Na última sexta feira (18), a Netflix disponibilizou seu mais novo longa metragem original, Cargo (2018), trazendo Martin Freeman no papel de um pai (Andy) que precisa fazer de tudo para garantir a sobrevivência de sua filha (Rosie) após um vírus mortal ter se espalhado pelo mundo. Como boa fã de narrativas pós-apocalípticas que sou, vinha cultivando expectativas desde a divulgação do trailer do filme, que saiu há pouco mais de um mês, em que já dava pra perceber alguns elementos comuns a outros filmes de zumbi tão famosos e queridos.
Baseado no
curta metragem homônimo de 2013, “Cargo” foi escrito por
Yolanda Ramke, e dirigido por ela e
Ben Howling, ambos também responsáveis pelo curta original. É dos mesmos produtores de
O Babadook (The Babadook, 2014), e conta com Martin Freeman, Anthony Hayes e a jovem Simone Landers, que faz o papel de Thoomi, uma menina aborígene que se torna aliada de Andy na sua busca por segurança para a bebê Rosie.
As planícies australianas são palco para o desenrolar da jornada de pai e filha. Após um acidente em que Andy acaba sendo infectado pela própria mulher, ele só possui 48 horas até que se torne um perigo para Rosie e para todos os não infectados, começando, assim, uma corrida contra o tempo em busca de abrigo, comida e alguém que possa ser responsável não só pela vida mas pela criação e proteção da bebê.
O longa é classificado como suspense, mas as cenas de suspensão dentro do filme são poucas. Ele foge das características “clássicas” de filmes de zumbi: sem os chamados jump-scares, sem cenas explícitas de carnificina e canibalismo, sem o ritmo acelerado da perseguição pessoa versus monstro. A carga emocional está sempre presente, e são exploradas as relações familiares durante o decorrer da trama. O vínculo que Andy estabelece com os sobreviventes que encontra, mesmo que brevemente, dá ao filme um tom dramático que funciona bem com o peso da atuação de Freeman e Landers, diferenciando-o do clichê que algumas narrativas sobre zumbis vêm apresentando nos últimos anos.
As falhas também estão presentes no longa: logo no começo, percebe-se a falta de algumas explicações necessárias para o melhor compreendimento dos infectados, assim como alguns personagens surgem sem contexto na trama. Ainda assim, a carga dramática explorada é tanta que esses problemas se tornam pequenos perto do que o filme se propõe a retratar, como o medo da perda pode afetar negativamente a busca de pai e filha pela sobrevivência.
Dessa forma, Cargo entrega uma narrativa que mexe com as emoções e inova dentro do grande leque de produções audiovisuais pós-apocalípticas, sem perder muito tempo explicando como chegou até ali, preferindo então usar de seu tempo para criar conexão entre personagem e público, trazendo um olhar mais sensível para a fórmula bem estabelecida dos “filmes de zumbi”.