Rocketman – A história mágica e surpreendente de um rockstar

 

Meses atrás, me deparei no Youtube com o trailer do filme Rocketman (2019), cinebiografia da estrela da música mundial Elton John, estrelado por Taron Egerton, e fiquei intrigada com a proposta que aquela pecinha de audiovisual estava me apresentando e, tendo uma queda pelo Taron desde Kingsman: Serviço Secreto (Kingsman: The Secret Service, 2014), fiquei ansiando por esse filme. Semana passada, o filme estreou e eu pude conferir a totalidade daquela obra e definitivamente adorei.

Particularmente, eu não sou fã do Elton e tenho a impressão de que para muitas pessoas com menos de 30 anos, o cantor é mais conhecido pela trilha sonora de O Rei Leão (The Lion King, 1994) ou por ser um artista ouvido pelos pais. Não que ele não seja um grande ícone da música mundial, o que sem sombra de dúvidas ele é, mas a visibilidade deste artista cedeu espaço para novos astros nos últimos anos. E talvez seja justamente esse o fato que incrementou o fascínio que o filme provocou em mim.

Curiosamente, minha infância foi banhada pelas músicas de Elton John. Eu era muito fã de Rei Leão quando pequena e tenho uma tia que é tão fã dele quanto eu sou da Beyoncé, o que significa que qualquer oportunidade que ela tinha de ouvi-lo, ela o fazia. Assim, conheço várias de suas músicas, seus grandes sucessos, mas não o ouvia fora desses contextos e sabia muito pouco sobre a vida do artista. Então, quando o filme estreou, chamei essa minha tia para ir comigo ao cinema, na última sessão do dia, e só havia nós duas na sala.

Ali, naquele espaço gigantesco todinho só nós duas, eu fui apresentada a um artista magnânimo e a uma história sobre alguém extremamente resiliente.

O filme tem um recorte de alguns anos, estendendo-se desde a infância de Elton, na década de 50, ao final dos anos 80, início dos anos 1990, quando o cantor atinge um ponto de virada e busca ajuda para sair de uma situação desafiadora.

 

Na verdade, os pontos de virada, os grandes marcos, são aquilo que nos guia durante todo filme. A história é contada a partir de eventos famosos e icônicos da carreira de Elton John e não necessariamente existe um compromisso com a forma ou temporalidade de alguns desses eventos, mas isso não chega a ser algo que confunde a trama ou destoe completamente da realidade. Existe uma licença poética na construção da narrativa para que a experiência do público seja mais dinâmica sem que isso de alguma forma ofenda a integridade da biografia.

Nos primeiros minutos, somos introduzidos a uma sessão de terapia, na qual Elton passa a narrar fatos determinantes na construção de sua pessoa e de sua persona artística. E a escolha de trazer o público para uma circunstância de vulnerabilidade, como é a terapia dá o tom do filme: estamos diante de uma pessoa que fez coisa extraordinárias, mas que é tão humano quanto eu e você.

O filme utiliza-se de elementos lúdicos para colorir os momentos da vida do músico que estão sendo contados, literalmente percebemos a mágica da arte que está sendo produzida ali e a mensagem que aquela arte transmite. Existe um ar de fantasia permeando toda a experiência, que, surpreendentemente, proporciona ao público jogar um olhar empático quando nos são apresentados temas delicados como relações familiares disfuncionais, a vivência da sexualidade e o consumo abusivo de drogas. Afinal, todos nós já sentimos “borboletas” no estômago, já nos sentimos tão extasiados, que parecemos flutuar ou tão tristes que é como se o mundo ao nosso redor não tivesse luz.

Não existe acovardamento da obra ao tratar de assuntos polêmicos e, ainda assim, existem sutilezas na narrativa. O objetivo não é chocar o público sem propósito claro, mas trazer a realidade para a tela, sem romantizações ou demonizações.

Sendo uma cinebiografia de Elton John, o figurino é um espetáculo à parte. Elton sempre utilizou esse elemento na essência de suas performances e através dele, vemos que a vestimenta tem caráter múltiplo, comunicando posturas, fazendo que a personalidade de quem a usa venha à tona de forma gloriosa e, ao mesmo tempo, funcionando como uma armadura, que protege e isola o artista do mundo.

O elenco do filme é excelente, destacando-se Bryce Dallas Howard, no papel de Sheila, a mãe do cantor, e Taron Egerton, que canta as músicas do filme, com voz e personalidade próprias. Não vemos na sua performance uma mera imitação de Elton John, mas a essência da obra do cantor está toda lá.

Honesto e surpreendente, esse filme é um musical que tem o potencial para agradar diversos públicos, desde o fã àquele que não conhece a carreira do artista. É pra sair do cinema encantado e começar a ouvir Elton John sem parar por dias seguidos!