Como uma Criança e seus Presentes

 

O Cinema é e sempre foi uma das coisas mais importantes da minha vida.
Inicialmente apenas como forma de diversão, estimulada pelo meu pai, com suas dezenas de fitas VHS gravadas com filmes que passavam na TV. Cheguei a ver “Parque dos Dinossauros” e “Máquina Mortífera 3” umas 30 vezes ou mais entre os meus sete e dez anos de idade. Também nesse período minha mãe me levou pela primeira vez ao Cinema, um Cinema com “C” maiúsculo, pelo menos naquela época (hoje infelizmente não funciona mais), o belíssimo Cine São Luiz no Centro de Fortaleza. Assisti “O Noviço Rebelde”, do Renato Aragão. Não é um baita filme, lembro que o prédio do Cine e o tamanho da tela me impressionaram mais do que o filme em si. Claro, era um menininho de 8 anos que acabava de chegar do interior.
Aos poucos, nem sei bem como, o interesse foi crescendo cada vez mais. Aos quatorze ou quinze anos comecei a guardar as entradas de cinema, o que faço até hoje, pelo menos quando dá, aqueles papeizinhos tipo comprovante de compra são osso de guardar. Ia ao shopping pelo menos uma vez por semana, às vezes sozinho mesmo, e comecei a criar uma paixão até mesmo psicótica. Achava o máximo quando ia assistir um filme com meu pai e dava “pause” para listar os filmes anteriores que os atores haviam feito. Meu pai é um inveterado fã de ação e “bang bang”, talvez o que me faça amar esses dois gêneros como se tivesse a mesma idade dele.
Comecei a, sem querer, decorar os nomes dos atores e atrizes. Foi quando descobri os diretores e os roteiristas, e quando percebi que cada um tinha seu próprio estilo e marca registrada, já era tarde, me apaixonei de vez. Daí para descobrir a montagem, a fotografia, a direção de arte foi um pulo. E aí o cinema já não era mais apenas uma diversão pra mim, era uma parte da minha vida, foi o que me fez ver o que era arte. Eu já não conseguia ver um filme observando apenas seu enredo e seus efeitos especiais, era muito mais do que isso. Depois veio a era da internet com suas quase infindáveis possibilidades, e é claro, eu virei um baixador inveterado, o que felizmente me possibilitou ver filmes que eu não encontraria facilmente em qualquer locadora. Via filmes de todos os tipos, todos os gêneros, antigos e novos.
Não fiz faculdade de Cinema e Audiovisual por um triz, dois anos para ser mais exato, entre 2008 quando eu entrei no curso de História da UFC e 2010 quando foi criado o curso de Cinema na mesma Universidade. Mas ao contrário do que se pode imaginar, a História me fez perceber o cinema (além de outras formas de artes) de uma maneira, para mim, antes nunca percebida. A História me fez olhar para a razão social do cinema, a força que as imagens exerceram na construção da nossa e de outras sociedades. A História me possibilitou falar de Cinema na sala de aula (o que meus alunos sabem que eu adoro), usar filmes para entender a sociedade, não só vendo o filme por ver, mas analisando sua construção, as intencionalidades inseridas em sua montagem e em sua narrativa, incentivo meus alunos a serem críticos, a serem curiosos.
Desde o blockbuster milionário até o chamado (preconceituosamente) cinema de arte, passei a amar a sétima arte como parte integrante e de suma importância na minha vida. As vezes me flagro sendo um tanto quanto romântico demais, às vezes cético ou chato demais, tenho diretores que amo e outros que detesto, atores que me fazer pular de alegria toda vez que sei que estarão em um novo filme. O cinema, mais do que qualquer coisa, me faz emocionar, chorar, ter raiva, tanto com o enredo, como com as atuações, a montagem, o posicionamento de uma câmera, uma trilha sonora ou uma fotografia. Mas acima de tudo o Cinema me faz sonhar. E faço questão de abrir infatigavelmente todos os misteriosos presentes contidos nestes sonhos, como a criança que fui a poucos anos atrás, mas que lá no fundo ainda sou.
Elvio Franklin, 27/08/2013
Peço licença para postar aqui o link do texto de um cara que admiro bastante e que também me ajuda constantemente a olhar o Cinema com o olhar de um apaixonado, texto este que me incentivou a dar este humilde depoimento. E aproveito pra agradecê-lo. Valeu Pablo Villaça.