Warcraft: O Primeiro Encontro de Dois Mundos – Um reencontro com Azeroth

 

[NÃO CONTÉM SPOILERS]

Em meados de 2010, se não me engano, fui convencido por alguns amigos a jogar junto com eles um jogo online, mais como forma de nos divertir juntos do que qualquer outra coisa. No início fiquei meio receoso, sempre gostei de vídeo games, mas sempre havia jogado em consoles, minha habilidade com jogos de computador na época não ia muito além de Paciência e Pokemon, que eu jogava em um emulador de GBA que consegui com um amigo, além de uma ou outra partidinha no modo campanha de Age of Empires II, mas nunca fui bom com teclado e mouse. Minhas mãos já estavam moldadas aos joysticks, cheguei até a adquirir uma L.E.R. (Lesão por Esforço Repetitivo) de tanto jogar Guitar Hero. Entretanto acabei dando uma chance para o tal jogo online. Em pouco tempo já estava completamente apaixonado, não só por ser uma maneira incrível de se divertir com amigos, mas também pela grandiosidade do game.

Para quem nunca jogou World of Warcraft (WoW para os íntimos) vou tentar explicar em poucas palavras e da forma mais simples possível. WoW é um MMORPG, sigla para Massively Multiplayer Online Role-Playing Game, ou seja, é uma espécie de RPG jogado online com muitos jogadores do mundo inteiro, lançado pela Blizzard Entertainment, em 2004. Nele, você inicia criando e nomeando um personagem com o qual viverá as aventuras que o jogo irá proporcionar e, desde já, as possibilidades são inúmeras, pois você pode escolher uma facção entre duas (Aliança e Horda), uma raça entre muitas possíveis e uma classe entre muitas possíveis, além, é claro, da aparência física de seu personagem. Ao começar a jogar percebi que estava entrando em um universo que já tinha uma imensa história anterior que faria parte do contexto de tudo que eu iria viver dentro do jogo.

Aos poucos fui pesquisando (as vezes com informações contidas dentro do próprio jogo) como a história daqueles seres tão diferentes entre si chegou até ali e conversando com meus amigos soube que tudo começou muito antes do próprio jogo em si, com três jogos anteriores (que antes não eram ainda MMORPG, mas jogos de estratégia em tempo real) Warcraft I, II e III, sendo o WoW uma continuidade das histórias destes. Conforme fui jogando fui também me encantando cada vez mais com as história do jogo e como elas formavam um universo riquíssimo e imenso, o que para uma pessoa que nunca havia jogado nenhum RPG de mesa na vida (me julguem) criar uma personalidade para meu personagem (jogava com um troll, caçador chamado Viggo… saudades) e passar por todas aquelas aventuras e descobertas junto com meus amigos foi uma das melhores coisas que poderia ter experimentado durante a adolescência.

E obviamente que durante todo esse tempo nós sonhávamos com uma adaptação para o cinema daquelas histórias incríveis que descobrimos no jogo, ao mesmo tempo em que tínhamos certeza que isso seria impossível de ser feito de uma maneira que ficasse, no mínimo, interessante. Claro, as histórias que o jogo construíra até ali eram complexas e vastas demais para serem exploradas no cinema. Além do mais todos sabem que até hoje não houve sequer uma adaptação de game para o cinema que agradasse nem mesmo o público em geral, quanto mais aos jogadores. Por isso que quando um filme baseado no universo de Warcraft foi anunciado eu e meus amigos tivemos primeiro um brevíssimo momento de alegria tremenda e logo depois um grande saco de angústia, descrença e medo foi derramado sobre nossas cabeças.

Acompanhamos o longo período de produção do filme bem de longe, como quem não quer nada, mas cada vez que uma arte conceitual ou um modelo de arma ou vestimenta, que são características muito significativas dos jogos, aparecia uma pontinha de esperança brilhava, esperança de que pelo menos visualmente o filme seria respeitoso à franquia de games e quando Duncan Jones foi anunciado para a direção, confesso que fiquei animado, pois apesar da pouca experiência, foi o responsável pelo excelente Lunar (Moon, 2009).

Mas então chegou o dia. Fomos ver o filme sem muita pretensão, mas ainda assim ansiosos. Sabíamos que poderia vir uma bomba enorme pela frente. E felizmente estava errado.

Logo na cena de abertura temos uma breve iniciação àquele universo, ficamos sabendo que aquela é uma história sobre o início de uma guerra e para quem conhece os jogos sabe que trata-se da história contada no primeiro jogo da série. A partir de então tem início uma trama complexa sobre o desenrolar deste conflito e logo percebemos que vai muito além de uma luta entre o bem e mal ou o lado certo e o errado, afinal nenhuma guerra é apenas sobre isso, muitos interesses escusos e paixões, muita ganância e loucura a compreendem.

O desafio de uma adaptação deste tipo é agradar tanto aos fãs da obra original quanto as pessoas que nada conhecem dos jogos, mas em nenhum momento o roteiro simplifica ou apresenta de modo didático suas questões e, talvez por isso, creio que ambos os tipos de expectadores se sentirão satisfeitos e contemplados. O filme jamais traz referências que possam atrapalhar o entendimento da história ou que sejam, de alguma forma, gratuitas, mas ainda assim os jogadores mais atentos não deixarão de perceber várias delas trazidas de forma sutil, seja um detalhe no canto do cenário ou um ou outro personagem que aparece em segundo plano na história, mas que sabemos que terá enorme importância no desenrolar dos fatos na história daqueles universo. É indiscutível que pessoas que realmente jogaram ou ainda jogam (e o diretor Duncan Jones disse em entrevista ser um jogador inveterado) os games estivessem envolvidos no processo de criação e produção do filme.

Visualmente o filme é um show à parte. Os efeitos de captura de movimento, bem como os cenários, tanto nas sequências de ação quanto nas que exigem uma maior dramaticidade são nada menos que deslumbrantes, me tranquilizando de um dos meus maiores temores quanto ao resultado do filme, que era o de seu visual ser tosco tomando a atenção do espectador da história para os (d)efeitos esdrúxulos, mas muito pelo contrário, em momento algum, em minha imersão, duvidei de que os orcs que ali estava vendo eram de carne e osso tanto quanto os atores que interpretavam os humanos. Detalhes de movimentação dos rostos, expressões faciais e pequenos gestos de mãos me deixaram realmente impressionados como a muito tempo não havia ficado em relação a efeitos visuais  em filmes. Os cenários não deixavam nunca a desejar, cheguei a sentir saudade de caminhar ou voar por Azeroth resolvendo missões e mais missões e até mesmo a trilha sonora, épica na medida do necessário, me fez recordar meus dias como Viggo.

Ao fim do filme fica clara a intenção de dar continuidade à história daquela guerra, é evidente que aquele é um filme pensado para ser o primeiro de uma série e, pelo menos da minha parte, muitos outros podem e precisam vir, pois ainda há inúmeras histórias a serem contadas. Assim, digo que o maior mérito de Warcraft, com certeza, foi ter percebido a grandiosidade daquele universo e ter tentado respeitá-la da melhor maneira possível.


Dedico este texto aos meus amigos Ceroto (Ricardo), Millhouse (Thiago), Godrickalin (João Paulo), Itim (Ítalo), Sabido (Rafael), Brudvant (Kelvin), Dahvee (David “melhor pessoa” Maia), Flatulêncio (Vladerson) e Willjuh (Wilson Júnior). Vocês moram no meu coração.