Em novembro de 2003 chegava aos cinemas o filme Oldboy (Oldeuboi), dirigido pelo sul-coreano Park Chan-wook. O filme é uma adaptação de um mangá homônimo lançado entre os anos de 1996 e 1998. Ele também é o segundo filme daquela que é conhecida como trilogia da vingança com Mr. Vingança (Boksuneun Naui Geot, 2001), OldBoy (2003), Lady Vingança (Chinjeolhan Geumjassi,2005). O tema da violência é recorrente na filmografia de seu realizador.
A adaptação não é feita de uma forma literal. O filme toma muitas liberdades poéticas. Talvez o termo mais apropriado seja inspirado ao invés de uma adaptação. Pois os acontecimentos se passam em países diferentes, no mangá a história é no Japão, no filme, na Coréia do Sul. Os personagens e motivações também têm seus nomes e situações alterados. O que permanece é a trama central. Um personagem é mantido em cárcere privado durante um longo período de tempo (10 anos no mangá e 15 no filme) sem saber o motivo, ao ser liberto, ele resolve ir atrás dos mandantes daquela situação. A partir desse plot básico a narrativa do filme se desdobra em diversos caminhos possíveis. Acompanhamos assim a jornada de Oh Dae-su (Choi Min-sik) e sua busca por vingança.
Estilisticamente talvez seja o trabalho mais maduro do diretor até então na sua carreira. Seus filmes anteriores, embora bons, não apresentavam esse grau de complexidade. A escolha de uma obra com bastante subtexto ajudou muito, mas é notório as qualidades de seu realizador em criar planos funcionais e sequências memoráveis narrativamente falando. Impossível assistir ao filme e não se impactar com alguma cena ou sequência, principalmente com uma temática tão pesada e com tanta violência, seja física ou emocional. Certamente aqui o diretor teve uma liberdade que talvez não tenha tido em seus filmes anteriores. Só para não ficar sem exemplificar há pelo menos três momentos que merecem destaques. 1) O momento em que o personagem principal arranca os dentes de outro personagem com a parte de trás do martelo. 2) O plano sequência do corredor com uma trilha sonora que eleva a potência da cena. 3) O ato final quando o protagonista descobre do incesto que cometeu com sua filha, ele não sabia quem era e ao descobrir que era sua filha isso destruiu emocionalmente o personagem. Todas essas cenas são obras do filme e não estão presentes no mangá.
A fotografia e a trilha sonora do filme também merecem destaques. A primeira pela cinematografia cinzenta construída em uma Seul aparente decadente do final dos anos 90 e início dos anos 2000. A escolha dos planos em conjunto com a direção do filme ressaltaram o poder narrativo deste, certamente são escolhas muito bem pensadas e executadas. A trilha sonora, seja a musical ou de ruídos, também é bem feita. Todos os ambientes, objetos, personagens tem um peso sonoro bem construído, a trilha musical, nem há o que comentar, é espetacular, aliada com uma boa fotografia, concebe momentos inesquecíveis de um pungente cinema da Coréia do Sul.
É sempre um prazer rever Oldboy. Nesses quinze anos a obra só cresceu. Ela foi responsável por elevar o prestígio de seu diretor que ganhou em 2004 o prêmio Gran Prix no Festival de Cannes. Revisitar essa obra depois de tanto tempo é interessante para comprovar que ela ainda tem seu valor, seja estético ou narrativo. Park Chan-wook consegue transformar um mangá mediano em um filme que tem seus momentos de brilhantismo e que certamente ocupará sempre um lugar de destaque na história do cinema da Coréia do Sul e no cinema mundial.
Atual Vice-presidente da Aceccine e sócio da Abraccine. Mestrando em Comunicação. Bacharel em Cinema e formado em Letras Apaixonado por cinema, literatura, histórias em quadrinhos, doramas e animes. Ama os filmes do Bruce Lee, do Martin Scorsese e do Sergio Leone e gosta de cinema latino-americano e asiático. Escreve sobre jogos, cinema, quadrinhos e animes. Considera The Last of Us e Ocarina of Time os melhores jogos já feitos e acredita que a vida seria muito melhor ao som de uma trilha musical de Ennio Morricone ou de Nobuo Uematsu.