Detroit: Become Human é o quinto jogo da desenvolvedora de jogos francesa Quantic Dream e o terceiro que eu jogo. O primeiro que joguei foi Heavy Rain, lançado em 2010 para PlayStation 3; o jogo seguinte foi Beyond: Two Souls, lançando em 2013 também para a mesma plataforma. Ambos receberam versões remasterizadas para PlayStation 4. Esses três últimos jogos se tratam de exclusivos da Sony.
Assim como fiz na minha resenha em vídeo, que você pode assistir aqui, pretendo dividir a análise em quatro aspectos: gameplay, gráficos, enredo e personagens. A gameplay do jogo é bastante similar aos seus antecessores, aqui é possível andar, falar e interagir com o cenário. Essencial para a mecânica do jogo, que é baseado em respostas e ações rápidas, a cada escolha a narrativa se desdobra por um caminho diferente. Embora essas ações não tenham muitas variações dentro do jogo, as opções são utilizadas de modo satisfatório na maioria das vezes. Ele não é mundo aberto, sendo na verdade bem retilíneo em alguns momentos seja com uma parede invisível impedindo o personagem de seguir para determinado lugar ou por meio de um pensamento do personagem alertando ao jogador que não é aquele o caminho. Isso pode ser um pouco frustrante principalmente se você como jogador for daquele que gosta de sair explorando por aí (no meu caso não foi um problema). Ainda falando da gameplay, um problema que fica explícito logo nos primeiros minutos de jogatina é a câmera, ela por vezes trava um movimento então você acaba saindo de um cenário e voltando para ele involuntariamente, isso na maioria das vezes passa, mas em situações que envolvam uma contagem regressiva ou ficar escondido, por exemplo, pode se tornar um problema para o jogador. Não percebi quebra de taxas de quadro e o jogo deu umas engasgadas umas duas vezes, mas só quando havia uma mudança grande de cenário.
Os gráficos do jogo até são bons, mas nada de muito espetacular. Individualmente cada personagem é bem feito, é possível ver suas feições, seus olhares e o jogador é capaz de sentir determinado sentimento do personagem por meio disso. Os planos abertos também são muito bonitos, principalmente em cenas de ambientação. Agora os gráficos tem uma queda bruta de qualidade quando se observa detalhes, seja em objetos domésticos, armas ou até mesmo quando há uma multidão. Portanto, é possível sim se divertir, mas tendo a noção que o jogo não é perfeito nesse sentido, cabendo melhorias em algumas partes do motor gráfico.
O enredo se passa na cidade de Detroit no ano de 2038. A humanidade vive em uma harmonia principalmente por conta de uma invenção: os androides. Máquinas criadas para afazeres do cotidiano, seja arrumar uma casa, ajudar na construção, ajudar em outros trabalhos, etc. O que muda no jogo e que dá início a narrativa é o surgimento de divergentes, androides que começam a ter sentimentos e emoções humanas e que por questões de maus tratos, por exemplo, acabam atacando humanos e se tornando criminosos. Essa seria uma sinopse mais livre de spoiler que poderia dar, mas o jogo vai bem mais além dessa premissa clichê. Questões como direitos civis, humanos, liberdade e aspectos sociais são o cerne e motor do jogo. Sua história é fundamental em um mundo como o nosso nos dias de hoje. Ele levanta a importância de se debater isso e promove uma reflexão sobre a intolerância e a violência contra aqueles que não são iguais ao padrão (no jogo o padrão são os humanos e os diferente, os androides, mas a metáfora vale para qualquer segmento da nossa sociedade). Desejei que todos pudessem jogar esse jogo (se você quiser só saber da história, assista a gameplay completa aqui no meu canal). Detroit: Become Human emula muito bem as ações que são tomadas por ódio ou raiva e suas graves consequências para aqueles que lutam por direitos iguais. Não digo que tenha um compromisso social tão forte, mas certamente faz com que seus jogadores tenham um mínimo de reflexão sobre o mundo atual.
O jogo tem três protagonistas que vivem suas histórias de maneira separadas e que de alguma forma tem uma ligação. Kara, uma androide doméstica; Connor, um androide policial; Markus; um androide assistente de um pintor. O background de cada um desses personagens é bem desenvolvido e suas motivações são reais. Enquanto um vive um constante conflito interno; outro se vê obrigado a tomar decisões e liderar um grupo de androides, enquanto o terceiro só quer proteger quem é importante para ele. No decorrer do jogo, eles interagem e se tornam parceiro de outros personagens que os ajudam a cumprir certos objetivos e passam a fazer parte da narrativa. Como o jogo é baseado em escolhas e ações com consequências diretas para a narrativa é possível que algum deles venha a morrer caso uma decisão errada seja tomada.
Detroit: Become Human é um jogo que tem seus defeitos e qualidades, mas a última realmente prevalece. Sua história é seu maior ponto forte, mantendo a tradição dos jogos antecessores da sua desenvolvedora. Os três protagonistas são carismáticos e bem desenvolvidos e todos têm sua jornada a ser cumprida. Contudo a grande herança do jogo é o discurso dos personagens e suas decisões, que levantam questionamentos e reflexões importantes para o mundo atual em que o ódio e a perseguição contra as minorias tem se destacado tanto.
Atual Vice-presidente da Aceccine e sócio da Abraccine. Mestrando em Comunicação. Bacharel em Cinema e formado em Letras Apaixonado por cinema, literatura, histórias em quadrinhos, doramas e animes. Ama os filmes do Bruce Lee, do Martin Scorsese e do Sergio Leone e gosta de cinema latino-americano e asiático. Escreve sobre jogos, cinema, quadrinhos e animes. Considera The Last of Us e Ocarina of Time os melhores jogos já feitos e acredita que a vida seria muito melhor ao som de uma trilha musical de Ennio Morricone ou de Nobuo Uematsu.