Essa semana marcou o retorno da nona temporada de The Walking Dead, e marcou também o pior índice de audiência da série, o que acaba deixando claro que: é tempo de parar. Eu sei disso, você sabe disso, até os atores sabem disso. Então por que continuar insistindo em uma narrativa monótona e com pouca margem de interpretação, que aparentemente já atingiu seu prazo de validade?
O episódio nove, intitulado Adaptation (Adaptação), começa exatamente após a morte de Jesus (Tom Payne) e a fuga do grupo após o encontro com os Sussurradores. A partir daí, somos levados a acompanhar três tramas durante o episódio: Michonne (Danai Gurira), Daryl (Norman Reedus) e os outros em Hilltop após retornar com o corpo de Jesus e terem capturado uma integrante do grupo rival, Luke (Dan Fogler) e Alden (Callan McAuliffe) que saem em busca de Michonne e dos outros e acabam se desencontrando e Negan (Jeffrey Dean Morgan), que consegue fugir de Alexandria após o Padre Gabriel (Seth Gilliam) esquecer a porta de sua cela aberta.
A partir daí o episódio segue um ritmo quase que monótono de variação entre as três tramas, fazendo com que seus picos de tensão se tornem desinteressantes para o decorrer da narrativa. Michonne, Daryl e o resto do grupo seguem matando mais Sussurradores até chegarem em Hilltop, e acabam capturando uma jovem e levando para interrotório. O dilema de o que fazer para conseguir as informações necessárias é apresentado, e, caso não conhecêssemos nossos personagens, poderia até surgir a seguinte dúvida: seriam eles capazes de tortura-la para descobrir o que ela sabe? Talvez alguns não se lembrem, mas durante a segunda temporada, quando o grupo original liderado por Rick e Shane ainda estava na fazenda de Hershel, eles se deparam com uma situação parecida: capturam Randall, um jovem pertencente a um grupo rival que atacou-os na cidadezinha perto da fazenda. Daryl espanca Randall múltiplas vezes até que ele revele as informações que eles precisam para garantir a segurança do grupo, e tanto isso, quanto mais tarde a decisão de matá-lo (tomada durante uma votação organizada por Dale para tentar salvar a vida do garoto) gera uma série de debates e de questionamentos das morais de cada um ali. Agora, na nona temporada, já está estabelecido que não, o nosso grupo de sobreviventes favoritos não é capaz de torturar uma garota para obter informações, mesmo que mais tarde ela seja condenada a morte – decisão que agora cabe a Tara (Alanna Masterson) , que assume a liderança de Hilltop após a morte de Jesus. Isso combinado ao fato de que Henry (Matt Lintz), que ainda está preso por sua bebedeira da noite anterior, começa a estabelecer uma relação com a garota dentro da cela (da forma como Carl teria feito se ainda estivesse vivo) nos leva a questionar novamente qual o sentido dessa narrativa, se não nos mostra mais nada de novo.
Esse episódio também apresenta a perspectiva de Negan, fora de sua cela após seis anos de confinamento. Aqui a narrativa fica até um pouco mais interessante, e podemos ver como a sua relação com Judith (Cailey Fleming) foi se desenvolvendo ao longo dos anos, chegando ao ponto em que ela o deixa escapar com a promessa de que atiraria nele se o visse novamente perto de Alexandria. Fora dos muros, Negan começa uma jornada num mundo onde (novamente, algo que nós já estamos cansados de saber) você não consegue sobreviver se estiver sozinho. Enfrentando uma série de dificuldades na sua jornada, ele consegue chegar na fábrica onde costumava existir o Santuário, e se depara com a sua insignificância perante o tempo e o espaço. Negan não é nada sem seus homens, sem sua lábia e muito menos sem Lucille, e ele sabe disso. É interessante ver como o episódio joga o espectador para um lugar quase que de torcer por Negan, o que na minha opinião não acrescenta em nada porque como torcer e ter empatia por um personagem que nós amamos odiar? Na sua jornada de volta (porque sim, ele decide voltar para Alexandria) fica o questionamento também de qual o sentido dessa relação que ele possui com Judith, que mais uma vez o encontra antes de todos os adultos e decide não matá-lo. A garota é uma pequena prodígio, e chega a ser cômico que ela, com apenas 8 anos, consiga ser muito mais competente do que muitos adultos experientes da série. Não pude deixar de comparar a relação de Negan e Judith com a relação que ela teria com Rick caso ele não tivesse sumido, e me incomoda que mais uma vez os produtores estejam querendo quase que tapar buracos deixados por alguns personagens em vez de tentar criar novas dinâmicas ainda não estabelecidas.
Por fim, vemos a breve parceria de Luke e Damien, que é uma relação nova na série e funciona bem (Dan Fogler carrega muito bem sua presença de cena e faz com que a narrativa se mova de forma fluída), mas, novamente, como não temos familiaridade com ambos os personagens, pouco nos interessa o que acontece ou deixa de acontecer com eles. Apesar disso, esse terceiro segmento serviu como um respiro entre o peso da monotonia das duas tramas principais, e foi a partir daí que descobrimos a verdadeira extensão do grupo dos Sussurradores, mesmo que já tivesse ficado bastante óbvio que a dupla estivesse se dirigindo para uma armadilha.
No geral, o episódio dessa semana decepciona. Essa resenha foi difícil de escrever porque o episódio foi difícil de assistir, e como fã que acompanha a série desde 2010, as próximas palavras doem um pouco ao serem escritas mas são necessárias: The Walking Dead precisa acabar. E logo, antes que a narrativa perca completamente o sentido e a essência, e antes que todos os personagens que tanto amamos acabem sendo apagados (Danai Gurira já confirmou que sairá da série na próxima temporada). Foram nove anos de altos e baixos, mas ainda assim foram nove anos bons, e o que acontece é que já passou da hora de dar um fim a essa história e talvez continuar com algo novo. No mais, continuamos acompanhando até quando for possível, na esperança de que as coisas melhorem (o que acho difícil acontecer) ou que finalmente possamos ter um fechamento da nossa narrativa pós-apocalíptica preferida.
Graduada em Cinema e Audiovisual. Roteirista, produtora, feminista e a pisciana mais ariana do mundo. Fã de Buffy, Harry Potter e Brooklyn 99, Gabi passa seu tempo ensinando que não se deve sentir vergonha das coisas que gostamos, nem deixar de questionar as coisas só porque gostamos delas.