Nessa última semana, a Netflix lançou mais uma de suas séries animadas e, assim como muitas pessoas, fui pega de surpresa por essa novidade. Trata-se de Hilda, uma série baseada em uma graphic novel de mesmo nome, escrita e ilustrada pelo cartunista britânico Luke Pearson. Confesso que fiquei encantada só de assistir o trailer dessa animação, então fiz questão de conferir todos os episódios para poder trazer as minhas impressões para vocês. Fiquem tranquilos, não tem spoiler.
A história, que se inspira muito no folclore escandinavo, acontece em um mundo fantástico onde habitam diversas criaturas mágicas. Hilda é uma menina muito corajosa e aventureira. Ela adora sair para explorar e fazer amizade com os incríveis seres da floresta, onde vive com sua mãe. Porém, as duas passam por alguns problemas com criaturas que vivem próximas a elas e acabam tendo que se mudar para a cidade grande. A partir desse acontecimento, acompanhamos Hilda na tentativa de se adaptar à nova vida na cidade.
Hilda, mesmo triste por ter saído de onde morava, se esforça para se acostumar com a nova realidade e fazer amizade com outras crianças, já que os únicos amigos dela antes eram os seres da floresta. Nesse processo, ela se depara com algumas crianças que são totalmente diferentes dela: perturbam os outros e desrespeitam a natureza. Em cada episódio é possível notar algum acontecimento que compare a vida da Hilda de antes com a de agora, e a própria personagem levanta questionamentos sobre como a cidade funciona, o porquê das coisas serem como são e como se dá a relação das pessoas com o ambiente em que vivem.
Durante sua jornada, Hilda desenvolve uma amizade com duas crianças: Frida e David. Os dois personagens possuem algumas características em suas personalidades que não encontramos na protagonista. Hilda é muito aventureira, curiosa, adora resolver mistérios. Ela muitas vezes age pela emoção. Já Frida é uma menina que adora seguir as regras e planejar tudo bem direitinho antes de fazer alguma coisa. É a melhor aluna da escola e a melhor da turma dos escoteiros. E enquanto Hilda é a corajosa do grupo, David é o medroso, preguiçoso e distraído, mas um amigo fiel. Ele topa tudo, mesmo com medo. É David quem muitas vezes traz o alívio cômico da série. Algo muito louvável nessa obra é o desenvolvimento dos personagens ao longo dos 13 episódios de 24 minutos. É possível perceber a evolução e o amadurecimento de cada um deles durante toda a série, principalmente de Hilda, Frida e David. Hilda pertence ao gênero de fantasia e, diferente de muitos cartoons populares, possui momentos de humor muito sutis, com piadinhas que quase passam despercebidas, muitas vezes fazendo referência à cultura britânica, e com boas pitadas de sarcasmo por parte de alguns personagens.
A proposta da série se assemelha muito a de Gravity Falls: Um Verão de Mistérios (Gravity Falls, 2012 – 2016), pois tem toda essa questão de investigar mistérios. Já o clima da história lembra bastante O Segredo Além do Jardim (Over the Garden Wall, 2014). É fofo e sombrio ao mesmo tempo. Além do clima, a própria estrutura dos episódios também é semelhante. Cada capítulo tem uma aventura diferente, mas existe a narrativa principal que segue uma sequência e as informações vão sendo acrescentadas ao longo do processo, ou seja, se você pular algum episódio ou assistir fora de ordem, provavelmente irá perder informações importantes da história. Pode parecer uma comparação meio nada a ver, mas não posso deixar de dizer que a série me faz lembrar de uma outra queridinha minha que não é animação: Stranger Things (2016 -). Por conta dos momentos sombrios, da amizade entre as três crianças e, principalmente, da trilha sonora.
O traço simples traz um ar mais clássico para a animação, o que é interessante pois foge um pouco do estilo dos cartoons atuais. O trabalho de cor é maravilhoso. A protagonista fica bem destacada dos demais, mas sem ser destoante. Todo o visual é bem agradável e traz uma sensação de aconchego. É importante destacar que a série tem tudo para agradar tanto criança como adultos. Tudo é feito na medida certa. A gente se diverte com os momentos de alívio cômico, se envolve com a relação entre os personagens e também com seus conflitos internos, se angustia nos momentos de tensão, mas tudo isso com muita leveza e com aquela sensação de quentinho no coração o tempo inteiro.
Resumindo, Hilda foi uma surpresa muito agradável para mim. A doce garotinha do cabelo azul me conquistou com as suas aventuras. Eu poderia falar aqui de todas as criaturas incríveis que a história apresenta, mas não quero estragar a surpresa para ninguém. Então, façam um favor a si mesmos e assistam essa série que é muito amorzinho.
Formada em Cinema e Audiovisual Carlini, ou “Carolcol” para os íntimos, é animadora, roteirista e dona das melhores tiradas no site Twitter. Por fora parece a Docinho mas por dentro é a Lindinha das Meninas Super Poderosas, inclusive no tamanho. Carol é a única pessoa do mundo que nunca viu Dragon Ball e não entende quem não acha graça no Último Programa do Mundo.