Você deveria estar assistindo The Crown

A primeira coisa que posso dizer sobre The Crown (2016 -) é que eu me apaixonei pela série mesmo não sendo uma entusiasta da família real. Não sou de admirar ou idealizar essas pessoas, nem acompanho suas notícias. Foi uma daquelas séries que vi a capa, imaginei o enredo, decidi tentar sem nem ler a descrição e acabei assistindo a primeira temporada em menos de 48h. O resultado foi que quando me dei conta, ao final da primeira temporada eu já estava devorando no Netflix todo o conteúdo sobre esse tema, qualquer que fosse o recorte.
Começando pela intérprete da Rainha Elizabeth II, Claire Foy, que atriz! Me impressionou muito, não só pela atuação propriamente dita, mas como ela consegue realmente passar o peso da personagem, o peso de ser a rainha. Logo, pensa como a rainha, que é herdeira de um trono e responsável por um país e que representa um mundo peculiar para milhões de pessoas. Essa imponência da personagem foi sendo construída, a cada cenário, roupa, olhares, cenhos franzidos e posturas de queixo, visto que a série começa com seu pai, Rei George, ainda vivo e ela adolescente (e dá-lhe elipse!).
Achei também muito interessante como se deu a construção da imagem da família real para mim, pouquíssimo conhecedora desse universo. Foram nomes, posturas, obrigações, atitudes e personalidades que foram sendo apresentadas e incorporadas ao meu imaginário de maneira quase que natural. Escolhi falar sobre mais três figuras que marcam muito o enredo da historia até agora (a 2ª temporada), senão esse texto não teria mais fim.

A família real é uma instituição. Definitivamente não se encaixa nas nossas expectativas divinas ou mundanas de realeza. Não existe um esteriótipo que funcione como uma luva aqui. Ela simplesmente é como é. Algo bastante interessante pra meu aprendizado foi observar a construção do equilíbrio da família real. Essa pra mim é a questão crucial, pois pode absorver intempéries ou ocasionar verdadeiras crises políticas.
Esse equilíbrio é baseado em muitos pontos, desde a sobrepujança da monarquia britânica e do imperialismo como um todo até o simples fato do povo britânico gostar de ter essa figura de sonho, de idealização e grandeza como modelo a ser seguido.
Margaret (Vanessa Kirby) é a irmã mais nova da Rainha Elizabeth, com tecnicamente mais privacidade, mais vitalidade, disposição e fome de reinado que sua irmã. É um personagem bem impreciso, ao meu ver é para demonstrar que a Princesa Margaret também não conhecia a si mesma e, embora a petulância e ambição da personagem digam diferente, Margaret é bastante insegura de si, toda sua autoconfiança é baseada em sua posição.
Phillip (Matt Smith) é uma figura de mudança, de progresso, de atualização, e muito embora venha de uma família real de outro país (Grécia) acaba sendo julgado pela deposição de sua família real. Matt Smith é um ator maravilhoso, já gostava dele como Doctor (Doctor Who), e nesse papel ele consegue passar toda essa atmosfera de mudança de culturas e de precisar ser encaixado e de se encaixar em um papel em que é subjugado, e não tem tanta voz quanto a sociedade dessa época (não só dessa época) dava à figura masculina.
Nesta segunda temporada Claire Foy, surpreendentemente, consegue se superar. Infelizmente não conheço outros papeis dela pra conseguir compara aqui, mas a atuação dela é muito boa e fica aqui a minha dica: Prestem atenção nessa mulher! Eu percebi um grande crescimento do personagem, uma transformação de rainha coroada em soberana, com mais confiança em si.
Na segunda temporada existem muito mais problemas que na primeira, cada episódio é algo diferente. Eu achei um pouco demais, porém creio que os roteiristas da série não quisessem deixar de fora o que os ingleses tiveram que passar nessa época, nem muito menos os problemas da família real. O que eu fiquei sentindo um pouco foi que a série ficou um pouco procedural (cada episódio com um problema diferente) e fiquei no início de alguns episódios esperando a continuação da história passada. Talvez o medo de deixar a série enfadonha e tediosa tenha levado os roteiristas a seguirem esse caminho. Mas sabemos que uma série sobre política e problemas nacionais não precisa ser enfadonha (vide House of Cards)
Em alguns episódios acontece muito de haver uma preocupação com a manutenção da linhagem no poder, sendo a grande preocupação de toda uma geração, pois o colonialismo estava sendo desmanchado pelas colônias, e diversos regimes antes baseados em famílias reais vinham sendo transformados no que diz respeito à dinâmica social e governamental. Há também surgimento/ascensão de ideais mais igualitários na mentalidade popular, entre outras nuances. Tudo isso leva aos personagens, e a nós mesmos durante a historia, pensar “onde fica essa cultura de reverenciar e de ode à rainha?”. Essa questão está em toda essa temporada.
Tenho que dizer que essa série no geral não me decepcionou e que me dá, não só uma fome de assistir mais e mais episódios como também de pesquisar sobre o assunto e sobre os atores. Minha dica pra 2018 é: se você não assistiu ou não terminou The Crown, pode abrir mais uma abinha aqui no navegador – ou o aplicativo, pra quem tiver no celular – e corram para o abraço! (ou para a reverência, no caso).
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The Crown aparece, é claro, em diversas das nossas listas de Melhores Séries de 2017, não deixe de conferir o post.
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Mainna Souza
Estudante de medicina e mãe do Eric. Viciada em séries médicas, filmes de dança e em montar quebra-cabeças. Tem uma bicicleta chamada Bel e vai nela pra qualquer lugar levando uma mochila pesadíssima. É portadora ilegal de um vira-tempo.