O ano é 2013, depois do sucesso de crítica e bilheteria estrondoso de The Avengers: Os Vingadores (The Avengers, 2012), deu-se o início da fase dois da Marvel, momento esse que teria o peso de continuar a trajetória vencedora da fase anterior e ainda começar a pavimentar o caminho para os próximos filmes do universo cinematográfico da casa das idéias. Desta forma, ficou a cargo de Homem de Ferro 3 (Iron Man Three, 2013) a missão de dar o pontapé inicial.
Vamos ser sinceros por um momento, Homem de Ferro 2 (Iron Man 2, 2010) foi um bom filme, mas jamais conseguiu atingir o frescor e a excelência do primeiro. Infelizmente Jon Favreau, apesar de ter entregado alguns momentos interessantes (a introdução da Mark IV, da Viúva Negra e do Máquina de Combate ainda se mostraram cenas memoráveis diga-se de passagem), pareceu sem inspiração na direção entregando um produto que ainda divertia, mas carecia de um desenvolvimento melhor.
É neste ponto que Homem de Ferro 3 se mostra um produto mais ousado, bem acabado e com um frescor cheio de reviravoltas que pegaram até os fãs mais xiitas de surpresa. A mudança de direção foi nítida, sai à direção pauleira de Jon Favreau, entra a direção mais leve e dinâmica de Shane Black conhecido por assinar os roteiros dos filmes da franquia “Máquina Mortífera” e por ter dirigido o ótimo Beijos e Tiros (Kiss Kiss Bang Bang, 2005) protagonizados por Val Kilmer e o próprio Robert Downey Jr, para assim injetar fôlego e ainda finalizar a saga solo de Tony Stark nos cinemas.
Para tal feito finalmente veríamos Stark enfrentando seu maior arqui-inimigo nos quadrinhos personificado pela forma do Mandarim (Ben Kingsley, excelente), além de vermos a adaptação para telas do famoso arco Extremis advindo também das HQs. Homem de Ferro 3 é uma continuação direta de Os Vingadores, mas ainda assim é um filme que preocupa-se primeiro em ser uma aventura solo sem muitas conexões com seu universo compartilhado, desta forma, ao contrário de Homem de Ferro 2, este funciona melhor como uma aventura isolada, deixando as conexões em segundo plano, ou apenas demonstradas em breve diálogos.
É claro que a batalha de Nova York não é ignorada no roteiro escrito por Shane Black e Drew Pearce, aliás, a consequência daqueles eventos transforma-se em um pesadelo que passa a assombrar Tony Stark dia e noite, criando uma paranoia e um estresse pós-traumático que o faz ficar obsessivo em construir um arsenal (bem vinda Mark 42) que o deixe preparado para quando uma nova ameaça alienígena volte a acontecer.
O maior trunfo do longa é explorar o homem por trás da armadura de ferro e assim dar espaço para que o personagem entre numa espécie de “jornada do herói” de auto reflexão e auto descobrimento, é neste momento que Robert Downey Jr. se consolida como a figura de Tony Stark, o cara sabe equilibrar muito bem a carga dramática que é exigida dele em alguns momentos, além de mostrar seu carisma e humor habitual, tudo na medida certa.
Talvez a parte mais polêmica desta trama de Homem de Ferro 3 seja todo o mistério em torno da figura do Mandarim, exatamente porque o roteiro escolhe sabiamente em não abraçar o universo místico e ultrapassado que envolve o personagem nas HQs, ao invés disso transforma o vilão numa figura símbolo do terrorismo moderno atualizando a trama centrada em uma ameaça que vem do oriente médio se aproximando bastante no mundo em que vivemos.
Sabiamente Shane Black consegue imprimir bem suas características no longa que é uma aventura natalina (a maioria dos filmes do diretor se passa no período), mas ainda tem sequências de ação de tirar o fôlego (a sequência do Air Force 1 é sensacional e todo o terceiro ato também) como um blockbuster do gênero, além de utilizar-se da propaganda americana da guerra ao terror para fazer uma alegoria inteligente sobre quem realmente comanda a eterna guerra entre aliados versus terroristas numa das melhores reviravoltas que o MCU já presenciou através da revelação por trás da figura do Mandarim.
É claro que nem tudo são flores, Homem de Ferro 3 ainda tem seus problemas, a começar pelo vilão Aldrich Killian (Guy Pearce) que se mostra genérico e previsível, além do que o filme não consegue aproveitar bem alguns atores como Rebecca Hall (no papel de Maya Hansen, antigo interesse romântico do Stark) que mereciam uma atenção melhor, sem falar no arco dos soldados Extremis que apesar de funcionar dentro do contexto, não empolga tanto quanto deveria.
No geral a terceira aventura do latinha de ferro é um ótimo filme, apesar de não ser melhor que a primeira aventura do herói, consegue equilibrar bem ação, humor e uma boa história que na maioria das vezes surpreende por não seguir caminhos óbvios, além de focar bastante na figura de protagonista de Robert Downey Jr. numa jornada bem vinda de crescimento de seu personagem, o roteiro ainda dá espaço também para os personagens de Pepper Potts (Gwyneth Paltrow), James Rhodes (Don Cheadle), Harley Keener (Ty Simpkis, esse garoto é um achado) e Happy Hogan (Jon Favreau) terem seus momentos, junte isso a uma trilha sonora vibrante assinada por Brian Tyler de Guardiões da Galáxia (Guardians of the Galaxy, 2014), ótimos efeitos visuais, uma direção sólida de Shane Black que não fica preocupado em fazer conexões e sim contar uma boa história, e temos assim um final de trilogia bastante sólida que fecha muito bem este capítulo da vida de Tony Stark.
Engenheiro Eletricista de profissão, amante de cinema e séries em tempo integral, escrevendo criticas e resenhas por gosto. Fã de Star Wars, Senhor dos Anéis, Homem Aranha, Pantera Negra e tudo que seja bom envolvendo cultura pop. As vezes positivista demais, isso pode irritar iniciantes os que não o conhecem.