar, a presença de uma personagem feminina forte e determinada se juntando ao grupo. Silver (voz de Rachel Bloom no original), apesar de seguir o estereótipo da nerd chata super-inteligente, acaba sendo fundamental para a jornada do grupo de heróis. O ponto negativo é a desnecessária criação de um romance entre ela e o protagonista Red, reforçando a velha ideia de que sempre que há personagens masculinos e femininos isso tenha obrigatoriamnte que acontecer, o que sabemos não ser verdade. Por outro lado, com exceção de Silver, os outros acréscimos no grupo de heróis, especialmente os do lado dos porcos, acabam sendo completamente inúteis, tanto na própria jornada como nas piadas que proporcionam.
O filme também perde a oportunidade de construir um bom vilão para substituir os porcos do filme anterior, mas faz da águia (?) Zeta a vilã mais genérica o quanto foi possível, com uma motivação simplória demais, funcionando apenas como mais um dos vários geradores de piadas infames do filme (não consegui achar o cachorro congelado engraçado em nenhum momento). Ao menos conseguiram minimamente manter, mesmo que em um nível mais baixo, a coisa mais engraçada do filme anterior, a dupla Chuck e Bomb.
No fim das contas, Angry Birds 2: O Filme (The Agry Birds Movie 2, 2019) é um bom entretenimento para as crianças, e certamente arrancará boas gargalhadas e suspiros dos pequenos, mas não trás nada de muito inovador, nem no aspecto técnico nem em seu enredo, o que com certeza vai deixar alguns pais e acompanhantes bem entediados na cadeira do cinema.
Cineasta e Historiador. Membro da ACECCINE (Associação Cearense de Críticos de Cinema). É viciado em listas, roer as unhas e em assistir mais filmes e séries do que parece ser possível. Tem mais projetos do que tem tempo para concretizá-los. Não curte filmes de dança, mas ama Dirty Dancing. Apaixonado por faroestes, filmes de gângster e distopias.