Missão: Impossível – Efeito Fallout – a importância de se reinventar dentro de seu próprio gênero

A franquia Missão: Impossível teve sua estreia nos cinemas em 1996, como uma adaptação da série de TV dos anos 60, cuja trama apresentava uma agência secreta que teria que realizar missões que não poderiam ser reconhecidas pelo governo, e portanto, caso seus agentes fossem pegos, suas ações seriam tidas como criminosas. O primeiro filme fez sucesso, garantindo uma sequência que veio 4 anos depois, Missão: Impossível 2 (Mission: Impossible II, 2000), considerado pela grande maioria como o único filme de qualidade duvidosa da franquia. Somente 10 anos depois do início desta saga cinematográfica a franquia iria se reinventar com Missão: Impossível 3 (Mission: Impossible III), ou carinhosamente, M:I3, filme este que é considerado o início de uma nova era, e o primeiro filme de importância narrativa para esta sexta produção.
Missão: Impossível – Efeito Fallout (Mission: Impossible – Fallout, 2018) estreia hoje nos cinemas, sendo o primeiro dos filmes que funciona como uma sequência direta de seu antecessor, e se apresenta como um capítulo de fechamento de uma quadrilogia iniciada por M:I3. Em “Fallout”, depois que uma missão dá errado por conta de uma decisão sua, Ethan Hunt (Tom Cruise) tem que lutar contra o tempo para impedir que uma organização derivada do Sindicato, os Apóstolos, use bombas nucleares para fomentar guerras ao longo do globo. Hunt convoca seu time da IMF, composto por Luther (Ving Rhames) e Benji (Simon Pegg), retoma uma antiga parceria com a agente do MI6 Ilsa Faust (Rebecca Ferguson) e tem de lidar com novas companhias não muito confiáveis, como o agente da CIA August Walker (Henry Cavill) e a Viúva Branca (Vanessa Kirby).
O maior destaque de “Fallout” é na realidade algo que pode ser visto como um erro em um primeiro momento. Ao iniciar, o filme esconde uma informação chave que tanto seu protagonista quanto o público desconhecem. Na grande maioria dos filmes de ação, assim como nos próprios “Missão: Impossível”, o público parte na busca pela informação junto a seu protagonista, com o momento de descoberta sendo geralmente a grande virada da trama. “Fallout”, o sexto filme de uma franquia de ação, vale ser ressaltado, não se preocupa com isso. Ele entrega a seu público a informação chave logo de cara, como se dissesse: “Tá aqui, isso que você iria passar o filme todo procurando, nas suas mãos, agora sente confortavelmente na sua poltrona e aproveite a viagem”.
E é exatamente isso que acontece. Uma viagem em que você pode observar a jornada de seu protagonista em busca da informação que você já tem. “Mas é tão óbvio!”. Então por que o incrível, habilidoso e competente Ethan Hunt ainda não percebeu? Você começa a analisar as motivações e pontos de vistas dos personagens até o momento surpreendente (até para você!) da descoberta. Um detalhe como esse pode não fazer tanta diferença para muitas pessoas, mas como anteriormente mencionado, este é o sexto filme de uma franquia de ação, um gênero que é constantemente colocado em uma caixa de “ser tudo a mesma coisa”, tanto nas tramas quanto na ação de fato.
“Missão: Impossível” já vem fugindo dessa caixa há um bom tempo. A cada filme aumentando mais e mais a escala de suas grandes cenas de ação; criando dispositivos tecnológicos críveis, por mais que sejam as mais impossíveis ferramentas já feitas; e nunca deixando que seu herói se mostre como imbatível. Porque, convenhamos, se no final do dia Ethan Hunt vence, ele o faz com todo tipo de problema sendo jogado para ele resolver, o que geralmente o deixa coberto de hematomas (e um tornozelo quebrado).
“Missão Impossível: Efeito Fallout” honra cada filme de sua franquia, sem excessão, de forma natural, promovendo para os grandes fãs da saga momentos incontáveis de puro êxtase. Desde a menção de um personagem do primeiro filme, a uma homenagem clara a uma famosa cena de ação do segundo filme, e assim por diante. Nenhum momento icônico é esquecido, e fica até difícil compará-lo a qualquer um dos longas, quando ele é uma bela junção de todos eles.
Se há uma falha a ser apontada neste filme, é a apresentação de seu MacGuffin (objetivo que o protagonista persegue para mover o enredo), que acontece de forma um tanto confusa e atrapalhada, deixando uma questão de “por que eles têm que fazer isso mesmo?” no ar por uma boa parte da segunda metade do filme. Isto de forma alguma afeta a experiência do longa, pois tudo começa a se esclarecer eventualmente e a participação de cada personagem do filme faz sentido.
O elenco, vale dizer, é uma das maiores compilações de pessoas bonitas e carismáticas do cinema, todas com bons papéis. Rebecca Ferguson continua estonteante e Henry Cavill não fica pra trás no carisma, em um personagem que está sempre tirando Ethan do sério. Simon Pegg continua provando que Benji foi a melhor adição de personagem da franquia (mais um mérito de M:I 3), e até mesmo a ausência de Jeremy Renner, que estava ocupado filmando “Vingadores 4”, foi devidamente encaixada (lê-se nem um pouco sentida).
“Missão Impossível: Efeito Fallout” é a recompensa perfeita pra quem vem acompanhando a franquia desde os primórdios, e um ótimo incentivo para quem não conhece, começar a conhecer. Além disso, o longa é um excelente exemplo de como os filmes de ação devem continuar, sim, a se reinventar, para dar aquilo que o público quer, e Tom Cruise certamente sabe fazer isso como ninguém (e ainda bem que isso só lhe custou um tornozelo quebrado, quando, pela escala das cenas vistas no filme, poderia ter sido algo bem pior).