Cenas que mais me marcaram no Cinema – Parte 1 | Elvio Franklin

Dia desses fui desafiado por meu amigo, e também colaborador aqui do SMUC, Thiago Sena, pra pensar e selecionar as 10 cenas do cinema que mais me marcaram de alguma forma. De início fiquei muito empolgado, quem me conhece sabe que eu tenho uma fraqueza por ler e fazer listas de filmes, séries, cenas, essas coisas, mas depois bateu o desespero, porque 10 cenas é muito pouco e eu certamente acabaria deixando muita coisa maravilhosa de fora (o problema mais recorrente sobre fazer listas). Mas, depois de me acalmar um pouco, fui revendo algumas que foram surgindo na minha cabeça. Claro que de cara algumas cenas icônicas foram surgindo, a sequência inicial magnífica de O Poderoso Chefão (The Godfather, 1972), ou a de Era Uma Vez no Oeste (C’era Una Volta il West, 1968), com os bandidos esperando silenciosamente a chegada do trem que traria Charles Bronson, ou a inacreditável atuação de Daniel Day-Lewis e Paul Dano na sequência do boliche em Sangue Negro (There Will Be Blood, 2007), enfim, pelo menos uma centena de imagens vieram a minha cabeça em um turbilhão maravilhoso e estonteante.
Mas aí refleti que na verdade a proposta não seria selecionar as cenas que eu julgo mais importantes para o cinema, ou as mais bem produzidas tecnicamente, mas sim as que marcaram minha vida, aquelas que quando eu lembro ou revejo dá aquele arrepio e aquece o coração, não necessariamente as mais emocionantes ou as que vi mais vezes, mas aquelas que tem um significado na minha vida que é difícil explicar. Então é isso, muitas ficaram de fora obviamente, é inevitável, mas estão aqui as 10 cenas que eu vejo e quando terminam eu só consigo pensar “eu amo o cinema”.

Drive

“elevador”

Quando assisti Drive (2011), do diretor Nicolas Winding Refn, pela primeira vez confesso que, por algum motivo, não me impressionei muito com o filme, talvez não estivesse bem atento ou não me deixei levar pela obra. Mas quando me deparei com o filme uma segunda vez parecia que não era o mesmo que havia visto no cinema pouco tempo antes, fiquei completamente apaixonado, tanto pelo estilo técnico do filme, cheio de exageros visuais e musicais que são usados maravilhosamente, quanto pela complexidade da narrativa e daqueles personagens (magistralmente interpretados por todo o elenco). Esta cena do elevador pra mim é o ponto central do filme, tanto pelo diálogo que a precede quanto pelo silêncio e pela crueza que a compõe. É possível entender todo o filme através desta cena, e eu fico em êxtase só de pensar nisso.


Capitão Fantástico

“sweet child o’ mine”

A cena mais recente da lista faz parte de um filme que me tocou de uma forma que eu não consigo explicar muito bem, então não vai ser aqui que eu vou fazer mais uma tentativa, só vou dizer que é um dos filmes que guardo com mais carinho no meu coração. Ela funciona como um desfecho narrativo, quando Ben (Viggo Mortensen apaixonante) e seus filhos finalmente conseguem se despedir da mãe, e claro, não de uma forma triste como é socialmente comum, mas pelo contrário, com uma alegria contagiante. A fala de Ben, demonstrando todo o amor que sente, todos pegando suas varetas pra contribuir com a fogueira e, claro, a música que parece ter sido feita pra esse momento, cantada e tocada pelos filhos.
PS: a despedida de Bodevan no final quase foi a cena escolhida, e ela é incrível, mas convenhamos que crianças cantando e tocando são praticamente imbatíveis.

