Batman: a piada mortal – O filme

 

Os anos 80 foram um marco para os quadrinhos, nessa década surgiram grandes romances gráficos que ditaram o rumo e tom que se seguiria dali em diante. Tivemos muitos heróis que foram remodelados, na Marvel tivemos o Demolidor – um herói de terceiro escalão que estava quase saindo de circulação – quando Frank Miller dá a ele um novo e gigantesco sucesso com grandes histórias e arcos dramáticos bem fechados; na DC Comics, o Batman foi o grande herói a ser remodelado, vindo de um período de histórias voltadas para o humor, esses quadrinhos eram amplamente influenciados pelas séries de TV dos anos 60, o mesmo Frank Miller que deu um novo significado ao Demolidor trabalhou com Batman, criando assim os excepcionais Batman: Ano Um e Batman: O cavaleiro das trevas; outro grande artista de destaque por trabalhar com o homem-morcego é Allan Moore que, anteriormente, havia trabalhado em Watchmen.

 

 

Allan Moore foi responsável por entregar uma das histórias mais pesadas e sérias do Batman, A Piada Mortal. Seu impacto foi tão grande que ele foi o único que tentou trabalhar com a origem do Coringa e sua trágica história de um comediante malsucedido até um ordinário bandido que, ao fugir do Batman, sofre um acidente e acaba desfigurado. Além dessa história pesada, o romance gráfico trabalha com temas como loucura, tortura, assassinato etc. Questões morais são levantadas como a necessidade do Batman de matar ou não, e como isso afeta a ele, se ele matasse seria tão louco quanto o Coringa? Essas questões permeiam toda a obra fazendo dela um dos quadrinhos mais queridos entre os fãs do homem-morcego e de apreciadores de Hqs em geral.

 

Em 2016, a Warner animations e DC Comics resolvem animar esse cânone do mundo dos quadrinhos. O filme tem aproximadamente 76 minutos, ele é facilmente dividido em duas partes. A primeira meia hora é uma aventura da Barbara Gordon como Batgirl e mostra seu relacionamento com o Batman; o restante do filme é a piada mortal em si. O grande problema dessa animação é a adaptação do roteiro. Aparamente, para suprir uma necessidade de gerar uma empatia maior entre a Batgirl e o Batman, foi criada essa história inicial, ao meu ver equivocada.
Equivocada não por ser uma história da Batgirl, já que nos últimos anos os quadrinhos dela são um dos que possuem o enredo mais bem elaborado e interessante de se ler, com boas histórias e bons personagens, ela em si é uma excelente personagem. Acho equivocado porque diante de um leque imenso de boas histórias para criar essa empatia com o público, o roteirista opta pelo mais óbvio, raso e sem sal: Ela ter um interesse amoroso no Batman. Interesse amoroso que se concretiza em uma relação carnal entre os personagens, sim eles fazem sexo, em mundo que cada vez mais se evidencia uma luta por direitos iguais e empoderamento feminino, a animação dá um tiro no pé ao simplificar a relação deles a essa ação.
A segunda parte do filme, que se inicia logo quando a Barbara Gordon decide não ser mais a Batgirl, é a adaptação do romance gráfico em si. Nessa segunda parte até que o filme é bem fidedigno ao quadrinho, mas ainda assim problemático. Achei os traços da animação ruins, eles tiram o peso das cenas, não sei se porque estou acostumado com a Hq do Allan Moore, mas o filme não me impactou tanto. O coringa não pareceu tão louco sádico, o Batman não tão ameaçador, a única cena mais pesada é a que envolve a Bárbara Gordon com o tiro e o Comissário Gordon no parque de diversões. A bem verdade, essa segunda parte é bastante prejudicada pela insossa primeira parte da animação e relaciono, também, essa falta de impacto justamente por conta dos traços da animação, já que quando assisti Batman: Ano Um e Batman: O Cavaleiro das trevas eu fiquei extremamente impactado com os filmes, pois eles eram violentos, secos e representavam fielmente os quadrinhos que foram inspirados.
Por fim, Batman: A piada mortal não é a pior animação da DC Comics, mas certamente é a que mais me desapontou por justamente se tratar de uma das melhores histórias já escritas em um quadrinho. Sua parte inicial e seus traços me incomodam muito, uma pena, pois se fosse mais bem elaborado estaríamos diante de uma animação tão épica quanto as que foram adaptadas das obras de Frank Miller.