A terceira temporada de One Day at a Time (2017 -) foi produzida pela Netflix, e foi ao ar em 2019 no serviço de streaming, antes de seu cancelamento. Em sua terceira temporada a série continua explorando mais os seus personagens e seus dramas, tanto familiares quanto para com a sociedade. Num terceiro ano, contando com treze episódios, a temporada retrata a expansão da família Alvarez além de novas aparições especiais.
No primeiro episódio da temporada os Alvarez lidam com a perda de uma tia, irmã de Lydia (Rita Moreno), e um funeral cubano contando com a presença de familiares distantes. Para uma série capaz de lidar com drama em comédia, um dos episódios mais recheados de humor é a abertura da temporada, que conta com as participações especiais de Gloria Estefan, Melissa Fumero e Stephanie Beatriz. A voz de Estefan já era presente desde a primeira temporada da série em sua abertura, na qual ela fornece seus vocais.
Num episódio recheado de humor sobre costumes cubanos e as tradições familiares, as personagens com aparição especial conseguem deixar sua marca na série durante o terceiro ano. Além de explorar a relação de Lydia com sua irmã Mirtha (Estefan), o episódio reúne Penelope (Justina Machado) com Estrellita (Melissa Fumero), sua amiga de infância. As relações são muito bem trabalhadas durante o episódio de vinte e seis minutos, contando com uma química presente nas personagens capaz de causar inúmeros momentos de humor.
Para além de tudo, a personagem de Stephanie Beatriz se apresenta como Pilar, membro da família que Elena (Isabella Gomez) suspeita ser lésbica. Através do episódio a personagem mais jovem se esforça para fazer a personagem de Beatriz se assumir para a família, gerando inúmeras situações e diálogos cômicos. É inclusive esse enredo capaz de render a maior e mais surpreendente reviravolta do episódio. Como fã de Brookly Nine-Nine (2013 -) é muito divertido ver Beatriz e Fumero na série com participações especiais tão marcantes.
No episódio podemos mergulhar mais na interação e nos costumes da família a qual acompanhamos há três temporadas. Assim como a multiplicidade de diferentes personalidades dentro de uma mesma família e suas animosidades. Dentre as piadas recorrentes do episódio uma das mais engraçadas é como a família reage à homossexualidade das pessoas. O episódio é de fato um grande destaque na temporada por ter tantos personagens e comediantes tão boas as interpretando e interagindo.
Dentre os importantes tópicos abordados nesta temporada está o machismo e como ele afeta as mulheres na sociedade. As vivências das três gerações de mulheres da família Alvarez são postas em perspectivas através de uma conversa em família com fito de ensinar ao mais jovem da família, Alex (Marcel Ruiz), sobre masculinidade tóxica. Mais uma vez a série consegue abordar temas extremamente importantes de forma mais leve, sem perder o timing cômico ou a seriedade dos tópicos.
A terceira temporada é capaz de dar mais foco e história a personagens como Dr. Berkowitz (Stephen Tobolowsky), cuja relação com a família Alvarez – e Schneider (Todd Grinnell) é mais explorada. Ir para além de sua ‘amizade’ com Lydia é um marco, além de se aprofundar na sua relação com as filhas tão mencionadas pelo mesmo. Outra história e interação a muito mencionada é a de Schneider com a presença de seu pai Lawrence (Alan Ruck). Um dos plots mais pesados da trama na terceira temporada é como Schneider é afetado pela presença do seu pai e sua batalha para se manter sóbrio.
Além dos já introduzidos e estabelecidos membros da família Alvarez, mesmo os brancos e sem laços sanguíneos, temos a presença de Sheridan Pierce como Syd – personagem não binárie com quem Elena namora. Em sua primeira aparição na temporada o casal se mostra tentando pensar em apelidos românticos de Elena para Syd que não invalidam sua não binariedade. A relação do casal também passa por um grande passo ao longo da temporada, pelo qual Penélope tem certa dificuldade de processar.
Ainda na temporada recheada de participações especiais e maior expansão da grande família Alvarez, temos a presença de Tito (Danny Pino). Tito é o irmão de Penelope e filho de Lydia, cuja a presença em um episódio é o suficiente para explorar a relação do trio e a rivalidade entre os irmãos. Família é um termo frequente na terceira temporada de One Day at a Time, um termo nem sempre relacionado aos laços de sangue entre seus membros mas sim ao sentimento.
O episódio mais importante e talvez doloroso da temporada, em minha opinião, é o penúltimo dirigido por Gloria Calderón Kellet – também criadora da série – e escrito por Dan Signer e Andy Roth. Um episódio especialmente dramático pelo seu enredo mas também pela forma como concretiza o sentido de família dentro da série. Levantando questões sobre a relação de pais e filhos, e mães e filhas, cujos demais episódios são permeados. Mais uma vez, sangue não é o que faz uma família, o amor é o que faz.
Ao longo dos episódios finais da temporada a série se permite uma conclusão, satisfatória até caso fosse essa a última. Enredos presentes desde a primeira temporada puderam ser concluídos de forma agradável e satisfatória. Mesmo assim, os personagens presentes na série deixaram um gosto de ‘quero mais’ e após o cancelamento pela Netflix o canal Pop renovou a série. Assim, One Day At a Time foi o primeiro seriado original da Netflix a ser revivido por um canal de exibição de TV tradicional.
As três primeiras temporadas de One Day at a Time estão disponíveis no Netflix.
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Cineasta graduade em Cinema e Audiovisual, produtore do coletivo artístico independente Vesic Pis.
Não-binarie, fã de super heróis, de artistas trans, não-bináries e de ver essas pessoas conquistando cada vez mais o espaço. Pisciano com a meta de fazer alguma diferença no mundo.