Bastardos Inglórios

“gorlaaami”

Bastardos Inglórios é um filme genial, em inúmeros sentidos. Eu quase escolhi a épica cena inicial, com o interrogatória do Coronel Hans Landa, ela é realmente inacreditável, assim como muitas outras do filme, mas eu tive que escolher esta que considero uma das cenas mais engraçadas do cinema! Sério, às vezes quando tô meio cabisbaixo a revejo tendo a certeza de que vou dar umas boas gargalhadas (só de lembrar já tô rindo aqui). E não é só as falas de Brad Pitt e companhia tentando parecerem cineastas italianos (e falhando miseravelmente), mas toda a situação, desde o plano idiota até o comportamento bizarro e ameaçador do Coronel (sério meu povo, o que é o Christoph Waltz nesse filme??!), a cara de bosta deles (e nossa) quando o Coronel começa a falar em um italiano perfeito e o melhor, a cara de Pitt parecendo que vai dar uma gaitada a qualquer momento.

Onde os Fracos Não Tem Vez (No Country fo Old Men, 2007) talvez seja o filme que eu mais gosto de conversar sobre, sério, se quiser puxar uma longa conversa comigo é só tocar no nome desse filme. Talvez seja também o filme que eu mais me animo pra rever e prestar atenção nos mínimos detalhes, já o fiz inúmeras vezes e cada vez me surpreendo mais com o que os Coen fizeram aqui. Mas esta cena em especial sempre me faz prender a respiração. O diálogo todo em plano e contra-plano, os planos detalhe e o zoomzinho lento quase parando, unidos à interpretação monstruosa do Javier Bardem (mas é preciso observar que Gene Jones também está excelente), tudo isto faz uma das cenas mais memoráveis que eu já vi.

Lilo & Stitch

“Ohana quer dizer família”

Agora vamos pra algo mais leve. Minha infância (e boa parte da minha adolescência) pode ser muito bem definida por “animações da Disney”, sem exagero. E tenho meus preferidos, Mogli, o Menino Lobo (The Jungle Book, 1967), Robin Hood (1973), Tarzan (1999) (são muitos, e todos com cenas incríveis que poderiam ter entrado na lista), mas dentre eles o que mais me tocou certamente foi Lilo & Stitch (2002). O significado da fala de Lilo nesta cena e a forma como ela é construída me marcaram de forma a levar isto comigo pelo resto da vida. Família vai muito além de um laço consanguíneo, são as pessoas que não o abandonam ou esquecem quando você mais precisa, nos momentos bons e nos ruins. E a forma singela como este ensinamento entra na cabeça do pequeno alienígena azul selvagem (e do pequeno Elvio de 12 anos) e retorna ao final do filme pra mim é uma das coisas mais lindas do cinema.

Gladiador

“my name is Maximus Decimus Meridius…”

Meu pai foi o grande responsável por me jogar nesse mundo de cinefilia em que vivo hoje, então são muitos os filmes (e gêneros) que me fazem lembrar do velho, mas Gladiador (Gladiator, 2000) é um dos que lembro de assistir ao seu lado (possivelmente mais de uma vez) e de nos empolgamos e nos arrepiarmos juntos durante todo o decorrer do filme. E esta é a cena que mais me recordo da reação dele, quando Maximus (Russell Crowe) revela seu rosto e seu nome ao incrédulo Commodus (Joaquin Phoenix), o responsável pela destruição de sua vida, e ali, no meio do Coliseu, jura sua vingança! É de ficar em pé na rede, meus amigos!
PS: aqui quase entrou o discurso de William Wallace (Mel Gibson) em Coração Valente (Braveheart, 1995), outro dos filmes preferidos do meu pai.

O Auto da Compadecida

“deixa João voltar”

Outro dos filmes que eu não me canso de rever de jeito nenhum. O Auto da Compadecida (2000) fez parte da minha adolescência e não me largou mais até hoje, quando faço referência e repito as falas dos personagens. Esta cena tem uma força incrível, reúne a crítica social que permeia o filme inteiro por trás da cortina do humor. A fala da Mãe de Deus, interpretada pela imortal Fernanda Montenegro, ao interver por João Grilo (Matheus Nachtergaele inesquecível), quando nem ele mesmo acreditava em sua redenção, se dirigindo às portas do inferno, no texto sublime de Ariano Suassuna, e o golpe final vem com as fotografias dos sertanejos e retirantes, tantos outros que como João precisaram resistir com muita fé e muita coragem às agruras da seca.

