Me Chame Pelo Seu Nome – A dor e o prazer de se descobrir apaixonado

Dirigido por Luca Guadagnino; roteirizado também por ele, por James Ivory, Walter Fasano e baseado no romance de André Aciman, Me Chame pelo Seu Nome (Call Me by Your Name, 2017) é um romance protagonizado por Elio (Timothée Chalamet) e Oliver (Armie Hammer).

O filme se passa durante um verão na Itália, em 1983. Elio é um garoto de 17 anos que aparenta ser bem amadurecido para sua idade, por conta da grande influência de seu pai (professor de arqueologia especializado em cultura Greco-Romana) e de sua mãe (tradutora que o instiga à leitura). Mesmo tendo conhecimentos notáveis e possuindo um grande convívio com os amigos de seus pais e um grupo mais velho, Elio ainda é um garoto saindo da adolescência e possui questões não resolvidas. Tudo parece se complexificar com a chegada de Oliver, americano, 24 anos que vai passar parte do verão com Elio e sua família graças à um programa do professor que fornece moradia para estudantes em troca de ajuda em suas pesquisas.

A história pode parecer simples para um espectador desatento, porém o filme trata de temas que são passíveis de identificação por grande parte do público, seja ele LGBTQ ou não. O momento de descoberta da sexualidade, a vivência do primeiro amor e ressignificação do mundo são fases que marcam o engrandecimento pessoal e o amadurecimento da maioria das pessoas. É nesse contexto que acompanhamos as transformações que Elio sofre e como isso o impacta.

Nos créditos iniciais vemos uma série de fotos de esculturas gregas, acompanhadas pelos títulos e ambientados pela sinfonia Hallejuah Junction, de John Adams. A abertura funciona como uma suspensão para ambientar o tom da história para logo em seguida mostrar a chegada de Oliver na casa. É através dessa suspensão inicial e a promessa de possibilidades que o filme se inicia.
Nesse caso, é importante observar como as chegadas podem gerar mudanças, tanto no espaço quanto nas relações que cria. Lembrando o que também acontece no filme Frantz (2016), de François Ozon, com o personagem Adrien (Pierre Niney). É através da chegada desses personagens que as transformações podem ser geradas, aos poucos podemos ver como Oliver ganha forma e se adéqua à casa, chegando a fazer parte da rotina e afetando a todos. Principalmente Elio.
O roteiro é construído através de sutilezas. Um acontecimento gera outro, seguindo uma lógica de ação/reação. A atmosfera estética, em si é muito bonita, os recursos visuais não servem como únicos motivos para fazer o filme valer a pena. Arte e fotografia se utilizam da história para criar um universo que não é apenas atrativo como também possui profundidade e densidade. Isso se mostra nas escolhas de locação, figurino e objetos de cena que conseguem transmitir com exatidão a atmosfera italiana.

Tendo uma perspectiva de comparação entre a obra literária e o filme, acredito que se consegue ter uma dimensão maior dos conflitos do protagonista tendo acesso aos seus pensamentos. Mas em nenhum momento a adaptação deixa de fazer jus ao que Aciman escreveu. O filme em si funciona muito bem e se resolve, tomando decisões que encerram a história de uma maneira muito inteligente.
Por basear-se em conflitos, muito do que era construído no livro, através dos pensamentos de Elio, teve que ser posto no comportamento e atuação de Timothée. Ele está passando por processos de significar o que ele acredita. Afinal, chega a confessar, em uma de suas conversas com Oliver, que pouco sabe sobre aquilo que realmente importa.
O filme não se aprofunda em questões que vão além das motivações pessoais do protagonista. E acredito que essa nem seria a proposta do filme. A história em si se constrói de uma maneira que pode até ser chamada de clichê, porém precisamos de mais clichês que contem as histórias de pessoas LGBTQs. Esse filme é importante não por ter uma história complexa ou de reflexão social, mas por trazer um retrato do que é ser gay e se entregar sem culpa.