Amityville: o Despertar – Um desnecessário mais do mesmo

A reinvenção, reinterpretação e renovação dos gêneros é algo natural no cinema. Acontece hoje, acontecia décadas atrás e provavelmente vai continuar acontecendo. Claro que as várias peculiaridades que definem cada gênero permanecem, mas ressignificá-los é sempre saudável. Infelizmente não é isto que acontece neste novo Amityville.
De todos os gêneros cinematográficos acho que o terror/horror (algumas pessoas separam as duas categorias) e seus subgêneros são os que mais sofrem com a falta de criatividade. Não estou dizendo que alguns bons filmes não tenham surgidos nos últimos anos, posso até dar exemplos recentes como Corra! (Get Out, 2017), A Bruxa (The Witch, 2015), Corrente do Mal (It Follows, 2014), O Babadook (The Babadook, 2014), só pra citar alguns, mas a quantidade de filmes de terror completamente esquecíveis que são lançados a cada semana é inacreditável, quando não irritante. Sem contar a loucura das sequências e mais sequências, spin offs, sipn off dos spin offs e remakes que só tentam pegar carona no sucesso (muitas vezes discutível) da obra original. E claro que não estou dizendo que este é um problema exclusivo do terror, muitos outros gêneros (talvez os filmes de ação sofram igual ou pior) lutam pra arrecadar uma grana à qualquer custo, entregando filmes feitos claramente de qualquer jeito. Esse é um problema do mercado cinematográfico (nem vou botar toda a culpa em Hollywood pra não me tornar repetitivo). É aquela coisa, se tão fazendo é porque tem quem assiste. Eu por exemplo, dei meu raro dinheirinho e meu mais raro ainda tempo pra ver este… não sei nem como chamar isso.
O caso de Amityville: o Despertar (Amityville: Awakening, 2017) é só mais um desses pra botar na conta. Dando uma pesquisada rápida você vai ver que existem desde o primeiro Horror em Amityville (Amityville Horror, 1979) pelo menos dez, isso mesmo DEZ filmes relacionados a esta mesma história, entre continuações, remakes e releituras (e certamente o número real deve ser maior). Os filmes por sua vez partem da premissa do livro de mesmo título lançado em 1977 por Jay Anson. O enredo segue a velha estória da casa mal assombrada que é ocupada por uma inocente família desavisada… e acho que isso pode ser basicamente o resumo dos dez filmes.
Neste novo filme a única mudança de destaque em relação aos outros (eu só vi o primeiro e o terrível remake de 2005 com o Ryan Reynolds) é que o membro da família que será possuído e tentará matar todos os outros é um jovem que está em estado vegetativo. Ponto. No mais o filme é um mais do mesmo sem tamanho e é até engraçado quando, ao tentar criar uma metalinguagem meio tosca, alguns personagens do filme assistem o original de 1979 dentro da casa onde os “eventos” aconteceram, e ainda mais engraçado quando um deles comenta que “remakes são sempre ruins”.
Foi uma pena ver jovens atores que têm até obtido razoável sucesso em seus últimos trabalhos, como Cameron Monaghan (o rapaz em coma) e Thomas Mann, tendo praticamente seus talentos desperdiçados neste filme, mas nada supera o desperdício de ter uma atriz do calibre de Jeniffer Jason Leigh, indicada merecidamente aos Oscar por seu papel em Os Oito Odiados (The Hateful Eight, 2015), entregando uma interpretação um tanto quanto morna, muito mais por culpa do terrível roteiro pessimamente construído do que da atriz. E aqui chegamos a Bella Thorne, atriz que interpreta a protagonista e irmã gêmea do rapaz em coma, Bella, e talvez a única do elenco que consegue estar à “altura” do filme, e dessa vez nem vou culpar o roteiro. Thorne parece incapaz de demonstrar a menor emoção em tela, nem mesmo o medo, que presumo seria essencial em filmes do gênero.
Assim, as duas únicas conclusões que pude chegar ao final da sessão foram: “pra quê isso?” e “quando vou ter esse dinheiro e tempo de volta?”.