Theodor Seuss Geisel, mais conhecido como Dr. Seuss, foi um dos mais cultuados escritores de livros infantis de todos os tempos, tendo escrito mais de 40 livros, muitos deles adaptados para o cinema ou a TV. As histórias que Seuss escrevia e ilustrava, apesar de serem para crianças, continham um alto grau de peculiaridades (para não dizer esquisitices), mas puxavam muito para o lado psicológico trazendo ensinamentos que aparentavam ser simples, mas que entregavam grandes reflexões.
Talvez a mais famosa de suas adaptações seja a versão dirigida por Ron Howard de
O Grinch (How the Grinch Stole Christmas, 2000), inspirado no livro
How the Grinch Stole Christmas! publicado em 1957, com Jim Carrey trazendo todos os seus maneirismos e trejeitos ao rancoroso personagem verde e usando uma maquiagem que beirava o bizarro, mas que deu o Oscar da categoria ao filme no ano seguinte. Outro
live action foi lançado em 2003, dessa vez adaptando o livro
The Cat in the Hat também de 1957, com Michael Myers no papel do protagonista, numa tentativa de repetir o sucesso de Carrey em O Grinch, mas fracassando completamente. O desgosto de
O Gato (The Cat in the Hat, 2003) foi tão grande que a filha de Dr. Seuss, Audrey Geisel, detentora dos direitos sobre as obras de seu pai, prometeu que não mais permitiria nenhuma adaptação em
live action de seus livros.
Assim, a primeira adaptação após esta proibição foi a animação
Horton e o Mundo dos Quem! (Horton Hears a Who, 2008), produzido pela
Blue Sky, da franquia A Era do Gelo. Em seguida a
Illumination, jovem produtora de animação que têm se destacado após o sucesso de
Meu Malvado Favorito (Despicable Me, 2010) e suas continuações e
spin offs , decide fazer sua própria adaptação de Dr. Seuss com
O Lorax, em Busca da Trúfula Perdida (The Lorax, 2012), e essa mesma
Illumination este ano decide arriscar uma nova adaptação de
O Grinch (The Grinch).
Para quem ainda não conhece a história vou tentar resumir. Em algum lugar existe uma vila chamada Quemlândia, onde vivem os Quem, criaturas parecidas com os humanos que estão sempre felizes e adoram comemorar e festejar tudo, mas sua festa mais esperada do ano com certeza é o Natal, onde todos os Quem não veem a hora de encher suas casas e toda a vila com infinitos enfeites, fazer banquetes com inúmeras comidas deliciosas e cantar músicas de natal até doer a garganta. Enquanto isso, no topo de uma montanha ao lado de Quemlândia vive uma criatura verde conhecida como O Grinch e seu simpático cachorrinho Max. O principal passatempo do Grinch é odiar tudo e qualquer coisa, mas não há nada que o Grinch odeie mais do que o Natal e toda a felicidade que este traz aos Quem de Quemlândia. Um dia o Grinch tem uma ideia maléfica: roubar o Natal. É basicamente isso.
Por ser uma animação voltada para o público infantil esta nova versão traz um humor bem físico e simples, que, em certa medida, funciona, e, diferente do Grinch mais vilanesco de Jim Carrey (que me lembra o monstro Grendel das histórias de Beowulf) este se apresenta mais como alguém que se diverte em pregar peças e sempre atrapalhar a incessante alegria dos Quem, e a sequência em que desce à vila para comprar mantimentos é realmente divertida. Mas é interessante como eu, particularmente, senti uma imediata empatia pela criatura verde, afinal não há nada mais irritante do que pessoas que parecem estar sempre felizes e positivas 24 horas por dia, 7 dias por semana, uma ilusão que têm sido cada vez mais agravada pelas redes sociais que nos fazem parecer ter uma vida infinitamente pior do que qualquer pessoa daquela timeline. Deste modo, compreendi a irritação do Grinch e me lembrei de uma outra animação que aborda um tema similar, o terrível Trolls (2016) que prega quase que uma ditadura da felicidade, algo que é colocado em cheque e levado à uma ótima reflexão em filmes como Uma Aventura Lego (The Lego Movie, 2014) e Divertida Mente (Inside Out, 2015).
A falta de inovação também pode ser observada na própria animação em si, demonstrando uma preguiça da produtora em criar designs mais inventivos para os cenários e personagens que parecem os mesmos de suas outras animações. Nem mesmo a trilha musical do veterano Danny Elfman conseguiu dar vida ao filme, e a dublagem de Lázaro Ramos como o protagonista na versão brasileira, apesar de esforçada, só me fez ter saudade da voz de Guilherme Briggs que deu voz à versão de 2000.
Infelizmente esta nova versão não traz quase nada de novo à história, servindo apenas para apresentá-la às novas gerações, o que é ótimo, mas não é o bastante, perdendo a oportunidade de aprofundá-la. A melhor adaptação do livro segue sendo, disparado,
O Estranho Mundo de Jack (The Nightmare Before Christmas, 1993).
Cineasta e Historiador. Membro da ACECCINE (Associação Cearense de Críticos de Cinema). É viciado em listas, roer as unhas e em assistir mais filmes e séries do que parece ser possível. Tem mais projetos do que tem tempo para concretizá-los. Não curte filmes de dança, mas ama Dirty Dancing. Apaixonado por faroestes, filmes de gângster e distopias.