É de conhecimento de muitos que antes da Disney comprar a Marvel e começar assim a franquia conhecida como MCU, os X-Men estiveram no cinema com suas histórias sendo trazidas à vida. No comecinho dos anos 2000 deu-se início a essa saga que, apesar de não ser tão concisa como a Saga do Infinito capturou muitos fãs. Isso se dava pelo fato dos X-Men serem heróis conhecidos, com direito a não apenas quadrinhos mas também vários desenhos animados.
Em X-Men: O Confronto Final (X-Men: The Last Stand, 2006) vimos a Saga da Fênix sendo adaptada, com muitas mudanças e muitos enredos paralelos e perpendiculares a ela. Em seu centro não tínhamos Jean Grey como protagonista, mas sim ocupando o local de donzela em perigo e de vilã. O protagonista era o Wolverine de Hugh Jackman, em mais um filme. Treze anos depois tivemos a chance de ver a ideia de Simon Kinsberg trazida às telonas de forma mais fiel aos desejos do mesmo. Dessa vez não haveria um diretor com suas próprias ideias para convergir, não haveriam brigas com o ator que interpretava o Ciclope para diminuir o papel do personagem no filme, seria a versão de Kinsberg para o seu filme.
Agora em 2019 tivemos um filme dos X-Men com maior destaque da personagem de Jean Grey, alguém cuja franquia original dos mutantes não conseguiu dar a merecida adaptação. Não pela atuação de Famke Janssen, mas sim pelo roteiro e também pela época no qual o filme foi feito. Infelizmente tivemos uma Jean Grey cujo papel era despertar interesse de Logan e ser disputada entre ele e o Ciclope. Agora, interpretada por Sophie Turner, podemos mergulhar mais na personalidade e na origem da telepata e telecinética.
Seria considerado uma sequência de X-Men: Apocalipse (X-Men: Apocalypse, 2016)? Não posso falar ao certo sobre a continuidade e as sequências dos filmes dos mutantes desde X-Men: Primeira Classe (X: First Class, 2011), pois de um filme para o outro temos dez anos e os personagens ao longo desses anos envelheceram menos de cinco. Outro fator interessante é a demonstração de poder feita por Jean Grey no confronto contra Apocalypse (Oscar Isaac) cujo resultado é mostrar a presença da Fênix dentro da personagem. Aqui a Fênix é algo novo, uma força cósmica responsável pela vida, assim como nos quadrinhos, que entra em Jean.
Sem levar continuidade entre essa bagunçada franquia, o filme tenta muito e falha miseravelmente em muitas de suas tentativas. Primeiramente ele falha ao se encontrar quanto a filme, pois os enredos se embaralham e as motivações de seus personagens principais não se fazem claras. Muitas vezes as cenas parecem estar lá sem motivo algum, nem sequer como fan service. Outras parecem cenas colocadas ali apenas pelo peso de seus diálogos forçados com fito de parecer filosófico.
Para aqueles indo ao cinema ainda com a mínima ideia de que os responsáveis pelos filmes leram algum quadrinho ou sequer assistiram aos desenhos, desistam. Vamos encontrar os X-Men sendo liderados pela Mística (Jennifer Lawrence) e trabalhando lado a lado com o presidente. A equipe com trajes sem cor e sem graça, conseguindo ser menos inovadores e interessantes do que os trajes da franquia original. Outro ponto interessante é o fato de muito ouvirmos falar sobre como o time é uma família e vermos um total de quase nada disso sendo mostrado antes deles estarem lá lutando por suas vidas.
Um dos pontos positivos, no entanto, é a representação adequada de Charles Xavier (James McAvoy) e como seu personagem usa de suas habilidades telepáticas ou até de seu papel como figura paterna para manipular os demais e alcançar seus objetivos. Os diálogos entre McAvoy e Lawrence nesse filme são realmente dignas de um filme dos X-Men, mesmo que muitos fãs estejam acostumados com a imagem de um Professor X de fato benévolo e não manipulador. Apesar de minhas ressalvas com o personagem de Lawrence, que de nenhuma forma é a Mística ou uma adaptação fiel da personagem bissexual e vilanesca, suas cenas com Nicholas Holt, que interpreta o mutante Fera, são algumas das poucas do filme que eu realmente compro.
É interessante olhar a diversidade dos personagens presente no filme, a enorme quantidade de personagens interessantes nas mãos da Fox e mesmo assim eles escolhem não explorar nenhum desses personagens adequadamente. O grande destaque de X-Men: Dias de um Futuro Esquecido (X-Men: Days of Future Past, 2014) – Mercúrio (Evan Peters) – cujo enredo era ser filho do Magneto, tem menos de seis minutos em tela e sua conexão com o Mestre do Magnetismo não é sequer citada. Tempestade (Alexandra Shipp), a mutante adorada nos quadrinhos como uma deusa na África pelos seus poderes, é uma das personagens membros do time com menos falas e reduzida em certa cena a uma máquina de gelo.
As cenas de luta do filme são bem agradáveis de serem assistidas, especialmente se vistas em IMAX. Necessário desconsiderar as leis da física em alguns momentos ou não questionar como deveriam funcionar os poderes de alguns personagens e além de tudo é bom estar preparado para se sentir assistindo um episódio de The Walking Dead no último ato do filme. O enredo pode até não ser dos melhores mas as cenas de demonstração de poderes, em particular da personagem de Sophie Turner, são de tirar o fôlego.
Voltando ao que deu errado, somos apresentados a alguns antagonistas nesse filme e, sinceramente, eu penso se os antagonistas não necessitavam de tanta inovação. Afinal, eles são apenas quem está atrás da força cósmica dentro de Jean Grey. Os fazer alienígenas sem dar maiores explicações de como alienígenas existem ou se a humanidade sabe da existência fora da Terra parece um enorme despreparo. A personagem de Jessica Chastain poderia ter sido muito melhor aproveitada se não fosse pelo contexto espacial de sua origem e suas motivações aparentemente rasas.
Para concluir essa saga, Fênix Negra foi um final adequado e certamente superior à Apocalypse, com mais aprofundamento de uma personagem não antes aproveitada. Infelizmente o gosto deixado ainda é de um remake de O Confronto Final com menos personagens. X-Men: Fênix Negra é um filme com muitas falhas e bem confuso, mas também é um filme capaz de agradar e entreter. Só não é de se esperar alguém ter muito o que falar dele em alguns meses, quando provavelmente já terá sido esquecido em meio a muitas novidades.
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Cineasta graduade em Cinema e Audiovisual, produtore do coletivo artístico independente Vesic Pis.
Não-binarie, fã de super heróis, de artistas trans, não-bináries e de ver essas pessoas conquistando cada vez mais o espaço. Pisciano com a meta de fazer alguma diferença no mundo.