Asgard é um quadrinho francês escrito por Xavier Dorison, com arte de Ralph Meyer, que também fez a colorização juntamente com Caroline Delabie, lançado pela editora Dargaud em duas partes em 2012 e depois em um único volume em 2014.
Ambientado em algum lugar da Noruega da Era Viking, Asgard conta a estória de um “skräeling“, que significa literalmente “homem feio”, assim chamado por nascer com apenas metade de uma das pernas. Ele deveria ter sido sacrificado, já que aquilo significaria que a criança estaria amaldiçoada pelos deuses. No entanto é polpado deste cruel destino pelo pai que se nega a sacrificar a criança e como afronta recebe ainda o nome da morada dos deuses, Asgard. Tais fatos seriam fundamentais para explicar a personalidade e algumas atitudes do protagonista durante toda a estória.
Após esta breve introdução, somos levados muitos anos à frente, Asgard, agora conhecido como “Pé-de-Ferro”, depois de passar por muitas coisas em sua vida, vivia recluso em uma moradia isolada.
A partir daí desenrola-se uma aventura bastante simples. Asgard, entre outras coisas, ganha a vida como “krökkentödter“, um caçador de monstros, indo a uma vila aterrorizada pelos ataques de uma besta marinha. Ele oferece seus serviços em troca de um alto valor, nos apresentando que o protagonista está muito mais para um caçador de recompensas do que um herói lendário aos moldes de Beowulf. Um grupo peculiar é formado, composto por um grande guerreiro da guarda pessoal do rei, uma jovem pescadora filha de escravos, uma forte mulher que perdeu o marido e o filho em um dos ataques da besta e um velho Skald, espécie de contador de histórias da Era Viking.
A personalidade de Asgard, conforme vamos conhecendo-o melhor, bem como a forma como ele lida com certas situações, lembra bastante a personagem de Clint Eastwood em Os Inperdoáveis (Unforgiven, 1992), e consequentemente o Logan na HQ Old Man Logan, um homem já cansado de tudo que viveu, ranzinza e de poucas palavras. Sua relação com a religiosidade, presente em quase todos os outros do grupo, é outra de suas peculiaridades, agindo como um total descrente dos poderes dos deuses em relação aos humanos, um reflexo de sua origem.
Em dado momento da jornada em busca da terrível fera marinha os companheiros de Asgard, e especialmente o Skald passa a acreditar que o monstro trata-se de Jörmundgand, a gigantesca serpente do mundo (ou de Midgard), filha de Loki e derrotada por Thor nos eventos do Ragnarok, o crepúsculo dos deuses, uma espécie de fim do mundo da mitologia nórdica. Assim, o paralelo entre o próprio Asgard e o deus Thor fica bastante claro.
Por fim, Asgard é uma boa leitura para quem gosta do gênero aventura épica, e apesar da simplicidade de sua estrutura, deixando muito a desejar no aprofundamento de seus personagens e focando mais nos acontecimentos em si, traz belas sequências de ação, além claro da incrível arte de Ralph Meyer, nos presenteando com deslumbrantes quadros das paisagens escandinavas. A representação do monstro marinho ganha muito pela simplicidade, em minha opinião, sendo apenas como uma enorme enguia o que poderia ser um espalhafatoso dragão marinho cheio de detalhes desnecessários, isso contribui muito para a credibilidade naqueles eventos, por mais inacreditáveis que sabemos que sejam.
Infelizmente o quadrinho ainda não foi publicado no Brasil, mas pode ser encontrado com certa facilidade pela internet e em português.
Cineasta e Historiador. Membro da ACECCINE (Associação Cearense de Críticos de Cinema). É viciado em listas, roer as unhas e em assistir mais filmes e séries do que parece ser possível. Tem mais projetos do que tem tempo para concretizá-los. Não curte filmes de dança, mas ama Dirty Dancing. Apaixonado por faroestes, filmes de gângster e distopias.