Imagina eu e você, você e eu. Quem sabe? O amor atua de diferentes maneiras pra tirar água de pedra, mas quando já estamos ali aproveitando o que jamais imaginaria ao lado da pessoa amada, se torna maravilhoso pensar como foi bom viver todas as coisas. Unindo dois gêneros, a comédia romântica visa falar de amor com muito humor para quem aprecia essas duas categorias cinematográfica. Rir e torcer para o beijo na chuva antes dos créditos levava qualquer um a loucura junto a sensação de satisfação com o “felizes para sempre”. Pensando nisso, há mais ou menos um ano, a Netflix tem investido em produções para o subgênero, o que nos traz ao longa nacional Ricos de Amor (2020) que, com toda amostra de brasilidade, foi só mais um filme americano.
Você já assistiu a esse filme. Seguindo a fórmula, vamos sempre acompanhar o cupido unir os pombinhos de formas improváveis e mirabolantes: depois da primeira vista, não será nada fora do comum ter 99% de chance de esbarrar com a pessoa na rua, no trem, numa festa; o esforço radical da pessoa para mudar o que tentou por anos, apenas em uma semana pelo amor, ou alguém mudar por se apegar. Correr para o aeroporto ou estação rodoviária para a declaração belíssima antes que o grande amor da vida se mande para outro estado. A mentira para impressionar, apaixonar-se pela pessoa que está prestes a casar, sem falar quando o personagem se mantém trouxa o tempo todo e, por fim, faz a descoberta de quem realmente era o pretendente e ainda assim ficam juntos.
Se estas descrições soaram mais que familiares, imagine a que um playboy, mimado – a ponto de nem saber usar uma impressora – e mulherengo, prestes a se tornar herdeiro da fábrica de tomate de seu pai, decide mentir sobre ser rico para conquistar uma encantadora jovem estudante de medicina. A história do cara que quer mudar da água para o vinho porque ela é demais e diferente de todas que conheceu? Para Teto (Danilo Mesquita) não importa quem seja arrastado para sustentar a enganação se no final Paula (Giovanna Lancellotti) for convencida da paixão.
O que poderá surgir de uma trama que tem facilmente um início, meio e fim pré-cogitado? Felizmente, a escolha do elenco garantiu carisma e desenvoltura para as sequências com efeitos presumidos na tentativa de transmitir humor, tensão e drama: há momentos tão exagerados e voltados ao ridículo, jogados apressadamente na montagem que levam a reflexão esdrúxula da escolha de inserir tais cenas para caberem a fórmula que se baseia. Assim, Ricos de Amor segue a risca as passagens atrapalhadas espelhadas a personalidade do Rei do Tomate, o Teto, que tanto quer se provar diferente para namorar uma mulher.
Mesmo com as diversas conveniências para fazer valer a proposta da comédia, o filme dirigido por Bruno Garotti aproveita da melhor forma os personagens que compõem essa teia de mentiras: os caprichos egoístas de Teto que trazem resultados negativos até saber planejar com empatia; a forte determinação de Paula, aliada a um perfil empoderado e decidido, assim como Munique (Lellê) que partilha da mesma linha de personalidade que Paula, ambas dominando a representação de mulheres com voz em meio a casos de machismo e assédio no local de trabalho. O que também pontua o destaque do elenco é o quanto se mostram empolgados pela brasilidade que caracteriza o longa: o funk, as músicas, as gírias, o Rio de Janeiro.
Apesar da forte inspiração com a mesmice, Ricos de Amor se arrisca ao evitar um triângulo amoroso no estilo “eu estava aqui o tempo e só você não, enquanto estava com outro” ao debater sobre assédio longe do quesito humorístico, fazendo um relato importante de como o indivíduo atua moral e fisicamente, intimidando e coagindo a vítima, levando ao desconforto e excedendo limites.
Não há comédia romântica sem o final clássico de que, independente das circunstâncias, a união dos apaixonados se faz possível. Não há comédia romântica sem o jeito desengonçado do amor acontecer. Não há comédia romântica sem toda junção de eventos que cooperam para o romance que está no ar, por isso. Ricos de Amor se joga, abraçando as manhas, o ridículo, a tabelinha de coisas que não poderiam faltar no subgênero, realizando a versão brasileira de clichês americanos. Tá vendo aquela lua que brilha lá no céu? Se você me pedir, eu vou buscar só pra te dar…
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Ama ouvir músicas, e especialmente, não cansa de ouvir Unkle Bob. Por mais que critique, é sempre atraído por filmes de terror massacrados. Sua capacidade de assistir a tanto conteúdo aleatório surpreende a ele mesmo, e ainda que tenha a procrastinação sempre por perto, talvez escrevendo seja o seu momento que mais se arrisca.