Kingsman: O Círculo Dourado – A maldição do segundo filme

Kingsman: O Círculo Dourado (Kingsman: The Golden Circle) é dirigido por Matthew Vaughn, também conhecido por dirigir Kick-Ass: Quebrando Tudo (Kick-Ass) e o elogiado X-Men: Primeira Classe (X: First Class). Porém, aqui Vaugh erra a mão e entrega um filme que até consegue empolgar nas cenas de ação, mas que deixa muito a desejar em todo o resto.
Kingsman: Serviço Secreto (Kingsman: The Secret Service) chegou surpreendendo muita gente em 2014, quietinho e como quem não queria nada, estreou e explodiu a cabeça do público, principalmente aquele ávido por cultura pop. A trilha sonora pulsante e a ação bem coreografada e desenfreada, como a famosa sequência da igreja, transformaram o filme em um novo clássico quase instantâneo. Todo esse sucesso gerou muito burburinho a respeito de uma sequência. E, como geralmente acontece com essas sequências de filmes que surpreenderam, foi difícil repetir ou superar o feito, vide Vingadores: A Era de Ultron (Avengers: Age of Ultron) ou Os Guardiões da Galáxia Vol.2 (Guardians of the Glaxy Vol. 2), ambos não necessariamente filmes ruins, mas que acabaram sofrendo nas mãos do “hype” extrapolado. Entretanto, diferentemente dos outros dois, Kingsman merece as duras críticas que anda recebendo.
Quando a base de operações dos Kingsman é destruída e o mundo inteiro corre perigo, Eggsy (Taron Egerton) e Merlin (Mark Strong), os únicos remanescentes, precisam buscar ajuda da organização secreta Statesman, sua equivalente americana, para conseguir combater e derrotar um inimigo em comum. Apesar da sinopse simples o filme opta por abrir diversos subtramas desnecessárias que acabam atrapalhando uns aos outros, não dando espaço para que o grande número de personagens novos apresentados sejam bem desenvolvidos e todos o elenco acaba pagando por isso: Julianne Moore e Jeff Bridges se esforçam e até vão bem, mas são subaproveitados, as participações de Halle Bery e Channing Tatum são muito pequenas e claramente só servem de introdução para um próximo filme da franquia que, francamente, se torna indesejável após o fim deste e o elenco principal não consegue segurar a trama sozinha sem a volta nada surpreendente (porém descartável) do personagem de Colin Firth, o único destaque é Pedro Pascal, que faz um personagem interessante e uma participação especial que é bem bacana no começo, mas infelizmente se torna um recurso usado à exaustão.
Todos os excessos do filme encobrem os pontos altos do mesmo, Vaugh realmente sabe dirigir ação mirabolante, quase cartunesca, mas falta inventividade no restante, assim como foco e equilíbrio. Em alguns momentos parece até que a história vai engrenar em algo, mas acaba escolhendo três outros caminhos diferentes e no final não entrega nenhum. O filme é longo demais, volta demais ao primeiro, inclusive com cenas idênticas, não diverte como deveria, não se decide em que pontos vai tocar de verdade. É como se Vaugh se utilizasse do perfil de filme de paródia e que não se leva tão à sério como desculpa para exagerar em todos os pontos, ele sabe que está lidando com estereótipos e faz questão de mostrar que sabe disso, mas mesmo assim continua não funcionando dentro do filme.
Até os erros do primeiro são repetidos e esticados aqui, o que já não tinha sido necessário retorna ultrapassando todos os limites do bom senso e não atende nenhuma necessidade, é apenas misógina e ridícula, como uma piada que já não era boa desde o começo, mas que dura por muito tempo. Ele acaba entregando qualquer coisa e espera que o público engula por estar dentro de um contexto. Mas a verdade é que o que poderia ter sido uma boa continuação se torna um longa que beira o mau gosto, que não escapa nem como diversão escapista. Kingsman : O Círculo Dourado infelizmente só prova que certos filmes realmente não precisam de uma continuação.