Normalmente não tenho muita paciência para assistir a reality shows. O único que acompanhei fielmente, até então, foi Masterchef Brasil (2014 -), porque entretenimento e comida combinam demais. Porém, um belo dia eu estava procurando algo para ver na Netflix e me deparei com o trailer de um reality que me chamou a atenção. Eu estou falando de The Circle (2020 -), uma competição onde os participantes interagem apenas por uma rede social chamada Circle. Os integrantes precisam se tornar populares entre os demais para se manterem no jogo e, assim, levar o prêmio máximo em dinheiro. Para alcançar esse objetivo, os jogadores podem utilizar diversas estratégias, sendo possível até criar uma outra identidade dentro do jogo. Isso mesmo, eles podem criar perfis fakes (alô, orkut? Está vendo isso?).
O formato teve origem no Reino Unido, com uma primeira versão exibida em 2018. Atualmente, o reality conta com uma edição norte-americana e uma edição brasileira, lançada no dia 11 de março e apresentada pela atriz Giovanna Ewbank. Mas não para por aí. Uma edição francesa do reality já está com data marcada para estreia na Netflix: 09 de abril.
Logo de cara, The Circle me lembrou muito de Nosedive, o primeiro episódio da terceira temporada de Black Mirror (2011 -), onde a avaliação do perfil das pessoas nas redes sociais influencia diretamente seus status socioeconômicos. Mas o reality, apesar de utilizar essa premissa da popularidade, tem um desenvolvimento mais leve e, em muitos momentos, até cômico.
Ainda tá confuso, né? Calma que eu vou explicar direitinho como o programa funciona. O jogo começa com 9 participantes que são confinados em um mesmo prédio, porém, obviamente, eles não se veem pessoalmente. Cada um fica isolado dentro do seu apartamento e a única maneira de interagir com os outros jogadores é através da rede social Circle, ativada por comando de voz. Dentro do Circle, os participantes criam seus perfis, que podem ser verdadeiros ou não, adicionam fotos e atualizam status. Através dessas informações, das dinâmicas propostas pelo jogo e das conversas nos chats – abertos ou privados – os jogadores precisam se mostrar convincentes e conquistar a sua popularidade. A cada dia os integrantes precisam realizar uma avaliação onde julgarão os demais em uma espécie de ranking de popularidade. Depois que todos respondem, o ranking é divulgado. Os dois jogadores mais populares se tornam os influencers e, juntos, devem escolher e bloquear (eliminar) um dos participantes do reality.
O jogo é cheio de surpresas. Uma das mais interessantes, tanto para quem assiste, como para quem está jogando, é o fato da pessoa bloqueada poder visitar outro participante antes de ir embora. Os jogadores ficam ansiosos pensando em quem a pessoa irá escolher visitar e se ela realmente é quem diz ser. Nós espectadores, como já sabemos quem é quem, ficamos ansiosos para ver a reação dos integrantes a cada revelação.
Imagina se um dia você acorda, abre uma de suas redes sociais e dá de cara com uma pessoa lá na sua lista de amigos que você não faz a menor ideia de quem seja e como ela apareceu lá. Estranho né? Bom, no The Circle é exatamente isso que acontece. Após um bloqueio, um novo participante é adicionado ao jogo sem que os outros saibam. E a revelação pode acontecer quando eles acordam, durante uma festa, durante um jogo. Enfim, a qualquer momento. Mas isso não dura para sempre, tá? Chega um momento do jogo que não entra mais ninguém. Caso contrário, seria um circle sem fim kkk.
Em relação aos participantes, o jogo é recheado de estereótipos. Tem nerd viciado em jogo, tem hétero bombado, tem tiozão, tem a carioca que adora dançar. Mas tem muita representatividade também. De culturas, de sotaques, de corpos, de sexualidades. A escolha do elenco brasileiro parece seguir um padrão parecido com o dos Estados Unidos, o que dá abertura para muitas comparações. Se você assistir o norte-americano primeiro, provavelmente vai achar que o brasileiro é uma cópia deslavada, mas mesmo se for, não deixa de ser bom. Acredito que a principal diferença entre as duas edições seja o jeito de jogar dos participantes. Na versão dos EUA, os participantes parecem estar menos focados em estratégias de jogo e mais em se mostrarem verdadeiros (mesmo que não sejam 100%) e serem aceitos pelos outros. Já os brasileiros buscam o tempo todo formar alianças para crescer cada vez mais dentro do jogo e promovem, pelo menos no começo, uma caça aos fakes. Os participantes, durante conversas e postagens, usam e abusam de emojis e das famosas (e irritantes) hashtags. Acho que o uso de hashtag estava como obrigatório no contrato, não é possível.
De maneira geral, é muito interessante assistir ao reality e esse formato prende bastante a atenção. É quase um estudo antropológico. É como diz o título desse texto: nem tudo é o que parece. Nós sabemos quais participantes estão sendo eles mesmos e quais estão fingindo, mas muitas vezes os fakes podem ser mais sinceros do que os verdadeiros; uma só mensagem pode ser interpretada de diferentes maneiras por cada pessoa; curtir ou não um status pode ser motivo suficiente para alguém ser considerado como falso ou honesto. Sem contar que é bem divertido ver as pessoas achando que sabem o que está acontecendo. Vale a pena conferir qualquer uma das edições se você estiver procurando uma dose de entretenimento leve, com um toque de diversão e uma pitada de torta de climão. Mas cá entre nós: eu prefiro a brasileira.
Formada em Cinema e Audiovisual Carlini, ou “Carolcol” para os íntimos, é animadora, roteirista e dona das melhores tiradas no site Twitter. Por fora parece a Docinho mas por dentro é a Lindinha das Meninas Super Poderosas, inclusive no tamanho. Carol é a única pessoa do mundo que nunca viu Dragon Ball e não entende quem não acha graça no Último Programa do Mundo.