Curtindo a Vida Adoidado

“quem você ama?!”

Sessão da Tarde moldou o caráter de toda uma geração, né, meu povo? São vários os filmes desta época de reprises e mais reprises que poderiam entrar aqui, e por mais que ame Curtindo a Vida Adoidado (Ferris Bueller’s Day Off, 1986), o que mais se aproxime de ser meu preferido seja Conta Comigo (Stand By Me, 1986). Mas veio das “altas confusões” da “turminha” de Ferris uma das cenas que mais marcou minha adolescência e segue sendo uma das minhas preferidas do cinema mesmo depois de tanto tempo. Todo mundo queria ser o Ferris (Matthew Broderick), mas na verdade todo mundo era mesmo o Cameron (Alan Ruck), isso não é segredo pra ninguém. Pelo menos no meu caso a identificação que eu tinha com o personagem era enorme. Então a cena, no final, quando Cameron tem sua catarse colocando pra fora toda a mágoa com o pai frente a um Ferris e uma Sloane (Mia Sara) incrédulos era o maior abrir de olhos que eu podia ter àquela época.

O Senhor dos Anéis: a Sociedade do Anel

“…of course you are, but I’ll come with you”

Não vou me deter muito aqui na importância e no impacto que O Senhor dos Anéis (tanto livros quanto filmes) teve na minha formação, então vou deixar claro que foi quase impossível encontrar uma cena dentre toda a trilogia que mais representasse essa importância. Depois de muito matutar fui em A Sociedade do Anel, que é, sem dúvida, meu preferido da trilogia, fiquei tentado a colocar a sequência belíssima do Condado no início, o primeiro encontro entre Frodo (Elijah Wood) e Gandalf (Ian McKellen) e o percurso na carroça até o Bolsão sempre me deixam sem fala e com um sorriso de orelha à orelha. Mas cheguei à conclusão de que o finalzinho, após a fragmentação da Sociedade, quando Frodo decide que precisa levar aquele fardo sozinho, entrando no barco e começando a remar, é a cena que mais me marca. É claro que meu herói Samwise Gamgee (Sean Astin) não deixaria seu melhor amigo sozinho naquela missão, e a amizade de Sam volta muitas vezes a impulsionar a jornada da destruição d’O Anel (a subida na montanha da perdição é incrível também), mas é naquele momento no rio, quando quase morre afogado, que Sam se entrega a seu destino e demonstra que uma grande amizade, mesmo entre seres tão pequeninos e insignificantes, pode salvar o mundo inteiro.

Jurassic Park: Parque dos Dinossauros

“welcome to Jurassic Park”

Já esbocei aqui em outras ocasiões o meu sentimento por Jurassic Park: Parque dos Dinossauros (Jurassic Park, 1995), mas resumindo: foi o filme que primeiro me fez amar o cinema, que após assistir tantas e tantas vezes me fez escolher o cinema como a coisa a que eu dedicaria a minha vida inteira. Esta cena tem um gosto especial pra mim, a forma como o Dr. Grant (Sam Neill) e a Dra. Ellie (Laura Dern)  reagem ao ver um dinossauro de verdade pela primeira vez e tão próximo, a fala do Dr. Malcolm (Jeff Goldblum maravilhoso!) e a cara de satisfação de Hammond (Richard Attenborough) unidos à música não menos que perfeita de John Williams, além do próprio dinossauro, que hoje pode ser considerado um efeito especial grosseiro, mas naquela época era impecável, tudo isso representa a primeira vez em que olhei pra um filme não mais como um mero espectador esperando se divertir com mais um filme, mas como um apreciador de algo que merecia toda minha atenção, de onde seria impossível tirar os olhos (e ouvidos) dali em diante, assim como um paleontólogo que vê um dinossauro vivo pela primeira vez.