No último domingo foi ao ar o 12º episódio dessa longa nona temporada de The Walking Dead. Intitulado Guardians (Guardiões) o episódio manteve a média de qualidade do anterior, bem como o ritmo que a série escolheu tomar já há algum tempo, segurando algumas informações e se demorando em algumas decisões, talvez numa esperança de manter a pouca audiência que a série ainda consegue cativar.
Aqui seguimos recebendo informações sobre os Sussurradores, seu modo de vida e organização social. Já havíamos entendido em Bounty (S09E11) que o grupo não é tão pequeno quanto se imaginava e que seguem cegamente a liderança de Alpha (Samantha Morton), fazendo sacrifícios dolorosos em prol da ordem da temível líder, que vem se mostrando uma vilã implacável e de uma frieza que ainda não havíamos visto na série. Agora, como esperado, sabemos que há um Beta (Ryan Hurst), que funciona mais como o brutamontes lacaio da líder Alpha do que como um segundo em comando propriamente dito. No entanto, entendemos também que a liderança de Alpha não é totalmente incontestável, ou pelo menos não tanto quanto já foi um dia, e que isso pode se tornar um problema para a delicada organização do grupo. Questionada sobre o real intuito do resgate a Lydia (Cassady McClincy) a líder faz de tudo para tentar manter a aparente frieza estratégica acima do instinto maternal e logo faz uma demonstração, tanto para seu grupo quanto para seu prisioneiro Henry (Matt Lintz), de quem realmente manda por ali.
Por falar nisso, Henry segue se mostrando um dos personagens mais fracos e desinteressantes da temporada, ainda mais pela importância que vem tomando no plot dos Sussurradores. A esta altura já sabemos que uma pessoa que toma tantas decisões erradas e, porque não dizer idiotas, como é o caso do rapaz, já deveria ter virado almoço de caminhante há muito tempo. E ouso dizer que, muito em breve, este deva ser o destino de Henry, apenas para ser mais uma motivação para que personagens mais importantes que o amam sintam-se na obrigação de vingar sua morte, fazendo de Henry um recurso de roteiro bastante preguiçoso.
De outro lado o plot político parece estar se desenvolvendo de uma forma muito interessante, o que é muito bem vindo e necessário para o momento em que a série se encontra. Ainda que não saibamos os motivos dos desentendimentos entre as cinco comunidades (Alexandria, Hilltop, Reino, Santuário e Oceanside) sabemos que esta querela precisa ser resolvida para a sobrevivência de todas elas. A forma enfática como Michonne (Danai Gurira) vem tentando boicotar a presença de Alexandria na aguardada Feira pode fazer sentido levando-se em consideração o argumento da segurança da comunidade, mas vai completamente de encontro às opiniões da personagem antes da passagem de tempo, quando acreditava que a união entre as comunidades seria a responsável pela permanência destas, o que nos deixa ainda mais curiosos sobre os acontecimentos desta elipse que não vimos.
Como também já era esperado, tudo indica que Negan (Jeffrey Dean Morgan) venha a se tornar o indesejável aliado de Alexandria nestes tempos difíceis que estão por vir. Após sua fuga e inesperado (ou não) retorno para sua fria cela o debochado vilão tenta dialogar com uma Michonne cada vez mais estressada pela falta de controle que sua liderança tem se tornado, e mesmo que ela não tenha levado nem um pouco em consideração as palavras do prisioneiro, foi de sua filha Judith (Cailey Fleming) a voz suave que a fez refletir sobre a humanidade e, quem sabe, a serventia que Negan poderia oferecer.
Por último o plot menos necessário da temporada, na minha humilde opinião, a bagunça envolvendo Eugene (Josh McDermitt), Gabriel (Seth Gilliam), Siddiq (Avi Nash) e Rosita (Christian Serratos). Sério, qual a necessidade disso? Havia mesmo espaço para este tipo de discussão neste momento da série? Talvez a intenção seja apresentar problemas corriqueiros de uma sociedade comum acontecendo no meio da adaptação ao apocalipse zumbi. Ou então simplesmente mais um dos muitos equívocos que a série parece não conseguir se esquivar. A verdade é que a vontade de pegar o celular e ver as notificações quando estes personagens aparecem em tela é difícil de resistir.
Ainda assim, temos algumas coisas interessante acontecendo e prestes a acontecer nesta reta final de temporada, e algumas coisas ainda precisam ser melhor explicadas para que o espectador da série engula melhor, como os reais benefícios de se viver como vivem os Sussurradores (porque eu, sinceramente, não consigo enxergar isso) ou Negan possivelmente se tornando um aliado dos nossos protagonistas.
Cineasta e Historiador. Membro da ACECCINE (Associação Cearense de Críticos de Cinema). É viciado em listas, roer as unhas e em assistir mais filmes e séries do que parece ser possível. Tem mais projetos do que tem tempo para concretizá-los. Não curte filmes de dança, mas ama Dirty Dancing. Apaixonado por faroestes, filmes de gângster e distopias.