Círculo de Fogo 2: A Revolta – Maior sim, melhor nem tanto

O primeiro Círculo de Fogo (Pacific Rim, 2013) foi um fenômeno para a cultura pop. O filme não fez estrago nas bilheterias nem causou tanta sensação assim entre a crítica especializada, mas abriu caminho e ganhou seu próprio espaço na base da porrada. E não foi pouca porrada, os jaegers e os kaijus lutaram fortemente para deixar sua marca no subgênero “filme de monstro” destacando-se de outros filmes de ação mais genéricos. Mesmo tendo uma história muito simples, Guillermo del Toro, agora vencedor de Oscar de melhor diretor e melhor filme, cuida muito bem para que os personagens, humanos, monstruosos e inanimados, sejam muito bem desenhados e colocados em cena, para que possamos não só identificar qual robô está lutando contra qual monstro, mas também sentir o peso desses seres colossais, ao mesmo tempo que consegue tirar cada gota dramática dos papéis clichês e unidimensionais dado aos atores.

O projeto de sequência, apesar de aguardada pelo público que vibrou com o primeiro, passou boa parte do tempo sendo anunciada, cancelada e anunciada de novo. Isso fez com que alguns nomes importantes se perdessem no meio do caminho, o protagonista da aventura anterior, Charlie Hunnam, e a cabeça criativa por trás de tudo. Depois de algumas negociações, Círculo de Fogo: A Revolta (Pacific Rim: Uprising) não conta com Del Toro na direção, apenas na produção e no lugar de Hunnam entra John Boyega (Star Wars, Detroit) para encabeçar o elenco. A expectativa do público, depois de toda essa dança de cadeiras, ainda existia, mas não era lá das maiores.

Em Círculo de Fogo: A Revolta, passaram-se 10 anos desde que os humanos venceram a guerra contra os kaiju e Boyega interpreta Jake Pentecost, filho do Marechal Stacker Pentecost, o herói de guerra interpretado por Idris Elba no filme anterior, que prefere viver do outro lado da lei, roubando e contrabandeando até ser recrutado por sua meia-irmã Mako (Rinko Kikuchi) para retornar à corporação, unir forças com o ranger Lambert (Scott Eastwood), com quem tem certa rivalidade, e ensinar uma equipe de jovens cadetes a pilotarem jaegers.
E Boyega carrega bem o filme. O ator tem muito carisma, mesmo que não esteja sendo bem dirigido. O timming de comédia do seu personagem não parecia forçado, mas também não parecia muito bem colocado. Como sabemos que ele funciona muito bem em Star Wars, acredito que tenha sido mais a direção que não soube trabalhar direito com ele. Outro feliz destaque do filme é a personagem Amara Namai e a igualmente carismática Cailee Spaeny, que, depois que você aceita uma criança prodígio que constrói e pilota seu próprio jaeger (o simpático Scrapper), se torna uma ótima peça no filme, tornando a dinâmica de relacionamento entre Amara e Jake a grande força desse filme.

É uma pena que as partes louváveis acabem por aqui, a primeira metade do filme apresenta o núcleo de cadetes de Rangers e, apesar de serem todos estereotipados, conseguiram se provar mais interessantes do que o núcleo do que aparenta ser um trio de protagonistas onde só Boyega brilha. Scott Eastwood não carrega nem mesmo o próprio sobrenome, nem suas caras e bocas convencem, quanto mais o que fala e Adria Arjona tem quase nada de espaço e peso, sendo reduzida a uma das pontas do triângulo amoroso mais desnecessário já visto no cinema.

O seu botão de suspensão de descrença tem que estar ligado no máximo o tempo todo e isso é ruim, mesmo num filme como esse, cuja premissa principal é robô gigante vs monstro gigante, o roteiro consegue ser mais fraco do que a atuação do Scott Eastwood (sim, estou falando mal dele duas vezes no mesmo texto, ele mereceu), os vilões e as reviravoltas vão do clichê ao ridículo e a trilha sonora acompanha a confusão de todo o projeto que não parece saber direito no que focar ou o que trabalhar.
As lutas e as cenas de ação compensam? Mais ou menos. Temos mais jaegers, mas eles são estranhamente leves, ágeis e é tanta destruição desnecessária que cansa em alguns momentos, também temos menos lutas contra os kaijus o que nunca é bom para um filme de monstros.

De toda forma, como a expectativa para Círculo de Fogo: A Revolta não era tão grande, não foi realmente uma decepção. Ainda é um filme de pessoas pilotando robôs gigantes pra descer a porrada em monstros e, mesmo que tenham errado em muitas coisas, é bem difícil de errar a ponto de não divertir o espectador num cenário como esse. Deixe o cérebro do lado de fora da sala, vá com muito boa vontade e aproveite o que der pra aproveitar.