Alita: Anjo de Combate – Uma boa adaptação do mangá na terra do Tio Sam

Gunnm Hyper Future Vision ou como é conhecido no ocidente Battle Angel Alita é um mangá japonês lançado e publicado entre dezembro de 1990 e abril de 1995. Originalmente, publicado em nove volumes, mas no Brasil, em sua última edição, saiu em quatro volumes formato big pela editora JBC. O filme Alita: Anjo de Combate (Alitta: Battle Angel, 2019) é a adaptação americana dessa obra para a linguagem cinematográfica dirigida por Robert Rodriguez e com estreia nesta quinta, dia 14 de fevereiro de 2019.
O filme mantém a essência original do mangá, seja na sua construção de mundo ou nas personalidades de seus personagens. Pouco é explicado o que aconteceu, mas o filme se passa 300 anos no futuro, após uma trágica guerra que destruiu todas as cidades flutuantes, com exceção de uma, Zalém. Ninguém que mora na cidade de baixo sabe o que acontece na parte de cima. Não há contato ou diálogos, os moradores só recebem o lixo e o descartável que vem dos céus. Há um bom tom de crítica social nessa divisão entre a sociedade de elite que habita Zalém e a ralé quem mora na cidade inferior. É nesse clima meio cyberpunk e pós-guerra que humanos e cyborgs convivem e que se desenvolve a história.

Por si esse argumento já traz consigo uma riqueza de mundo muito boa, o desenvolvimento das personagens também contribui muito para o realismo daquele mundo. Tudo parece muito verossímil com o mundo e com as ações. Os personagens são críveis. Principalmente Alita interpretada por Rosa Salazar; o Doutor Ido vivido por Christoph Waltz e Vector com Mahershala Ali em seu papel. Todos são muito bons atores e conseguem deixar sua marca durante o filme. Único ponto negativo é que por se tratar de uma obra oriental a não presença de um ator ou atriz japonesa empobrece o filme. Ele cai no erro das adaptações americanas de obras japonesas tal como A Vigilante do Amanhã: Ghost in The Shell (Ghost in the Shell, 2017) e Death Note (2017).
O visual do filme é incrível, se possível, veja na maior tela possível, eu vi em IMAX e realmente a experiência foi outra. O filme tem muito CGI, mas ao contrário de vários outros genéricos de ficção científica, aqui ele está a favor do filme. É por meio dele que é possível vislumbrar toda construção de mundo e de personagens, já que a maioria que aparece são cyborgs. Contudo, em alguns momentos fica perceptível que se trata de um CGI, principalmente nas cenas em que Alita e Ido tem algum contato físico, seja segurando a mão ou abraçando.
O roteiro e a direção do filme são bons. Rodriguez fez muito bem em respeitar a obra original, não houve grandes mudanças do material fonte para a obra final. Claro que por se tratar de linguagens diferentes, algumas coisas foram ajustadas, mas nada que tire a essência do mangá. O filme adapta boa parte do primeiro volume da edição brasileira. Ele é tão respeitoso com a obra original que algumas sequências são idênticas as páginas do Yukito Kishiro. Única ressalva aqui são os diálogos. Alguns estão completamente deslocados do contexto e acabam atrapalhando o ritmo do filme, a exclusão desses diálogos e a redução do filme em uns 20 minutos o deixaria mais redondo e sem aquela sensação de que o tempo às vezes não passa.
Alita: Anjo de Combate é um bom filme que traz entretenimento com um mundo pós-guerra e cyberpunk com bons personagens e boas sequências de ação. Trata-se de uma boa adaptação de um dos mangás mais importantes do gênero e que influenciou tanto o cinema (muito dos conceitos aqui aparecem em Matrix, por exemplo) quanto autores de comics e outros mangakas ao redor do mundo.