Kazuhiro Tsuji, o artista por trás da maquiagem de O Destino de Uma Nação

 

“As ilusões são para a alma o que a atmosfera é para a terra” já dizia a escritora Virginia Woolf, em seu livro Orlando. Mas levando essa frase para o contexto cinematográfico, as ilusões são para o expectador também como uma atmosfera, e o cinema é uma das artes que exercem com maestria a produção ilusões. Dentre todos os profissionais envolvidos em uma produção de cinema, os maquiadores de efeitos são uns verdadeiros magos na alteração da percepção. Tentarei traçar o perfil de grandes nomes na arte da maquiagem de efeitos para cinema. Profissionais que nos fazem apertar os olhos e pesquisar nas gavetas da memória quem é o ator que está diante de nós nas telas. Começaremos com a história de Kazuhiro Tsuji.
Premiado com o Oscar em 2018, aos 48 anos, o maquiador e artista japonês, apresentou um magnífico trabalho com a caracterização do ator Gary Oldman, em O Destino de Uma Nação (The Darkest Hour, 2017). O filme apresenta a luta do primeiro-ministro britânico Winston Churchill durante a segunda guerra mundial.
Porém, muito antes do Oscar, a paixão começou ainda no ensino médio. Quando Tsuji entrou na única livraria em Kyoto, no Japão, que importava revistas e livros. Foi assim que ele teve acesso a revista ‘Fangoria’ e se deparou com um artigo sobre Dick Smith, considerado um dos maiores mestres de maquiagem de efeitos. O artigo mostrava como Smith havia feito uma super caracterização no ator Hal Holbrook para interpretar o presidente Abraham Lincoln, em uma minissérie no ano de 1976.
O Maquiador conta que na mesma hora pensou, “Ok, eu tenho que fazer isso. Eu estava realmente fascinado por como ele criou outro humano em cima da pessoa que estava atuando. Eu fiquei impressionado. Eu não sabia dizer como ele fez isso, então comecei a coletar informações em livros e revistas. Fui à biblioteca no ensino médio comecei a ler sobre escultura. Um pouco depois comecei a esculpir meu primeiro busto”.
Meses depois, o ainda estudante de maquiagem descobriu a caixa postal de Dick Smith e começou a manter contato lhe enviando fotos de seus trabalhos como amador, pedindo dicas e sempre tentando mostrar seu melhor. Todo esse esforço foi reconhecido por Smith, que lhe ofereceu um curso por correspondência e em seguida lhe indicou para trabalhar na equipe de outra lenda da maquiagem cinematográfica, Rick Baker, onde desenvolveu muitos trabalhos, até trabalhar na versão de Tim Burton de Planeta dos Macacos (Planet of the Apes, 2001) e conhecer Gary Oldman (apesar do ator não ter aceitado o papel para essa produção). Em 2012, o maquiador se aposentou da indústria cinematográfica e começou a se dedicar apenas a escultura.
E o que poucas pessoas sabem é que a escolha para que o artista japonês fosse o responsável pela maquiagem de O Destino de Uma Nação foi uma das condições impostas pelo próprio Oldman para aceitar o papel, por reconhecimento ao talento do profissional desempenhado no filme “Planeta dos Macacos”. E em 48 dias das filmagens, Tsuji e sua equipe produziu dezenas de moldes de rosto, criação de próteses, aplicação de rugas, cores de pele e dentro outros detalhes que totalizaram cerca de 200 horas de trabalho.
Sobre o processo da criação da maquiagem de Winston Churchill em O Destino de Uma Nação
 
“O primeiro passo foi tirar várias fotos do ator em diferentes ângulos, em seguida fazer uma varredura em 3D do corpo do ator, porque tivemos que deixá-lo pesado e transformá-lo no corpo de Churchill. Então, depois disso, começar a esculpir na cabeça de Gary. Precisei ver muitas fotos de Churchill e assisti documentários. Eu fiz muita captura de filmagens de Churchill. Então, com base nisso, eu compararia com o rosto de Gary e decidiria onde eu tinha que construir e o que mudar. A coisa é que, no entanto, não queremos fazer muito, porque não queremos colocar uma máscara nele. Ele tem que agir através da maquiagem. A parte difícil é encontrar um bom equilíbrio entre parecer Churchill, e ao mesmo tempo, Gary ainda poder expressar suas emoções”.
As prótese faciais para esse tipo de trabalho, são chamadas pelos profissionais de “O Aparelho”, o principal material do aparelho é o silicone. Há uma empresa chamada Mold Life, eles têm um produto chamado Platsil-10, é o silicone mais usado no meio, porém apenas com a técnica correta é possível ajustar a suavidade e torná-la realmente macia, para que pareça uma pele. O próximo passo, geralmente depois da escultura, será cortar em seções o aparelho e fazer novos molde de cada peça, após isso borrifamos um material plástico pra então se colocar silicone nele novamente. O silicone se torna um revestimento, uma pele com espessura para ser aplicada parte a parte no rosto do ator. Um vídeo pode ser visto aqui para ficar mais fácil de entender.
Surpreendentemente, Kazuhiro Tsuji  revela que seu principal objetivo é continuar a fazer escultura. “Eu ainda vou fazer design. Eu ainda amo o processo de maquiagem. Mas, eu não faço isso em tempo integral. Eu sinto que, ao fazer design e parte da maquiagem, estou devolvendo o que aprendi com Smith e Baker. E eu quero passar isso para os mais jovens. Isso é importante porque passei a maior parte da minha vida fazendo isso”.