O Mínimo para viver (To the Bone, 2017) é um filme distribuído pela Netflix que estreou no festival de Sundance de 2017. O longa é o primeiro da diretora Marti Noxon que tem uma longa e sucedida carreira na televisão, escrevendo, dirigindo e produzindo séries como Buffy – A Caça-Vampiros (Buffythe Vampire Slayer, 1997 – 2003), Angel – O Caça-Vampiros (Angel, 1999 – 2004), Glee: Em Busca da Fama (Glee, 2009 – 2015), etc.
A crítica não tocará em pontos delicados que o filme trata, não me cabe aqui avaliar os distúrbios e os problemas que as personagens têm. Não tenho conhecimento médico para isso, e não seria justo com os leitores e nem com as pessoas que sofrem por isso, portanto minha crítica será apenas aos elementos do filme, linguagem, roteiro, atuação etc.
Começamos pela sinopse básica o filme conta a história de uma garota chamada Ellen/Elie, vivida por Lilly Collins, que tem problemas alimentares e já fugiu e recusou várias clínicas, até que sua família conhece o médico William Beckham, interpretado por Keanu Reeves, um médico que segundo o roteiro apresenta métodos controversos. A partir daí, Ellen/Elie se muda para uma clínica que na verdade é uma aconchegante casa e passa a interagir com jovens e jovens adultos.
Em termos de linguagem o filme é bem decupado e fotografado, há planos lindos utilizando luzes, as cenas noturnas são as que chamam mais atenção. Em termos de enquadramento o filme é competente, entrega o esperado sem surpreender muito seja negativa ou positivamente. A direção de arte também vai por esse caminho, trazendo um misto de cores em determinadas cenas e cores menos saturadas em outras, tudo dependendo dos sentimos que os personagens vão carregando.
As atuações não são primorosas, embora goste de Keanu Reeves, ele claramente está fora de sua zona de conforto e não consegue entregar uma atuação tão boa quanto entregou em outros filmes, ele assume uma figura “paterna” inexistente para a protagonista, mas não se destaca e acaba ficando em segundo plano. O mesmo vale para todas as interpretações adultas desse filme, com exceção feita a um plano que envolve a mãe e a filha em uma cabana, que além de ser um plano forte pelas atuações também é maravilhosamente fotografado. Os grandes destaques vão para Lilly Colins que claramente fez um trabalho de corpo incrível conseguindo transmitir todo o peso da personagem que vive em conflito e para Alex Sharp que vive um bailarino com problemas no joelho e precisa ganhar peso. Eles acabam tendo um interesse amoroso um pelo outro, mas não é o cerne do roteiro.
Ao meu entendimento, o maior problema desse filme é o roteiro, como disse anteriormente, não vou avaliar e nem criticar os distúrbios dos personagens e nem suas consequências, pois não tenho conhecimento para isso, mas sim a estrutura do roteiro e a maneira como os personagens são desenvolvidas e apresentadas a seus dramas.
Meu primeiro grande problema é como a Netflix vem abordando certos assuntos polêmicos atualmente, talvez a grande crítica seja o limiar entre um filme que fale sobre os problemas dos distúrbios alimentares ou o quanto podemos lucrar com isso. O roteiro é inconsistente. Quando Ellen chega na clínica pela primeira vez, a enfermeira diz que conhece já todos os truques que os jovens têm para não comer ou praticar anorexia, mas pouco tempo depois vemos uma colega de Ellen escondendo um saco de vômito debaixo da cama de uma maneira que é fácil de se achar, ou em diálogos mal construídos entre a personagem Ellen e o médico ou até mesmo seu interesse amoroso, Luke (Alex Sharp) um bom personagem, mas de falas horríveis.
O Mínimo Para Viver tinha um potencial enorme para abordar um tema que é visto como tabu ou até mesmo como uma grande besteira por uma parcela enorme da sociedade, mas ele se perde em meio de seu roteiro confuso e inconsistente com personagens planos e sem desenvolvimento, apresentando lampejos de cenas e situações boas, mas que não passa do mais do mesmo, faltando coragem para se aprofundar e desenvolver suas situações e personagens.
Atual Vice-presidente da Aceccine e sócio da Abraccine. Mestrando em Comunicação. Bacharel em Cinema e formado em Letras Apaixonado por cinema, literatura, histórias em quadrinhos, doramas e animes. Ama os filmes do Bruce Lee, do Martin Scorsese e do Sergio Leone e gosta de cinema latino-americano e asiático. Escreve sobre jogos, cinema, quadrinhos e animes. Considera The Last of Us e Ocarina of Time os melhores jogos já feitos e acredita que a vida seria muito melhor ao som de uma trilha musical de Ennio Morricone ou de Nobuo Uematsu.