Os Titãs são o grupo de super heróis da DC Comics, formado principalmente dos parceiros dos heróis da editora, com uma formação muito variável ao longo da história da equipe. A maioria do público está acostumada com a formação vista no antigo desenho animado Os Jovens Titãs (Teen Titans, 2003-2006) (Robin, Estelar, Ciborgue, Ravena e Mutano) que durou cinco temporadas e foi seguido pela animação Os Jovens Titãs em Ação! (Teen Titans Go!, 2013-) com uma narrativa mais cômica e infantil com a mesma equipe. Em 2017 a DC anunciou o DC Universe, seu próprio serviço streaming que contaria com todas as animações e filmes feitos pela empresa de quadrinhos. Com o avanço da plataforma do serviço de streaming, também foi anunciada uma série original do serviço chamada Titãs (Titans) com a data de lançamento para 2018 com uma equipe semelhante às dos desenhos mas na forma de uma adaptação mais adulta – não estranho à audiência das séries da Marvel Netflix.
Aos poucos, anúncios foram feitos sobre o elenco da série que teria Brenton Thwaines como o Dick Grayson, o primeiro a assumir o manto do Robin. Ainda não era de conhecimento geral muito sobre o enredo, até mesmo o quanto da equipe a série iria explorar. A escalação dos demais personagens da equipe titular causou muitas reações negativas, Estelar seria interpretada por Anna Diopp, Ravena seria interpretada por Teagan Croft e Ryan Potter como Mutano. Durantes as filmagens foram capturadas algumas fotos de set, que fizeram os fãs dos quadrinhos e internautas em geral criticarem muito a série por sua pegada mal feita. O figurino de Estelar foi uma das coisas mais criticadas, comparações com prostitutas e coisas do tipo. As críticas foram muito direcionadas à atriz Anna Diop, que chegou até a desativar seu Instagram devido aos comentários odiosos.
O serviço DC Universe lançou o primeiro episódio da série, que passou a ser semanal no serviço, no dia 12 de Outubro. A série trouxe um primeiro episódio não apenas recheado de referências, mas mostrando que apesar de o Universo além da série estar bem estabelecido, os personagens protagonistas do novo show teriam enredos dignos de se esperar uma semana para acompanhar. Enquanto os enredos de Dick e Rachel (Ravena) se entrelaçam logo de imediato, somos mostrados o paradeiro de Kori Anders (Estelar) tentando encontrar-se. Literalmente. Rachel está fugindo das pessoas que mataram sua mãe e querem fazer o mesmo com ela por acreditarem que ela é a entrada para uma força do mal pra este mundo e ela chega até o Departamento de Polícia de Detroit e, consequentemente, Dick, que ali está trabalhando desde que se mudou de Gotham.
Já no primeiro episódio somos bem introduzidos às motivações e aos nossos protagonistas em combates, temos a chance de ver cada um deles usando de suas habilidades. Observar a forma como Robin luta contra os criminosos na cena do beco é realmente pesado, um tanto gráfico. Mas é exatamente isso que vai contra o que falavam que a série seria, pois toda a filmografia é digna de um filme – mas somos oferecidos isso durante dez semanas totalizando dez horas. A narrativa da série trabalha bem as pausas no enredo principal, desenvolvendo um pouco as origens e os passados dos personagens. Somos introduzidos também a outros personagens do universo DC, alguns dos quais o serviço streaming pretende fazer maior uso no futuro como a Patrulha do Destino – que ganhará uma série própria anunciada para o ano que vem.
O respeito ao material original também é um fato muito importante nesta série, que é uma adaptação e consegue mudar muito nas histórias e características dos personagens mas sem desrespeitar as origens dos personagens nos quadrinhos. O visual da Estelar, embora pareça fora de lugar com toda a série devido a ser muito chamativo, é uma referência a como a personagem se veste não só nos quadrinhos mas em todas as adaptações. Com a desculpa de que Koriand’r (nome original da Estelar) precisa absorver a luz do sol para ter seus poderes, artistas frequentemente a desenham semi-nua. Embora a fonte de poder seja a mesma, o Sol, não somos acostumados a ver um Super-Homem de sunga ou coisa do tipo. Muitas das críticas da série se deram pelo fato da produção ter escolhido uma atriz negra para o papel de Estelar, afirmando que a personagem é originalmente branca. Dois argumentos contra isso: Kori teve sua primeira aparição marcada por traços afrodescendentes e ela é uma alien de Tamaran de pele laranja.
É a primeira vez desde o aclamadíssimo filme Batman & Robin (1997) que o personagem de Dick Grayson é interpretado por um ator. Brenton é capaz de entregar uma interpretação bem desenvolvida e palpável do adulto que Dick se tornou após anos lutando contra o crime ao lado do Batman. Os traumas de Dick com o seu passado e a vida que ele viveu com Bruce são um fator decisivo para a relação paternal que o personagem tem com Rachel. Os figurinos da série trazem de forma bem prazerosa os designs dos quadrinhos à vida, sem parecer irreal ou falso de alguma forma. A melhor parte disso é que o uniforme do Robin é diretamente adaptado dos quadrinhos, com todas as cores vibrantes do Garoto Prodígio.
Embora cada um dos personagens apresentados tenha uma dinâmica bem diferente com os demais, cada uma dessas relações é única e bem interessante de se ver. Até o momento ainda é necessário explorar mais as relações dos demais com o Gar, também conhecido como o Mutano. Além disso os personagens desenvolvem cada vez mais suas origens e suas histórias, captando bem o interesse da audiência. A temporada ainda está na metade, mas baseado nos episódios lançados até o momento se apresenta cada vez mais como uma adaptação adulta dos quadrinhos do Titãs capaz de cativar a atenção e curiosidade com um enredo bem conciso e personagens com suas próprias histórias e desenvolvimentos.
Temos o fio condutor, que se trata de descobrir e proteger a personagem Rachel de forças que planejam a destruir ou a usar para um mal maior. Através desta história conhecemos os outros personagens, cada um com sua própria motivação que terminam se entrelaçando no enredo sobre os poderes de Rachel. Com o avanço da história não conhecemos mais sobre a história dos personagens principais, mas temos também cada vez mais informações sobre o universo da série. Aos poucos somos mostrados sobre como a equipe que virá a ser conhecida como Titãs se formou e também a como – nos quadrinhos – houve uma equipe de heróis mais jovens antes desta.
A série será disponibilizada no Brasil pela Netflix ainda esse ano uma vez que todos os episódios sejam lançados pelo DC Universe.
Cineasta graduade em Cinema e Audiovisual, produtore do coletivo artístico independente Vesic Pis.
Não-binarie, fã de super heróis, de artistas trans, não-bináries e de ver essas pessoas conquistando cada vez mais o espaço. Pisciano com a meta de fazer alguma diferença no mundo.